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Deus é uma mulher negra, eu sei, porque vi
Seu sangue são vibrações de tambor
Seus olhos lamentos de mães de filho assassinado
Eu sei. Eu vi
Ela, Deus, falou comigo
Sua voz era rouca e orgulhosa como voz de Yalorixá
Como Mãe Beata de Yemanjá declamando poema
Sabe? Uma voz feita de eternidades
Seus pés, ao caminhar, faz samba nascer do chão
Suas mãos são enrugadas como Baobás negros
Os braços são feitos de homens negros
Eu sei, porque vi, vi meu pai a contornar seus ombros
Sua pele é feita de terra quando encontra rio
É uma pele farta, como os peitos fartos da mãe Afrika
Suas orelhas são feitas de além mar
Feito de saudades e saudades tem cor de sol
Seu coração dava pra ver além da terra que era sua pele
Seu coração era feito de muitos, muitos corpos
Corpos que tombaram a força de açoite
Corpos fugidos correndo mata a dentro
Corpos ousados gingando orgulho
Seu coração era feito de povo
E pulsava gestos de libertação

Jonathan Oliveira Raymundo.

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