As Terras Assoladas

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Repentinamente eu já não estava mais na sala de tortura de Julia. Não sei a partir de quando eu havia começado a andar e nem como fui parar ali, naquele lugar gelado. Ainda era noite, mas no chão eu via o branco da neve, ou seria outra coisa? Gelo mesmo talvez, um gelo não natural, estranho. Ao longe eu via enormes esqueletos, era estranho os enxergar, pois aquela escuridão ainda me acompanhava, mas mesmo assim eu enxergava os estranhos esqueletos retorcidos e gigantes. No chão apena o gelo. Eu tinha aquela sensação que temos de ver alguém de soslaio que quando olhamos já não está ou nunca esteve ali, mas que temos certeza que está ali, nos espreitando, apenas esperando um vacilo para nos apanhar e... e sei lá o que. Mas que está lá.

Tique taque. Tique taque. Tique taque.

"Isso é tudo que sobrará" – ouvi dentro de minha cabeça uma voz masculina e calma.

_Como? – respondi.

Mas não ouvi mais nada, somente aquilo que provavelmente veio de dentro de minha cabeça. Tenho a impressão de estar andando já ha horas por vários quilômetros e também que mal me movi de onde estava seja lá de onde for que sai. Aquela sensação na nuca e na espinha ainda me acompanha. Aquela presença ainda me acompanhava. Aquela sensação que sentimos ao andar no escuro, onde temos a sinistra certeza de estarmos sendo seguidos de perto. A sensação de garras próximas às nossas costas prestes a nos agarrar sem nunca nos alcançar, mas que sabemos que VAI nos pegar.

"Não vai sobrar nada"

_Quem é você? O que quer? Pode me ajudar, por favor?

Nada. Sem resposta como antes. Finalmente alcancei um dos esqueletos gigantes. Uma imensa e grossa arvore de tronco branco de madeira morta. Parece uma mensagem maldita e bizarra. Tudo que encontrei ate agora foi morte. E agora encontro mais coisa morta. Agora percebo onde estou. Estou numa floresta onde só existem arvores mortas. Sinto que estou em um lugar muito antigo e morto, mais antigo que o tempo.

"Isso mesmo, é só o que vai sobrar. Morte e mais nada. Vou sugar cada alma de seu mundo."

_Como assim? Quem é você?

"Sou a morte, sou apenas a sombra do que já fui antes."

_Antes? Antes de que? Quem é você? O que quer de mim?

Nada de novo. Silencio.

_RESPONDA!

E mais uma vez nada. A voz vem de dentro de minha cabeça. Estarei eu finalmente enlouquecendo de vez? Ou já estou louco desde o inicio? Quanto mais andava mais arvores mortas eu via, mais nada.

"Isso é o que sobrou de meu antigo lar. Destruí tudo, fiz questão de não deixar nada vivo."

_Mas que lugar é esse? – perguntei.

Encontrei o que parece ser o leito de um rio que não existe há muito tempo. Aqui um dia deve ter tido muita vida, mas agora só o nada congelado.

Tique taque. Tique taque. Tique taque.

Alguma coisa me acerta pelas costas e me joga para longe. Levanto de um salto e procuro, mas não vejo nada. Mas é claro que não posso ver nada, tudo é escuridão em todos os lados que olho. Foi como ser acertado por uma imensa cobra.

Tique taque. Tique taque. Tique taque.

Frio, frio, frio. Muito frio. Percebo agora que o frio chega a doer no fundo da alma além do que já estava. Outra vez sou acertado, dessa vez na barriga, fui arremessado e fui dar com as costas num dos esqueletos gigantes.

Sinto um enorme desespero no centro do estomago, mas ainda não enxergo nada. Não sei se estou desesperado por não ver quem me ataca ou por alguém falando em minha mente ou pela presença maldita que sinto o tempo todo. Ou esse maldito tique taque. Aos poucos vou perdendo os sentidos.

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⏰ Última atualização: Oct 19, 2017 ⏰

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