Capítulo 15

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Era até impossível dizer que aquela noite Maite conseguiu pregar o olho, um segundo sequer, pelo menos. Apesar de tentar, o sono não vinha, uma coisa martelava insistentemente em sua cabeça. E não, não era o fato da decisão dela de encurralar de uma vez os pais, porque sim, isso iria acontecer e ela já estava com tudo muito bem planejado, também não era todo o acontecimento que vinha ocorrendo como um vendaval em sua vida, eram três palavras, três palavras apenas que maquinava em sua cabeça.

Eu odeio você.

Aquelas três palavras, e toda a força que fora imposta nelas, quando ditas,  ainda não tinha surtido um efeito tão real. Era como se, apenas naquele momento de silêncio que ela teve, deitada no seu lado da cama, agora afastada dos braços de Logan, que dormia tranquilamente, ela olhava para as cortinas da grande jalena que tinha no quarto, voando em resultado do vento gélido que assolava toda Seattle aquela madrugada, tendo a própria  ficha caindo, um filme passando por sua cabeça, que apesar do silêncio de toda casa, gritava agudamente, em um desespero interno, sem saber procurar uma saída para todos aqueles pensamento.

Lucy era sua filha, era tão vítima quanto ela, e a odiava.

Essas eram as únicas verdades que ela sabia sobre aquela garota, e para ela, era injusto demais.

Ela não escolheu abandona-la, Lucy fora tirada de si, arrancada de seus braços, literalmente, ela cogitou hipóteses de não ter a criança na época, mas fez o contrário, fez o contrário porque no segundo mês de gestação, ela já sentia o pequeno serzinho mexer dentro de si, ela tinha o dom de gerar a vida, tinha dentro de si, parte de seu coração, era assustador demais, porém em sentidos bons. Ela nunca foi de sentir medo, era determinada, iria criar a filha sozinha e ponto, se talvez o pai de Lucy, o qual nem sabia de nada, aparecesse, tudo bem, mas ela não o procuraria, criaria a filha sozinha, e ponto.

Mas, ela não teve esse privilégio, até entendia toda a raiva que Lucy sentia, mas ela também fora magoada, ela não viu a filha crescer, não a viu pronunciar as primeiras palavrinhas, não a viu dar os primeiro pacinhos, não teve o privilégio de ter dias das mães anualmente, e então um aperto no peito veio naquele momento. Maite agora, estava grávida, a situação já não era à mesma como a de dezessete anos atrás, hoje ela era muito bem sucedida no trabalho, tinha uma carreira de jornalista brilhante, era muito bem casada, amava o marido, era amada, não fora algo planejado, porque se Maite e Logan algum dia desde que vivem juntos, no assunto de terem filhos, não fora mais que duas ou três vezes, mas ela estava, e estava feliz, verdadeiramente estava feliz, e absurdamente, levando a mão até a barriga, acariciando-a, ela sentiu como se estivesse voltando ao passado, em situações diferentes, isso é verdade, mas era como se fosse assim.

Maite sentia vontade de chorar, era um momento apropriado, estava sozinha e precisava, mas as lágrimas não saiam, sentia um nó na garganta, mas as lágrimas não saiam de forma alguma.

Talvez ainda não fosse o momento...

Coisas acontecem quando tem que acontecer.




XxX





Dizem que a amizade é algo que temos preservar, ainda mais amizades verdadeiras, daquelas difíceis de se achar, porque amizades assim são raras, e era exatamente isso que Lucy pensava naquele momento. Era manhã de uma sexta-feira, final de semana, e como o ano letivo já estava chegando ao final, o colégio estava um verdadeiro caos, principalmente para Lucy que estava no último ano escolar, no próximo ano seriam novas responsabilidades, mas especificamente naquele dia, ela não estava com cabeça para absolutamente nada. Pensava apenas em como conversaria com Hannah, que apesar de ser dois anos mais nova que ela, era sua melhor amiga. E só poderia ser o destino mesmo, traiçoeiro ou não, tratou de fazê-las amigas, antes mesmo de Lucy saber que a amiga, era justamente, sobrinha da mulher que havia abandonado-a. Mas, quando Lucy descobriu, ela usou isso para ajudar a conseguir chegar em Maite mais rápido. Era por isso que ela sentia-se culpada, sentia-se tão incomodada aquela manhã, ao observar Hannah aproximando-se com a alegria que sempre lhe era comum no rosto.


- Bom dia, Lucy!!! - Hannah a abraçou, sorrindo largamente. - Faz tempo que você chegou? Eu fui até a sua sala e você não estava!

- Bom dia, Hannah... - Lucy respondeu dando um sorriso forçado. - Não, cheguei a alguns minutos atrás. - virou-se para guardar alguns livros no armário. - E você?

- Ah, eu cheguei cedo. - Hannah bufou, cruzando os braços. - Minha mãe e minha tia vieram comigo, estão falando com a diretora e eu não sei o porquê.

- Sua tia? - Lucy a olhou de imediato.

- É, a minha tia Camilla, acho que ela só veio para acompanhar minha mãe. - Hannah tagarelou, e Lucy suspirou de alívio.

- E você sabe se... Quer dizer, sabe como a sua outra tia está? Maite o nome dela, não é? - Lucy perguntou como quem não queria nada.

- Ah, sim! - Hannah assentiu. - Ela está bem, e eu só sei disso porque a minha mãe ligou para ela, não me deixaram ir visita-la, acredita que ela estava no hospital e não disse nada? Meus avós estão furiosos. - assentiu.

- Oh, eu imagino. - Lucy sorriu sem mostrar os dentes, pigarreando. - E... Você sabe por que ela foi parar no hospital?

- Não. Ela não contou a ninguém. Meu pai sabe, mas também não quer me contar. - a loira revirou os olhos.



Lucy suspirou de alívio. Se Hannah não havia expressado nenhuma reação diferente, era porque ainda não sabia de nada. Maite não havia contado, então era como ter um alívio. Pelo menos, por enquanto.

Por enquanto, porque minutos depois, o celular de Lucy vibrou, anunciando uma nova mensagem, e quando ela pegou para ler, não evitou ficar surpresa.


"Oi, eu não liguei ou mandei mensagem antes porque não tive tempo, ou pensei que não quisesse falar comigo, entretanto, eu resolvi te comunicar primeiro, vou organizar um jantar na casa dos meus pais, e você vai ter a explicação que tanto deseja. Confirme que vai, e eu te mando o endereço, se desejar, com os seus pais, eles também fazem parte de tudo isso...

                       Maite."


"Eu vou."

Lucy respondeu de imediato, sem nem pensar duas vezes.

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