Coração de Elástico

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EU, BAND-AID.

Sabe quando você é útil para todo mundo,
quer o bem de todos que vivem ao seu redor,
e no final, ninguém se importa com você?
E quando tendem a querer ajudar,
não sabem dar conselhos, não são positivos
com os seus desabafos e inseguranças,
não tem paciência para te ouvir,
nunca sabem compreender o seu lado,
e nunca te acodem do mesmo modo e com
o mesmo comprometimento que você,
quando eles precisam? Então, a gente cansa
de esperar muito de pessoas que
não têm nada para oferecer.

Por muitas vezes, eu sofri sozinha, sim,
com um peso gigantesco de culpa, inexistência,
dor ou de qualquer outro sentimento ruim
(nesses últimos dias, eu tenho tido vários);
estive naqueles momentos em que
você está quase engolindo o
coração de tanta angústia,
e procurei alguém, qualquer pessoa
que estivesse disposta a me ver, sabe?
— podia ser o meu melhor amigo
(agora não tão melhor assim),
que eu ajudei quando ele estava mal,
ou um familiar, ou... alguém...

Mas não tinha ninguém.

[nós esperamos flores de
quem só nos dá espinhos]

Eu sou sempre o band-aid deles,
me disponho a tratar do ferimento,
estancar o sangue, ser a boa samaritana,
trato da ferida, e sempre sou aquela
que diz "vai-ficar-tudobem".
Eu tenho paciência para escutar cada
paranoia idiota e tola — mesmo
sabendo que todas as reclamações
e melodramas da pessoa se resumem
a futilidade, mas eu ouço, pois me sensibilizo.
Eu ouço, porque sou uma idiota
que larga seus próprios pesos
para carregar os dos outros.

Mas por trás de todo o meu altruísmo,
existe uma pessoa que não recebe
na mesma proporção aquilo que doa.
Eu sou aquele amigo que
muitas vezes precisa
andar atrás do grupo quando
a calçada não é larga o suficiente,
sou aquele amigo que é interrompido
pelos outros quando começa a falar,
sou aquele amigo que é deixado
para trás quando peço para me esperarem,
sou aquele tipo de amigo que se
quiser sair com outro amigo, precisa
convidar as pessoas para ter
certeza que me incluirão em seus planos.

Sabe, eu não sou uma heroína.
Não tenho super-força, eu me canso.
Não consigo carregar sozinha o mundo
(e quem eu amo) nas costas.
Eu não estou reclamando, e nem me
arrependo de tudo que fiz por cada
pessoa que precisou de mim.
É só o que eu sinto sobre se doar
e se esvaziar... e não ter ninguém
para me encher de novo.

Eu me despedaço para manter
os outros inteiros.
E quando preciso,
nem eu sou o suficiente.

Isso é justo?

[uma pena sermos tão inteiros
por quem não merece
e insuficiente para nós mesmos].

Escrito por Emanuel Hallef

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