Capítulo 4

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Eu nunca pensei em mim como alguém covarde. Mas eu descobri que sou. E descobri isso da pior maneira possível. Por dois dias eu me tranquei em casa, implorando para não comparecer à escola embora estivéssemos no final do curso e em menos de um mês aconteceria nossa formatura. No entanto, eu não tinha condições de enfrentar Dylan. Eu sequer tinha coragem de me enfrentar. Minha avó até tentou conversar comigo, mas me fechei ainda mais.

Estava confuso, me sentindo perdido em meio aquele turbilhão de sentimentos. E o pior disso tudo é que a pessoa da qual eu queria me afastar era a que eu mais desejava por perto nesse momento. Eu sentia falta das nossas conversas, das nossas risadas idiotas, das nossas aulas de violão. Por que ele teve que estragar tudo? Eu, que já não sabia mais nada de mim, fiquei pior ainda ao ouvir uma conversa entre meus pais e Edgard.

Flashback on

— Edward anda muito estranho. E o pior de tudo é que ele se fechou e não conversa nem mesmo com minha mãe.

— Está brigado com a florzinha, com certeza.

— Edgard! Não fale dessa forma.

— Desculpa, pai. Mas para mim ele é uma florzinha.

— Você acha que o Dylan é gay?

— Mãe... se ele é, eu não sei. Mas ele tem todo o material para ser. E Edward já deve ter percebido isso. Não é possível ser tão cego.

— Oh meu Deus... eu gosto daquele rapaz. Mas não quero que seja má influência para o Edward.

— Quanta bobagem Annie. Acha que por ser gay o rapaz fará com que Edward se torne um também?

— Pois é. Eles podem apenas ser namorados e o Edward ser o homem da relação.

— Edgard Harris nunca mais repita isso. Eu não sou preconceituosa, mas eu quero netos. E quero netos de você, Elena e Edward. Como ele fará isso namorando com um gay? De jeito nenhum. Seria a maior decepção da minha vida.

Flashback off

E foi assim, reforçando mais uma vez o quanto sou covarde que me afastei do meu melhor amigo. Quando retornei à escola, ignorei seu olhar sobre mim e me sentei no mesmo lugar de sempre. No refeitório eu passei a me sentar com Elena e Taylor. Dylan sempre ia para debaixo da árvore onde costumávamos ficar. Eu via alguns colegas falando gracinhas quando ele passava, mas eu não fiz nada para impedir. Percebia o olhar acusador de Elena sobre mim, mas também a ignorava.

— Eu realmente não entendo.

Elena falou baixinho e eu apenas engoli seco, sem coragem de encarar seus olhos. Taylor, que muitas vezes julguei ser uma vadia oportunista também me encarou no momento em que ergui minha cabeça. Em seus olhos eu vi apenas curiosidade e quem diria, um pouco de compaixão.

— A amizade de vocês é muito bonita. Eu realmente não sei o que houve, mas acho que vocês deveriam conversar. É raro ver amigos tão fieis... não podem perder isso.

Ela disse e se levantou, saindo de nossa mesa.

— Até ela percebe o que está acontecendo. Edward, por favor, não precisa me dizer o que houve, mas converse com ele. Meu Deus... vocês estão sofrendo demais.

— Algumas coisas... não há como consertar Elena. Eu não posso ser o que ele quer.

— E você realmente sabe o que ele quer?

Eu me calei. Como eu poderia dizer que sim se nem ao menos sei o que eu quero? Ou melhor... eu acho que sei, mas não posso. Não devo.

— Sabe que Edgard vem nos buscar hoje, não é? Papai pegou meu carro de novo. Melhor não se atrasar na saída.

Amor sem gênero - Série amor sem preconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora