Rosamund

o brilho fraco Ω de uma estrela ¤ apagada e sem esperança

θ
Os lábios sentem a plenitude da cerâmica e o calor do chá quente da xícara de John.

Rosamund observa seu pai, um leve sorriso de felicidade ao rever ele.

-Não tem problema eu sentar aqui, não é? Meio embaraçada, questionou Rosamund.

-Claro que não, querida. Por quê teria? Confuso, perguntou John.

-O papai não gostaria que eu sentasse aqui, essa é a cadeira dele. Confiante, Rosamund observou.

Silêncio constrangedor, respiração lenta, troca de olhares intensa, mais silêncio constrangedor interrompidos quando Rosamund:

-Onde está Sherlock?

-Morto.

-Já faz umas duas décadas desde o suposto suicídio, então não.

-Ele simplesmente sumiu. Me deu um beijo, disse que quando voltasse iríamos tomar chá e nem me disse adeus.

-Paizinho, o papai não iria nos deixar sem dizer nada.

-Ele não é seu pai.

-Você estar com raiva não diminuí a paternidade dele.

-Eu sou o seu pai, Mary era sua mãe.

-Eu nem lembro do rosto dela, eu lembro do papai me pegando no colo e se esforçando para ser a melhor pessoa do mundo pra mim, ele nunca foi bom em relações humanas mas deu o melhor por mim.

-Sherlock destruiu minha vida. Eu me apaixonei por ele e ele sempre deixou subentendido se era recíproco. Daí ele fingiu ter se suicidado me deixando em prantos, tive que recomeçar a vida, fui atrás da Mary. Ela morreu salvando o seu papai. E agora ele some de novo.

-Mary não era uma heroína, paizinho. Sherlock não é um vilão, não foi ele que jogou Mary contra as balas.

-Você é igual à ele. Errei em ter achado que Sherlock podia ser humano com alguém.

-Ele foi. Você não enxerga isso, Sr. Watson.

-Rosie, eu vi o que Sherlock fez. Sherlock e Moriarty são equivalentes, duas faces de uma mesma moeda. Sherlock quer a ordem, quer distância de tudo por isso se afasta. Já Jim... Ele quer ver o circo pegar fogo, mas no fim os dois querem o mesmo de maneira diferente.

-O que eles querem?

-Você acha mesmo que Sherlock foi o único que forjou um suicídio naquele dia?

Rosamund se levanta da cadeira de Sherlock, vira as costas pro John e suspira.

-É tudo uma história louca de amor, uma tragédia romântica.

-Eu vou embora.

Andando nas ruas de Londres. Atmosfera diferente. Corpo ainda acostumado com a América.

Reichenbach. Subir alguns lances de escada, dois minutos depois está lá. O dia está terminando. A sombra da noite esconde até mesmo o sol, a estrela mais forte.

Sensação de estar na presença de Sherl novamente, quase revivendo momentos que ele viveu. De pé na beira do edifício, um passo para pular, mais um Holmes caído.

Não. Nem um Holmes de fato ela é. Não tem o sangue. Mas sabe deduzir, bem mais útil.

Algum tempo. Algum tempo em Londres. E ainda... Ainda nada de respostas do Sherl.

Ver Anderson de novo? A história da paixão platônica dele por Sherlock poderia te animar. Não, perda de tempo.

Moriarty. Jim é o nome dele mesmo? Por quê alguns o chamam de professor? Morto? Vivo? Amava o Sherlock? Talvez Eurus?

Que fim Eurus levou? Sherl foi atrás de Adler? Ela morreu? Não?

Sherlock está morto?

A noite já estava completamente escura, mas Rosamumd estava tão dispersa em pensamentos que não percebeu isso.

Ir até Mycroft? Aonde está Greg?
Uma coisa está faltando....

Hooper!

Molly Hooper. Aonde ela se encaixa nisso?

Rosamund enrolou um velho cachecol azul ao pescoço e voltou às ruas, ela tinha que investigar algo.

Ω
-Sabe Sherl... Ainda dói. John. Angustiado. Depois de um suspiro longo.

-Está se referindo ao quê, Watson? Sherlock. Interessado. Astuto.

-Mary...

-Não dói. Não é uma lesão física, apenas um sentimento tolo de solidão e ausência.

-Dá pra parar? Sinto falta dela sim, ela não sai da minha cabeça.

-Desculpe, John. Já botei Morstan pra dormir.

-Sherlock! Para de chamar Rosie assim!

-Não dá pra chamar ela de Watson pois você já é o Watson da casa, fiquei sem opção.

-Que tal "Rosamund" ou "Rosie"?

-Não gosto de primeiros nomes. O mal gosto dos meus pais acerca desse assunto me fez ter pavor à eles.

-Ela nem sequer tem o sobrenome da Mary.

-Vai ter o meu.

-Sherlock. Ainda é muito recente. Nunca ficaria com alguém agora, seria como trair a Mary e isso eu não faço.

-Não foi isso que Eurus me disse.

-Mais um motivo para não acontecer.

-Relaxe, Dr. Watson. Não preciso ser seu namorado para ser pai de Rosamund.

-Só precisa me dar um tempo, Holmes.

-Não tenho o luxo de ter tempo para esperar. Estou saindo, Doutor. Sherlock. Blusa social. Perfumado. Dentes Brilhantes.

-Está todo arrumadinho. Vai encontrar algum garoto legal, Sherl?

-Garota. Vou me divertir um pouco com a Molly enquanto você fica em casa se lamentando.

Sherlock bate a porta. John abre a porta e pede pra ele voltar. Sherlock ignora. Sherlock encontra Molly. Ela está feliz.
Molly Hooper.

Molly Hooper.

Molly.

¤
-Molly era uma mulher incrível! Tão doce e inteligente. Não me arrependo de muito, mas queria ter passado mais tempo com ela.

-Não me engana. Eu sei o que você fez. Só se aproximou de Molly para poder encurralar meu pai.

-Que lindo! Está certo! Tem que defender sua família, Rosamund.

-Você pisou nos sentimentos dela.

-Eu não seria o único, certo? Seu pai fez isso de maneira muito pior e mais constante do que eu.

-Os erros de Sherlock não justificam os seus.

-Você é igualzinha à ele. Eu conheço o Sherlock. Eu adoro ele. O considero um amigo. Somos tão parecidos, sempre querendo a mesma coisa.

-Não. Sherlock não é seu amigo. Ele não é igual à você. Você quer o caos, você prega uma filosofia egoísta, como se fosse um deus e o resto do mundo apenas leigos.

-E Sherlock não?

-Sherlock corria atrás da justiça. Fazia o que era certo. O que tinha que ser feito.

-Você é inteligente, Rosamund. Talvez ainda mais que Holmes. Mas você sempre viveu atrás da fama dele. Não pode construir o próprio nome. Ter as coisas por mérito próprio. Nunca brilhou pois sempre havia uma sombra ainda maior que sua luz. Você sabe o que aconteceu. Só não quer aceitar.

-Está tentando me confundir. Não vai. Isso termina aqui, Moriarty.

¡ pode não fazer sentido agora, mas saiba que é de propósito ¿