Estou numa sala pequena, as paredes são pretas. Um preto bonito, brilhante. Olho para os lados e vejo uma jarra com três rosas vermelhas. Aproximo-me delas para as cheirar, porém quando me aproximo elas murcham. Uma a uma. Murcharam. Perderam a cor e murcharam, as pétalas, agora brancas e secas, caíram no chão lentamente. Eu pisei-as. Olhei para trás e estava uma porta. Corri em direção à porta e encontrei uma chave. Pego nela e vou abrir a porta. A porta não tem fechadura. Faço força na porta. Ela não abre. Procuro pela minha varinha, não a encontro. Dou um pontapé na porta, permanece fechada. De súbito, a porta pega fogo. Uma enorme chama queima, somente, aquela porta preta. A chama desapareceu. Ao sair por o que antes era uma porta, entrei numa floresta. A floresta que está ao redor da minha casa. Fico contente. Conheço todos os seus caminhos como a palma da minha mão. Corro para a minha casa. Lá está ela. A casa térrea de apenas um andar. Está lá, como sempre a vi! Olho para o céu. Aparecem nuvens densas, escuras. Começa a chover. Entro em casa e está tudo como me lembro, só passou um mês afinal.
- Mãe? Pai? - Pergunto e olho para todos os lados.
Não obtenho resposta. Ninguém está em casa. Começa a trovejar lá fora. Vou para a janela e veio a chuva bater no vidro. Por vezes fico encandeado com tanta luz dos relâmpagos. A tempestade de raios piora e há um que cai em minha casa. Tenho a casa em chamas, estou em pânico, preciso de fugir. Abro a porta e pára de chover. A casa não está queimada. Que alívio! Ando para a frente e vejo uma pessoa deitada. Há sangue no chão. Muito sangue. Abaixo-me e olho. É o meu avô. Nunca o conheci, morreu antes de eu nascer. Está aqui a fazer o quê. Ao abaixar-me afasto o cabelo dele, era comprido. Quando lhe toco ele agarra-me no braço com bastante força de forma repentina. Entro em pânico. Ele inspira com muita força.
- Tem cuidado! Tem cuidado! - Diz numa voz rouca. - Ela vem aí. Ela está a chegar! Tem cuidado! Foge!! Leva-a contigo, protege-a! Tem cuidado!
Ele larga-me e eu corro. Corro bastante rápido e para muito longe. Estou cansado. Sento-me na copa de uma árvore. Olho para o lado. Está um homem pendurado por uma corda. Enforcou-se na árvore ao lado da minha. Fujo novamente. Está um grande grupo de pessoas. Estão todas de preto. Choram. Olho bem e vejo uma campa. É branca, tem várias coroas de flores murchas. Por que haveria alguém de oferecer flores murchas a um morto? Não percebo. Aproximo-me do funeral e sento-me numa das cadeiras. O meu avô senta-se novamente ao meu lado. Ele agarra-me o braço e a atmosfera muda por completo. Está tudo negro. O meu avô olha para mim.
- Sai daqui! Protege-a! Tem cuidado! Tem cuidado! - Ele diz. - Ela está a chegar! Ela está a chegar!
Ele desaparece e permaneço naquele sítio escuro e pesado. A frase dele continuar a ecoar na sala. Ela quem? Quem? Por que é que não me dizes? Sinto um peso no peito e começa a faltar-me o ar. Começo a andar tonto e caio no chão. Caí de boca. Toco nela e perdi um dente. O meu dente caiu. Tentei encaixá-lo de novo, mas em vão. Começo a chorar por a frase cada vez ser mais alta e ecoar cada vez mais naquela casa. É agoniante. Tento gritar mas a voz não me sai.
- Jimin! Jimin!
Ouço e tudo começa a abanar.
- Jimin!
Acordo num sobressalto. Continuo na cama de hospital ao lado do Jungkook. Acordo todo suado e com a respiração ofegante.
- Está tudo bem, Jimin? - Pergunta o Jungkook.
- Sim. Tive um sonho super estranho. Um pesadelo. Aparecia o meu avô, depois estava num funeral. A minha casa foi atingida por um raio. Fiquei numa sala com o meu avô e ele disse que ela está a chegar. Não percebo! Caiu-me um dente. Vi um homem enforcado. - Disse nervoso e ofegante.
- Tem calma, jeitoso. Já passou. Foi só um sonho, tem calma. - Ele mexe no meu cabelo e seca o meu suor com a roupa dele. - Já passou.
- Obrigado, Jungkook!
Que sonho. Não pode ser, simplesmente, um sonho. Nunca na minha vida falei com o meu avô. Nunca estive num funeral, nunca vi um homem enforcado. Tudo tão estranho. Um sonho nunca vem só, já dizia o meu pai. Os sonhos, segundo ele, são o espelho da alma. São uma descarga psicológica. Uma descarga do nosso inconsciente e, por vezes, pode ser um presságio de algo. Seja bom ou mau. Cada sonho tem o seu significado. Freud curava pessoas através do que elas sonhavam, percebendo cada detalhe do sonho. Será que o meu sonho tem um significado forte? Será que algo se avizinha e fui alertado? Sinto a mão do Jungkook no meu braço. Lentamente ela desce e toca na minha mão. Ele entrelaça os nossos dedos.
- Estás melhor? - Pergunta.
- Sim, Jungkook, estou. Obrigado por te preocupares. - Sorrio para ele.
- É para isso que servem os amigos, ou não? - Ele olha para mim e sorri.
- Sim, acho que sim. - Digo com um ar cansado.
Estará algo relacionado com a proximidade repentina do Jungkook? Ele fala numa personagem feminina. Não percebo. Quem será? Quem estará a caminho? Estou tão confuso.
- Tens fome? - Pergunta.
- Não, Jungkook! - Digo algo agressivo e levanto a mão sem intenções de lhe tocar.
- Desculpa, hyung. Não te queria chatear. - Ele agarra a minha mão com mais força.
A cara dele ficou triste. Porra, Jimin! Não te controlas porquê?
- Não me chames hyung. Sou o Jimin. - Olho para ele. - Desculpa a minha agressividade. Acordei agora de um pesadelo. Estou a pensar nele há bastante tempo.
A enfermeira entra e vem em direção a mim, com alguma velocidade.
- Menino Jimin, recebeu correio hoje e pediram que lhe fosse entregue esta carta. - Ela entrega-me.
- Obrigado! - Respondo e ela sai.
Olho o envelope e é uma carta dos meus pais. Chegou cedo.
- De quem é? - Pergunta Jungkook.
- Dos meus pais. - Respondo.
Abro a carta e leio para mim
"Querido filho,
Com que então parece que te estás a apaixonar. Por um rapaz. Quem diria? Não nos incomoda nada filho, só queremos a tua felicidade e queremos que te sintas bem. Sê cuidadoso. Na tua idade, qualquer forma de amor é linda. Eu e a tua mão tínhamos a tua idade quando nos conhecemos em Hogwarts e agora temos o aluno mais bonito da escola como nosso filho."
Interrompo a leitura e olho para o Jungkook. Estarei eu apaixonado por este rapaz? Olho para os nossos dedos entrelaçados. Ele sorri para mim e eu sorri-o de volta. Será? Continuo a ler.
"Hoje vamos ter poucas lições de filosofia por carta. Aconteceu algo que nos deixou a todos abalados. Jimin, a avó morreu. A avó morreu no hospital Muggle. Estava fraca. A gripe piorou e transformou-se numa broncopneumonia, ou lá como se chama. A avó partiu deste mundo filho. Não te podemos ir buscar para te despedires dela. Terá de ser enterrada num cemitério Muggle, contra nossa vontade. Queríamos estar aí para te apoiarmos, queríamos dar-te um abraço e encher-te de beijos. Nenhum de nós teve tempo de se despedir dela. Todos queríamos. A mãe está de rasto. Filho, sê forte e não te deixes ir abaixo. Pensamos em dizer-te isto quando as aulas acabassem, mas era impossível. Terias de saber.
Dos teus pais que te amam."
Começo a chorar compulsivamente.
- Jimin? Que foi? - O Jungkook olha para mim preocupado.
Abraço-o. Abraço-o com toda a força e choro, choro muito.
- Já percebi! - Digo a chorar.
- Percebeste o quê? - Pergunta-me.
- O sonho. O sonho dizia tudo. A minha avó morreu, Jungkook. - Choro.
- Jimin. - Ele olha para mim e apoia a sua cabeça no meu ombro. - Vai ficar tudo bem.
Ele pega na carta, não me importo com nada. Ele lê tudo, pelo menos eu acho. Ele larga-me e olha para mim.
- Vai ficar tudo bem, sim? - Ele limpa-me as lágrimas e beija-me a testa. - Estarei sempre aqui.
Ele abraça-me e choro. Choro muito no ombro do Jungkook. Ele acaricia-me as costas e assim ficamos, por algum tempo.
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The Wand
Fanfiction"O Pensamento é muito mais importante que a Conversa." Jimin pensava que tinha a mente arrumada, tinha as ideias organizadas. Mas em que Jungkook aparece e confunde-o. Uma história narrada por Park Jimin, um Gryffindor que muda a forma de pensar ao...