Capítulo 2 - parte 2

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Esfreguei meus olhos e soltei um suspiro de frustração. Eu ainda continuava no hospital. Olhei para a poltrona e Elisa já não tinha ido embora, também  estranhei pelo fato que minha mãe não estava. Era sempre assim, ela vinha de dia e Elisa a noite.

A metade do meu dia, se resumiu no entra e sai do meu médico, o doutor Eduardo, enfermeiros, psicólogos, e o irritante psiquiatra.

O psiquiatra olhava para mim e anotava algo na sua prancheta. Me perguntava se ele tinha alguma espécie de poder que podia ouvir meus pensamentos ou se tinha a habilidade de ver minha alma. Ele não me perguntava nada, apenas me olhava e escrevia.
Doutor Douglas, era assim que estava escrito no seu crachá. Se eu tivesse algo poder, poderia dizer que estava na casa do vinte e seis. Por fim, parou de escrever, sorriu para mim e saiu.

Suspirei aliviada. Ou ele era bom no que fazia ou fingia que sabia alguma coisa.

-- Oi Andy -- olhei para porta e Pedro estava lá, me encarando sem demonstrar nenhuma expressão. Tive que fechar os olhos pela forma que chamou meu nome, sua voz grave me deixava nervosa. Me lembrava do passado.

-- Elisa me pediu para ficar com você -- falou caminhando na minha direção. Suas mãos estavam ocupadas por uma pilha de livros. Ele colocou em cima da poltrona e sorriu para mim -- desculpe, mas não serei uma boa companhia hoje, semanas de provas.

Pedro suspirou fortemente. Observei sentar na poltrona, colocando os livros em seu colo.

Enquanto estudava, permanecia totalmente concentrado. Meu passa-tempo  naquele momento era estudá-lo da mesma forma que estava fazendo. Pedro estudava  cálculos e eu optei em estudar as qualidades que o faziam interessante.

Ele tinha uma simplicidade, que antigamente não era do seu feitio. O seu senso de plenitude e determinação era algo nem todas as  pessoa poderia encontrar claramente sem que o conhecesse realmente. Pois era Pedro, aquele cara que um dia me apaixonei.

Eu não sabia explicar como conseguia identificar essas qualidades neles, apenas sabia que era uma sensação que estava em nítido contraste com o meu vazio.

Parecia que ele se sentia confortável por estarmos no mesmo cômodo. Não havia nele nenhuma espécie de mágoa aparente devido aos acontecimentos passados. Mas eu o tinha trocado por outro homem. O que ele estava fazendo ali, confortavelmente? Será que era pena?

Não podia culpá-lo se fosse isso. Eu era digna de pena.

Pedro estava me olhando de canto de olho, após perceber que eu continuava o encarando. Ele sorriu e voltou para seu estudo.

Não.. não era pena. Tinha certeza disso. O jeito que me olhava não era o mesmo jeito que minha mãe, meu pai me olhavam. Era o mesmo jeito que Elisa me via, só que mais intenso. E eu não sabia explicar.

Peguei minha Bíblia na mesa ao meu lado, com a intenção de tirar os pensamentos pertubantes da minha cabeça. Abrir o novo testamento, e passei várias horas concentrada na história de Jesus Cristo. Lendo livro por livro. Capítulo por capítulo. Não seria possível Ele não ter existido, não conseguia acreditar que várias pessoas diferentes tiverem a mesma ideia de imaginar e escrever sobre o mesmo homem. Sem que Ele tivesse pelo menos passado por essa terra. Jesus foi o maior homem que passou por aqui, eu acreditava naquelas palavras, e sentia do fundo do meu coração que era a coisa certa. Não haveria outra explicação sobre minha existência se não fosse a tua vontade.

A enfermeira entrou me tirando dos meus pensamentos. Sentir o líquido que ela aplicou em mim fazer efeito no mesmo momento.

-- não tenha medo querida, não vai demorar muito para passar -- sua voz doce não teve nenhum efeito em mim. Eu estava cansada do hospital, da minha vida. Minha visão ficou embaçada, fiquei frustrada por não poder ler a Bíblia. Fechei meus olhos, e sentir uma mão grossa cobrir totalmente as minhas. Pedro não falou nada, e era tão bom essa sensação. Parecia que ele me compreendia.

Através da Sua Oração  (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora