Survivor

30/09/2027 - Muros fechados

     Eram quase seis horas da manhã quando eu saí da cama, coloquei minhas roupas novas e desci as escadas, sinceramente estava me sentindo um pouco desconfortável com tanto pano por cima, mas tudo bem. Chegando na cozinha todos menos Wander já estavam acordados, sentados à mesa, Isadora disse que eu deveria me sentar que tudo estava uma delícia, essa foi a primeira refeição de verdade que eu já vi em cima de uma mesa nos últimos anos, na mesa estava repleta de pães, queijos, café, leite e muitas coisas que eu nem lembrava mais o gosto. Antes que eu pudesse comer, Lucius tirou um pouco do meu sangue dizendo que analisaria no laboratório mais tarde, logo depois disso comi até não aguentar mais.

      A diferença entre a realidade dentro dos muros de Aurora e o que eu vivi do lado de fora eram gritantes, não conseguia entender de forma nenhuma como as pessoas dali conseguiam viver de maneira tão normal ali dentro enquanto pessoas morriam ou viravam monstros do lado de fora. Sem respostas para essas perguntas, resolvi perguntar a Lucius sobre isso e ele me aconselho a fazer algo que eu já tinha em mente para fazer, sair e dar uma volta pela cidade. Sem pensar muito, eu resolvi sair e chamei Isadora para vir comigo, ela concordou na hora, senti que ela estava curiosa para saber mais sobre aquele lugar.

      Andando pelas ruas da cidade foi possível notar a existência de televisões, jornais e rádios, pessoas andando pelas calçadas, enquanto bicicletas passavam pelas ruas estreitas, aparentemente não haviam carros ali além de alguns veículos da Milícia espalhados por alguns cantos distantes da cidade, os prédios eram bonitos em bem feitos e a cidade em si era muito limpa. O mais interessante é que todos os meios de comunicação e mídia apenas noticiavam sobre acontecimentos locais, tudo que acontecia dentro dos muros de Aurora e de sonhos para um futuro que eles consideravam próximos, onde o lado de fora poderia ser habitado novamente. Quando eu ouvi isso eu parei por alguns segundos e Isadora chegou perto de mim e disse "Como assim habitado novamente?", eu respondi a ela que não tinha entendido bem mas que achava que a sociedade deveria ali dentro deveria viver sobre uma espécie de lavagem cerebral, onde eles acreditavam que não havia vida do lado de fora e que quem saísse daqueles muros provavelmente morreria.

      Naquele momento, eu e Isadora andávamos pelas ruas como se fossemos um casal de jovens descobrindo brinquedos novos em um parque de diversões. Andamos até chegar em uma praça pequena com uma fonte de água, nos sentamos em um banco em baixo da sombra de uma arvore e ficamos um bom tempo vendo o quão normal era a vida das pessoas que viviam ali. Depois de minutos sentados no banco, uma voz familiar se aproximou de nós, era Wander, ele sentou ao nosso lado e disse "Viu, a vida aqui é perfeita sem nenhum problema, as pessoas aqui são vivem como se não houvessem problemas no mundo, mas nem é por que eles não querem saber é por que não os deixam saber. Olha só, vou te mostrar qual é o sonho das pessoas daqui" Ao terminar de falar ele chamou uma mulher que estava perto da fonte e perguntou para ela qual era o maio sonho que ela tinha, ela respondeu sem pensar "Meu sonho é ir para Adelhide".

      Adelhide era a ideia vendida pelo governo e a Milícia de cidade perfeita, onde seus sonhos seriam reais, onde a vida era perfeita para todos, realmente, existiam Deuses que andavam entre humanos com poderes infinitos de levar pessoas para o "paraíso" de moldar sociedades e controlar as mentes das pessoas. Com isso eu sabia que Aurora não era a única cidade e que as outras que haviam ainda seriam maiores que ela, agora eu já tenho uma noção do que está acontecendo.

      Voltamos os três juntos para a casa de Lucius que nos recebeu dizendo que já tinha alguma ideia do por que Eu e Isadora sobrevivemos ao ataque em Aspen, mas é hora do almoço e a comida já começa a cheirar bem, as respostas ficaram para a próxima página.