Capítulo 8 - Chocolate

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Três meses. Em três meses muita coisa aconteceu. Nunca mais sonhei com a minha avó, nunca mais enviei uma carta aos meus pais por eles estarem em viagem até ao Natal. Nunca amei tanto alguém como amo o Jungkook. Dizem que na nossa idade o amor é quase inválido. Eu não acho. Há quem até afirme que na adolescência se sente atração e não amor. Eu não acho. Eu acho que posso amar alguém, com a minha idade, da mesma forma que os meus pais se amam. Quando dizem que o amor não tem idade não interpreto de forma a ser bem visto alguém de 15 anos namorar com alguém de 80.  O amor não tem idade na medida em que nos apaixonamos em qualquer idade.  Esse amor que nos acompanha para toda a vida ensina-nos a desenvolver outras formas de amar, como aquela que me faz amar o Jungkook. Talvez eu esteja a olhar para tudo isto de uma forma muito científica. Talvez eu tenha de olhar para isto não pela Razão, mas pela Emoção. O meu pai diz que ambas estão interligadas. Temos de saber escolher com quem estamos, daí a relação entre as duas. Estou com o Jungkook há três meses e estou a adorar a escolha que fiz em aceitá-lo na minha vida. Bom trabalho, Destino.  Quero ficar muito tempo com ele, muito mesmo.

- Jimin! Jimin! - Sinto um abanão no meu braço. - Olha ali!

É o Jungkook, estamos de visita a Hogsmeade. Estamos no Três Vassouras a beber uma Cerveja de Manteiga.

- É o quê, Jungkook? - Pergunto e olho para onde ele apontou.

- Nada. Era só para mexeres a cara! - Ele diz a rir e agarra-se a mim e olha-me.

- A sério? - Olho-o sério. 

- Uhhh. Ficou chateado o Park Jimin. - Diz a rir e eu dou-lhe uma chapada na cabeça. - Au!!

Ele coça a cabeça a olhar para mim e não consegui prender o riso.

- És tão parvo! - Recebo e pago as nossas cervejas. - Vamos sentar!

- És mau Jimin. - Disse ele andando atrás de mim.

Eu sento-me e ele senta-se de seguida.

- Nem sabes o quão mau eu consigo ser. - Respondo cínico.

- Não fales assim que me arrepias. - Vira a cara com vergonha.

- Temos pena. - Dou um gole na cerveja. - Está boa, a cerveja.

Ele bebe e não fala mais. Eu dou-lhe alguns pontapés por baixo da mesa. Sou ignorado.

- Jungkook. - Digo. - Não me respondes porquê?

Ele fica com uma cara muito séria a olhar para mim.

- Está tudo bem? - Pergunto, pegando na mão dele. - Precisas de ajuda?

Ele respira fundo e começa a falar.

- Esqueci-me de pedir sem gengibre. - Começa a tossir. - Eu não gosto.

Eu olho para ele sério. Não sabia se ria ou se me chateava. Decidi apenas encostar-me na cadeira e beber a minha cerveja.

- Agora sou eu que pergunto se não me dizes nada. - Diz ele.

- Não tenho nada a dizer. - Respondo seco.

- Ficaste assim por eu não gostar de gengibre? - Olha-me surpreso. 

- Estou assim porque me preocupaste com algo desnecessário! - Digo num tom de voz mais alto. - Bastava teres dito logo!

- Calma, Jimin. - Ele toca-me na mão e eu afasto-a de forma repentina.

- Calma, o caraças! - Digo e levanto-me. - Podias tentar não ser tão parvo às vezes! Não sei! Digo eu, se calhar o parvo sou eu, já agora!

- Por acaso, estás a ser parvo. - Diz ele muito calmo. - Não percebo essa raiva toda!

Eu arrumo a cadeira, pego no meu manto e saio do Três Vassouras. Não percebo. Porquê? Havia necessidade? De discutir? Arranjar uma confusão desnecessária? Não, Jimin, não havia! Feitio de merda o meu! Agora deixei o Jungkook sozinho e também não vou voltar, tenho de manter esta figura. Está frio, tenho frio. Porra! Estava tão bem lá dentro. Pareço parvo. A minha avó bem dizia: "Ou melhoras esse feitio ou eu digo ao teu tio." Nunca percebi, nem hoje, nem tios tenho, enfim, deve fazer sentido, ou era só para a rima. 

Já passaram duas horas e nem sinal do Jungkook, será que ele ficou mesmo chateado? O meu pai dizia que a raiva nunca resolve nada e disse que o meu feitio deveria mudar, que sou igual ao meu avô, a minha avó até diz que eu sou a reencarnação dele, até de cara somos parecidos. É o que digo às vezes eles não parecem ser muito normais, mas até que dizem a verdade. Desde sempre que sou assim. Irrito-me com o ar, não sei porquê. Há dias piores que outros, não percebo. Às vezes não queria ser assim, mas sou, não posso fazer nada. O meu pai aconselhou-me um desporto para ver se controlava "a testosterona" que, segundo ele, era a causa do meu feitio. Tenho muitas hormonas a palpitar. Estou a crescer. Não queria nada. Crescer. Para quê? Quando podia ficar no colo da minha mãe enquanto o meu pai me fazia cócegas o dia inteiro. Mas não, tenho escola, tenho família para cuidar e agora um namorado que está chateado comigo ou eu estou com ele, ainda não percebi.

- Estás aqui? - Ouço uma voz conhecida. Olho para cima e eis Jungkook em carne e osso.

- Jungkook! - Levanto-me num impulso e abraço-o. - Desculpa, fui parvo, eu sei, não queria que te sentisses mal. Desculpa.

- Ei! Ei! Calma! - Diz ele no seu tom de voz calmo enquanto agarra o meu ombro. - Eu não estou chateado. Só fui comprar chocolates para ti. Normalmente fico mais calmo quando os como.

Eu olho para a mão dele que tem uma caixa dos meus chocolates favoritos.

- Obrigado, Jungkook. - Digo com um sorriso e beijo-o. - Amo-te, Jungkook




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