Capítulo 1 - parte 2

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O problema era que nunca sabemos o que vai acontecer.  A escuridão ainda existia, mas era como se não tivesse me envolvido totalmente. Eu ainda podia sentir o vazio dentro de mim que crescia em um ritmo alarmante. Sentia-me frágil, sabia que não iria demorar muito para que eu rachasse.

Mas com o tempo, a escuridão foi diminuindo, eu podia ouvir vozes, como de minha irmã. Depois alguém tocando nas minhas mãos. Beijando minha testa. As coisas foram ficando nítida, ou podia ouvir e sentir, mesmo com os olhos fechados.

Até que abrir meus olhos, e a escuridão se transformou em luz. Eu pensava que Deus tinha sido misericordioso e me  levando para o céu, mas quando percebi, Deus foi misericordioso, mas me trouxe novamente para o mundo.

Eu estava conectada por um aparelho que diagnósticava meus batimentos cardíacos que batiam normalmente, esfregando na minha cara que a vida ainda existia em mim. As enfermeiras logo vieram, muitas pessoas estavam ao meu redor.

-- está tudo bem mocinha -- um homem com um bigode mal feito, de jaleco branco me garantiu. Eu olhava para eles amedrontada, eu estava no lugar errado. Meu corpo começou a se agitar, e eu queria me levantar da cama, para pensar no que tinha dado errado.

Por quê?

Por quê?

Por quê?

Eu não me lembro muito bem, somente sentir uma picada no meu braço direito e lentamente eu fui apagando. Acordei, duas horas depois, e dessa vez, era um rosto conhecido. O Doutor Eduardo me encarava preocupado. Ele me fazia várias perguntas.

-- como está se sentido? -- perguntou.

-- horrível -- ele olhou para mim e depois para sua prancheta.

--  pelo visto Deus foi bom. Algumas costelas fraturadas, embora quase saradas, devido aos dezessete dias que passou em coma.

Uma batida fez que desviasse minha atenção para a porta. E Elisa estava lá parada com lágrimas nos olhos. Ela estava horrível, seus belos olhos verdes estavam sem vida, e seus cabelo ruivo, todo desgrenhado. E somente de vê-la naquele estado me sentia mal com o que aconteceu.

-- me desculpe -- falou caminhando na minha direção -- me desculpe Andy.

Sua reação foi totalmente contrária ao que eu esperava. Seus olhos não estavam furiosos, mas triste. Ela não agiu como se eu tivesse feito uma grande merda, mesmo tendo feito. Ela agiu como se me valorizasse como pessoa, pois sentia o seu abraço apertado.

Chorei, não apenas pelo erro cometido, mas por causa do amor e misericórdia que estava demonstrando comigo. Nós tínhamos vivido sempre separadas, embora ela nunca tenha me deixando em paz.

Esse tinha de comportamento dela, era algo que apesar de ser normal para Elisa demonstrar para mim, eu nunca tinha aceitado.

O doutor saiu. Elisa limpou as lágrimas e se distanciou de mim se sentando na poltrona ao lado da minha maca.

-- logo… logo você vai para casa comigo Andy -- disse sorrindo.

Ela falava sobre o futuro. Fiquei contente por ela não teme-lo. No fundo sabia que desde que andássemos na vontade de Deus, nosso futuro estava seguro em suas mãos. Parecia que Ele tinha respondido as minhas orações, mesmo quando pensava que tinha esquecido de me ouvir.

-- sabe, eu orei por você. Pedir a Deus para salvar sua vida e Ele me ouviu -- seu tom era como estivesse contando seu segredo mais secreto. E de fato estava, Elisa tinha se afastado de Deus muito jovem, por causa da forma que nossos pais nos fazia vê-lo. Ela também estava com medo. Mas eu não estava com medo, embora as coisas ainda serem confusas. Eu gostava de ouvi-la falar e sorrir. Amava por pensar no futuro, como sempre fez. E se eu não tivesse sobrevivido? Ela ainda pensaria sobre o futuro?

Através da Sua Oração  (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora