Sobre Carmilla

318 23 1
                                    

 6:30 AM

O barulho do relógio a incomodava, seu pêndulo balançando de um lado para o outro cantava um "tic-tac" agonizante que a fazia lembrar de filmes de terror, vítimas e assassinos em casas de época. Sua cabeça latejava. O sol já tentava entrar por quaisquer frestas que haviam em sua janela mas era impedido por sua cortina blackout. Ela virava de um lado para o outro, sua vontade de levantar era nula, os passarinhos de seu vizinho assobiavam desafinadamente o que só piorava sua dor de cabeça.

Suspira, faz uma força qualquer para se sentar na cama, procura suas pantufas com os pés. Se levanta e vai de encontro com seu banheiro, vai se despindo enquanto caminha e jogando suas roupas por qualquer canto, entra no box e liga o chuveiro. Sua pele arrepia com o primeiro jato de água gelada. Sua mão caminha pelo seu corpo suavemente, deslizando por cada curva. Sua pele era branca e era macia como pele de criança, em seguida, seus dedos caminharam pelo seu cabelo recém tingido.

6:50 AM

Enrolada em apenas uma toalha fina ela caminha pelo corredor em direção a cozinha, quando finalmente chega no local que era decorado e pintado em cores entre laranja e amarelo e alguns tons de verde, sua casa costumava a combinar com ela, mas agora não mais. Ela se desenrola da toalha e envolve seus cabelos com a mesma, ficando apenas com uma cueca boxe que achara em seu armário.

Now I find that days slip through in loneliness

Ela prepara algumas torradas e um suco verde para beber, coloca um ovo para cozinhar, pega um pote de verduras já prontas na geladeira, deixa tudo em cima da mesa e vai se vestir. Ela havia decidido se dar um último dia, faria tudo o que vinha planejando a anos. 

Sua vida havia se tornado vazia, solitária e sua dor se tornou do tamanho do mundo. 


Passou a manhã toda escrevendo para as pessoas que gosta, e por mais que ela nunca fosse publicar, ela finalmente encerrou o seu livro, completando o vigésimo capítulo. Quando a fome bateu ela foi ao restaurante favorito e pediu seu prato predileto, macarrão ao molho branco e filé de peixes acompanhado de batata frita, ela saboreou lentamente cada garfada.

Ela assistiu o mesmo filme de sempre mais uma vez e riu como se fosse a primeira vez, chorou mais uma vez com sua música favorita.

E então, a hora chega.

17:50 AM

O Sol já estava se pondo e ela sabe que é a hora perfeita, que é o momento certa. Ela se levanta de seu sofá, o seu companheiro nas últimas horas, ela caminha até o sua sacada e se senta no parapeito e observa o céu.

Now my suicide is lit by the sunset

Ela fica ali, contemplando o sol se pôr e a lua e as estrelas surgirem no céu, ela sempre foi apaixonada por tudo que se relacionava com os astros e o universo e queria ficar ali, observando sua maior paixão, sem se importar com mais nada.

O celular desperta avisando que já era sete e vinte da noite, ela desce do parapeito e caminha para seu banheiro, pega tudo o que precisa no armário embaixo da pia, remédios e giletes, coloca em cima da pia. Ela liga o chuveiro e começa a encher a banheira.

Ela entra na banheira sem mesmo tirar suas roupas, estica o braço para pegar os remédios e giletes em cima da pia. Ela retira todas as pílulas das cartelas e então coloca uma a uma na boca e as engoliu à seco. Logo elas começam a surtir efeito, então ela pega a gilete e corta rapidamente seu pulso esquerdo e logo seguida tenta cortar o direito mas falha. Ela já estava fraca o suficiente para não conseguir erguer sua mão esquerda, sua visão estava ficando turva e escurecia lentamente.

E enfim, paz.

Sobre Todas as CoisasOnde histórias criam vida. Descubra agora