capítulo 5 - parte 2

331 48 15
                                    


Pedro se levantou do meu lado. Me ofereceu um sorriso encorajador. Estendeu sua mão mim. Eu aceitei e me levantei.

-- Vamos caminhar. É um ótimo começo de dia para uma caminhada.

Andamos lado a lado na beira da praia. Eu olhava para meus pés e sentia a sensação que a água do mar me causava. Havia muitos pessoas ao redor.  E o sol ficava cada vez mais forte e insuportável.

Alguns metros a frente havia uma barraca de água de côco. Me afastei de Pedro e fui na direção. Sorrir, aproveitando a oportunidade de andar sem dar satisfações da minha vida para ninguém. Eu a controlava. Eu decidia onde ia, quando parava, o que vestia.

Olhei para trás e ele caminhava lentamente, me observando de longe. Era admirável o brilho dos seu olhos sob mim, era como se cada gesto meu o deixasse orgulhoso. Eu gostava disso nele. Era como se eu não estivesse mais sozinha, mas ao mesmo tempo livre.

Era uma sensação extremamente boa, pois eu sabia que a solidão podia ser destrutiva e cruel, se a tornarmos nossa inimiga. 

E a vida foi cruel diversas vezes comigo. A maioria das vezes me sentia sozinha. Não tinha ninguém que me ajudasse e me livrasse daquele inferno. Parei de viver e apreciar a vida só porque pensava que não tinha ninguém ao meu  lado.

Nem Deus.

Mas tudo se tornou diferente.

Tinha uma sensação de preenchimento em mim. Desde que abrir os olhos naquele hospital, era como se os olhos de Deus estivesse voltados para mim. Eu decidir  não tornar a solidão uma inimiga que podia me destruir.

Eu e Deus era o suficiente.

Eu não ia para de viver somente porque não havia ninguém no mundo ao meu lado....não mais.

Estudei o senhor que estava do outro lado do balcão. Ele usava uma camiseta vermelha e uma bermuda azul. Tinha uma pele morena, tingida pelo sol e mãos calejadas de tanto trabalhar. Podia sentir o cansaço dele, mas ao mesmo era admirável a forma simpática que atendia o homem na sua frente.

-- uma água de côco, por favor -- pedir sentando no banco a sua frente.

-- sim senhora -- falou simpático. Observei abrir a caixa e tirar o côco. Ele colocou na minha frente e pegou o canudo que estava em cima do balcão.

-- espero que goste senhora -- falou antes de atender a mulher que sentou no banco ao meu lado.

Coloquei o canudo na boca. E me virei em direção a praia a procura de Pedro que estava parado com as mãos as duas mãos no bolso olhando para o mar. Havia uma espécie de solidão nele também. Era como se estivesse se acostumado a viver sozinho.  As vezes eu tinha a súbita vontade de saber seus pensamentos. Principalmente quando me encarava.

Ele se virou para mim. Estendir o meu côco para ele que caminhou em minha direção. Pedro era bonito, sempre foi. Minha mente perturbada não seria tão maluca  ao ponto de não reconhecer isso.

-- mais uma água de côco -- falei ao senhor. Notei que as mulheres de biquíni que passavam por ele na praia o encaravam por um longo tempo. Mas Pedro… as ignorava. Como se não olhar fosse a maneira mais fácil que tinha encontrado para não notar os olhares a sua volta.

O senhor colocou a água de côco no balcão. Deixei a minha de lado e peguei a outra do balcão estendendo para ele.

-- obrigado Andy -- falou sentando ao meu lado.

-- você não se incomoda com as pessoas olhando para você? -- perguntei  curiosa. Ele soltou um riso.

-- que pessoas Andy? -- perguntou dando ênfase no meu nome. Colocou o canudo na boca ainda sorrindo.

Através da Sua Oração  (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora