Sexualmente confuso

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Estávamos sentados em baixo de uma roseira, Thiago retirou de seu bolso um maço de cigarros baratos e sacudiu colocando alguns para fora, ele pega um e coloca entre os dentes e acende com um isqueiro que havíamos achado mais cedo em outra praça.

Éramos duas crianças de dezesseis anos sentados em balanços de uma das praças mais desertas do Rio de Janeiro, estávamos levemente embriagados e confusos com a vida.

"Você tem alguma certeza na vida?", perguntei ao Thiago enquanto retirava o cigarro dos lábios dele e colocando-os entre meus dentes cerrados.

"A única certeza que tenho é que sou um fodido sem futuro", Dei uma tragada enquanto ele ria. "E você? Tem?"

Eu olho nos olhos dele e depois levo meu olhar para o céu, seguro nas correntes de aço que suspendiam o balanço e faço um leve impulso para trás.

"Acho que não...", voltei a encarar Thiago que já estava no final de seu cigarro, ele traga e solta uma nuvem de fumaça que desmancha no ar em segundos, eu reparava em cada detalhe de seu rosto, em seus quase cachos. "Bem... Acho que não.... Acho que estou em uma crise de sexualidade" 

Ele riu.

"Sério, eu sempre olhei para as outras meninas e as achei bonitas, mas, ultimamente eu tenho feito isso com mais frequência" Em um único impulso me levantei do balanço e me posicionei bem em frente ao Thiago e o olhei, "Você acha que eu possa ser gay?!"

Ele riu, de novo.

"Acho que não, sei lá" Ele estende a mão para que eu o ajude a levantar.

"Você ligaria se eu fosse?" Ele respira fundo e me olha sério, pela primeira vez em onze anos de amizade ele me olha desse jeito. 

"Eu não tenho que ligar para isso" Ele ficou em pé  e me puxou para o seu peito, iniciando um abraço "Eu sei o que você é, e você é incrível, você não precisa de rótulos para isso. Se você quiser transar com meninos, transe, se quiser transar com meninas, me chame para assistir." Ele me deu um beijo na testa e deu uns tapinhas em minha cabeça como se eu fosse um cachorro, Thiago sabia fazer de tudo, menos cafuné. 

"Então tudo bem para você?" Envolvi sua cintura com meus braços, correspondendo o abraço "Quer dizer, tudo bem se eu pegar mais meninas que você?"

Ele riu.

"Isso nunca vai acontecer"

Rimos

E depois de tudo, continuamos ali, sentados, levemente bêbados, vendo o sol nascer, fumando e rindo da vida. 

Sobre Todas as CoisasOnde histórias criam vida. Descubra agora