Capítulo 1

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Senhor, por favor, ajude-me a sentir a Sua mão sobre a minha vida, de uma forma tão forte que eu nunca mais duvide disso. Em nome de Jesus Cristo. AMÉM!

Acordava todas as manhãs com uma imensa e horrorizante, sensação de pavor. Era o mesmo sentimento que tinha quando me via trancada naquele quarto, acorrentada pelas pernas, sozinha, igual um animal com muito e muito medo. Essa também era a sensação que eu tinha quando minhas mãos estavam envolta daquela faca, enquanto via que meu marido tinha acertado em cheio cabeça de minha irmã.

Mas não foi essa sensação de pavor que sentir quando a faca tocou sua carne e ele caio desacordado no chão. Por um momento eu me sentir vingada, por saber que aquele mostro nunca mais iria me machucar.

Mas a vingança não se tornou uma coisa boa, não para mim, ela se transformou em uma assombração que corrói e corrói minha mente, me impedindo de viver, me fazendo vegetar em uma clínica psiquiátrica.

E não era um sonho ruim, como muitos vezes tentei me convencer que era, pois realidade caía sobre mim toda vez que isso acontecia, eu vivia aquela tragédia e ela me invadia a cada instante.

Eu desejava com todo meu ser que isso não passasse de uma coisa qualquer, mas não era, e precisava enfrenta-la. Somente não tinha força, ânimo e "muito menos condição psicológica para isso."

Eu era incapaz de pensar em mim mesma, de me responsabilizar pelos meus atos, de escolher por conta própria, segundo os psiquiatras e psicólogos diziam.

Era assim que sempre me sentia, era assim que as pessoas ao meu redor me faziam sentir, como se eu tivesse morrido, apesar de existir.

Eu não tinha morrido, mas estava morrendo aos poucos, diariamente. Podia sentir isso, e não se podia mais fazer nada a respeito.

No fundo, eu lutava, lutava para me manter sã, lutava em oração. E ninguém nunca via minha luta, além de Deus. Eu fingia que tudo estava bem, que não existia melhora e as vezes até me fazia convencer disso. E acabei ficando boa nisso.

Era domingo, o dia estava agradável. Respirei levemente, sentindo o ar puro que estava envolta no jardim da clínica psiquiátrica. Era a única coisa que me permitia apreciar, somente ar, pois me lembrava que eu ainda existia, apesar de não viver. O jardim, mesmo florido, já não era exuberante aos meus olhos, tudo era cinza e sem vida.

Sair da entrada da clínica, caminhando pelo jardim. Não tinha medo de admitir, eu sentia falta da liberdade, de escolher minhas próprias roupas. Era uma das coisas que mais eu sentia falta. De me vestir bem. Estava cansada de vestir uma túnica branca horrível. Talvez eles pensassem, já que éramos malucos, que isso não importava.

Mas para mim importava.

A enfermeira Ana se encontrava sentada no banco, com Sara e Adam. Eu gostava de ficar perto deles, mesmo depois de ter presenciado várias crises de bipolaridade. Isso me mantinha ocupada o máximo possível, com o pretexto de criar uma distração para que eu não sentisse a terrível inutilidade da minha vida. Mas sempre havia aquele momento do ápice da solidão, principalmente quando meus pais vinham me visitar, e sabia que a qualquer momento eles viriam. Eu olhava para eles, e me sentia sozinha, mesmo quando falavam comigo. Era como um remédio sedativo que tiravam minha consciência e me levavam para o sono.

-- filha, chegamos -- minha mãe surgiu. Ela me abraçou forçadamente, fechei os olhos sentindo a dor que o seu abraço me proporcionava. Olhei para a enfermeira Ana, que nos olhava de canto de olho do banco.

Desviei meu olhar para o meu pai, que nunca me olhava nos olhos, ou fingia ver que eu não existia.

Eu os tinha decepcionados, não era a filha que eles queriam. Apesar de eu nunca ter questionado suas ordens.

Espera. Nunca era um eufemismo. Já que tinha decido doar quase todo o dinheiro casamento. Foi a única vez que decidir algo por mim.

Minha mãe segurou meu braço esquerdo, me conduzindo por uma caminhada pelo jardim. Ela me contava sobre as pessoas que conhecia. Sobre a Igreja que meu pai era pastor. Falava de seu desejo me ver sair dali, e de me arranjar uma família. Dizia que dessa vez iria arranjar alguém melhor.

Simceramente, esperava nunca sair então.

Ela continuava a falar sobre as suas vontades, eu apenas fingia escutar. Não gostava muito de conversar, as coisas dentro de minha mente estavam confusas.

Eu me mantinha olhando para o nada, e descrevendo na minha cabeça como eu queria ser, o que eu queria fazer. Se ela falava que gostava de flores, eu no mesmo momento odiava. Se me dizia que estava horrível, rapidamente me sentia a mulher mais linda do mundo. Tudo para diminuir sua voz ensurdecedora, que me faziam mais do que ninguém perceber a futilidade da minha vida - e era insuportável.

E foram, insuportavelmente três horas ao seu lado. Eles se despediram, e apenas caminhei para dentro da clínica psiquiátrica. Eu estava saturada, minha mente estava acabada. Eu não conseguia pensar em nada, nem conseguia ouvir as vozes que frequentemente me acusavam dentro da minha mente.
Entrei no corredor para o meu quarto, sentindo-me esgotada. O lugar estava vazio, pois todos permaneciam no jardim, tínhamos a permissão de andar livremente, desde de que apresentássemos bom comportamento.

Minhas mãos tremiam. Sabia que estava entrando em surto. Eu ouvia a voz de minha mãe me acusar. Imaginava o olhar duro que meu pai me lançava. Tudo girava, as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Parecia que uma corrente de medo passava pelo meu corpo. Eu não conseguia ficar parada, queria fugir, respirar, arrancar de qualquer jeito a maldita sensação de pânico que existia dentro de mim. Não entrei no meu quarto, virei no corredor a esquerda e subir as escadas de emergência. Eu odiava me sentir impotente, como se não tivesse controle sobre mim mesma, principalmente sobre meus pensamentos. Meus pais somente tornaram isso confuso, enquanto meu ex-marido me tirava a liberdade.

Cheguei no topo da escada, minha pele suava, eu só queria um meio de escapar. Olhei para baixo, imaginando se uma queda fosse a solução dos meus problemas. Eu não queria acordar novamente com a aquela terrível sensação de ter que enfrentar outro dia.

Pensei na minha irmã Elisa, que havia passado a vida inteira tentando transformar e mudar as circunstâncias por minha causa, mesmo quando eu me achava impotente para isso. Esperava que Deus me perdoasse, mas eu não conseguiria imaginar que as coisas poderiam ser diferentes, embora todos os dias jamais tenha deixado de orar para que Ele tenha misericórdia.

Eu não o questionava mais, não pedia explicação sobre minha vida, e se ele tivesse tentando me provar, eu estava falhando. Já considerava a maneira como eu era e a forma como minha vida estava "progredindo" totalmente inaceitável. E não conseguia ver outra saída.

Fechei os olhos, e abrir os braços como se estivesse prestes a voar. Estava exausta de encontrar um significado para minha vida. Estava convencida que meu Deus era fraco e que não poderia fazer nada por mim.

Estava bastante certa que ele tinha coisas importantes para fazer do que me ajudar. E pela primeira vez, me sentir sozinha, tudo que iria acontecer cabia a mim. Eu estava no comando da minha vida. Eu não precisava mais me tornar aceitável para os outros. Ia transformar minha vida naquilo que eu achava que deveria ser. E assim eu me joguei, sentir meu corpo batendo em cada degrau e por fim um baque terrível na minha cabeça. Pensava que era a única dor que ia sentir, pois a escuridão me envolveu.

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Oi gente. Primeiro capítulo feito com muito carinho. Se você gostou, não se esqueça da estrelinha. E comentem sobre os sentimentos de Andy.











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