capitulo 19 mas nada é por acaso

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Engoli a seco. E agora, como iria responder que realmente estava ouvindo a conversa dele do corredor?

– Vamos, Biel… To esperando.

Respirei fundo e falei:

– Eu confesso, Kadu. Sim, eu ouvi a sua conversa com ele. Eu sei que isso é horrível, uma tremenda falta de educação e de respeito, mas foi mais forte que eu.

Ele me olhou bravo e decepcionado.

– Porra, Biel… Caralho… Se a gente não pode ter privacidade dentro da própria casa, vai ter aonde?

– Eu sei, Kadu, eu errei. Você tem todo o direito de ficar chateado comigo por causa disso, mas você também errou, mentiu pra mim. O que você tem a dizer sobre isso?

Ele desviou o olhar, se acomodando na beirada da cama.

– Eu dormi com ele, não menti quanto a isso.

– Então porque falou que tinha rolado pela primeira vez, quando não tinha?

– Eu não to entendendo porque você está tão preocupado com isso, Biel. Cara, que diferença faz se eu transei ou não com ele?

– Pra mim faz…

Eu disse, olhando bem nos olhos dele que retribuiu o olhar com intensidade.

– Por que?

Eu continuei sustentando o olhar, sentindo minha respiração ficar mais ofegante.

– Porque… porque me preocupo com você. Me dói saber que você se entrega assim, pra qualquer um , por diversão.

– Não é pra qualquer um, mas eu sou livre quanto a isso. Me assusta o fato de eu deixar de ser, de me apaixonar por alguém e me tornar refém desse sentimento.

Olhei pra ele e perguntei:

– E você está apaixonado?

Ele abaixou a cabeça e então tornou a olhar pra mim.

– Eu não quero mentir pra você, então não me pergunta mais sobre isso. É algo meu e eu não quero compartilhar. Por favor, entenda.

– Tudo bem, eu não pergunto mais, mas não mente mais pra mim.

– Não vou, mas não escute mais atrás da porta, no corredor, seja onde for, ok?

– Ta bom.

Eu concordei rindo. Ele sorriu e saiu do quarto.

Continuei deitado, pensando que na verdade aquela conversa não tinha chegado a lugar nenhum. Continuava com as mesmas duvidas, com a mesma confusão na minha mente, mas não podia forçar uma situação. Eu sempre odiei me sentir pressionado a qualquer coisa na minha vida e não podia fazer isso com ele.

No dia seguinte, dei alguns treinos de manhã e de tarde resolvi dar uma volta de skate no parque. Estava uma tarde agradável, com o clima ameno e ensolarado. Andei bastante e por fim sentei na beira do lado para descansar. Tinha um pequeno pacote de bolachas no meu bolso e fui moendo com as mãos, jogando aos patos que ali nadavam.

De repente ouvi um barulho, um grito meio abafado e quando olhei vi uma pessoa levando um tombo cinematográfico a poucos metros de mim. Assustei-me e me surpreendi quando me dei conta que não era ninguém menos que o Bernardo. Não me movi, olhando com a boca aberta ele se levantar, todo desajeitado e fazendo careta de dor. Não me controlei comecei a rir.

Eu nao sou gayOnde histórias criam vida. Descubra agora