Cap 33: Cicatrizes antigas

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"Você é a cicatriz na minha pele
Você é o passado que não quero apagar
Você é as palavras nos meus lábios que me restam
Mas ainda sinto seu gosto
Talvez eu esteja cansada demais para continuar mentindo..."
Lost My Mind

Misaki on*

Por alguma estranha razão estava incrivelmente concentrada no nada. Minha cabeça girava e girava enquanto minha mente se perdia em um mar de pensamentos alheios, odiava essa sensação, ela fazia com que eu me afogasse em pensamentos antigos, trazia sentimentos à tona. Costumava pensar comigo mesma que éramos como um eclipse sabe? Ele era minha lua, sombria, presa em seu próprio mundo, eu era como um sol, brilhante de inocência, ele era minha impureza, juntos éramos o eclipse, junção de dois "mundos" tão diferentes que se entendiam tão bem. Era incrível a facilidade que Jeff tinha em invadir meus pensamentos de modo tão repentino. Minha eterna lua, minhas noites sem ele eram tão solitárias. Em minha pequena lógica ele se encaixava mais na lua mas era meu sol, era ele quem fazia meu dia valer à pena, minha luz, eu estava perdida na minha própria escuridão sem ele.

Ele era a cicatriz na minha pele, sempre estava ali para me trazer pensamentos e arrependimentos antigos à cabeça, e ainda sim me fazia bem de certa maneira. Mesmo machucando era ele quem aliviava minha dor. Só não conseguia decidir se valia à pena toda aquela tortura por pequenos momentos de alegria. Minha falha balança de consciência infelizmente não pensava com razão.

Estava tudo bem apesar disto tudo, mesmo afogada em sentimentos eu sabia que Jeff era como um salva vidas para mim, ainda tinha a vasta esperança que fosse me salvar daquele vasto oceano. O problema foi quando comecei a pensar em outras coisas: Brian. Tão malvado, metido a sabe tudo, ele pensava que o mundo girava a seu redor, mas ainda sim ao meu ver ele parecia tão... perdido. Como se tivesse perdido a mente, ele parecia mais perdido que eu mesma.

-E-ei...- Ouço Jeff dizer, viro-me e o vejo caído no chão com a boca sangrando, mais um efeito do gás.

Começo a me desculpar enquanto vou em sua direção, ele estava me chamando há um pouco tempo mas eu estava perdida demais para ouvi-lo. Afogada demais para ser salva, caindo eternamente em um abismo de sentimentos que eu mesma construí, provando das "maravilhas" que meu país me proporcionava, tão perdida quanto a Alice vagava procurando entender algo.

-N-não precisa me ajudar mais! -Ele disse batendo em minha mão a empurrando para longe e tentando se levantar. Mantinha o semblante orgulho com a postura reta como sempre mesmo machucado ele não conseguia deixar seu orgulho de lado.

Ao se levantar começou a andar para o fundo da cabana, mais especificamente o quintal, conforme ele andava eu pude sentir uma distância enorme entre nós, ele tinha essa grande habilidade de estar tão próximo a ti que você poderia jurar se aconchegar em seus braços à noite, mas tão longe como se a cada minuto construísse um grande muro entre nós. Ódio, era apenas isso que essa sua ação me despertava, um tremendo e profundo ódio. Enquanto ele construía esse grande muro apenas para nos afastar, eu o quebrava aos poucos, o problema é que eu me machucava muito no processo. Acho que se eu pudesse deixar minha alma visível a todos, possivelmente seria a pessoa mais solitária do mundo, meus inúmeros cortes e machucados iriam estragar completamente minha máscara rígida e delicada de um sorriso feliz. Máscaras, porquê todos nós seres humanos gostamos tanto de usá-las? Para ser sincera esse objeto me encanta ao mesmo tempo que me amedronta. Ele pode ser tão útil, fazer com que pensem que você está bem quando na verdade está desmoronando aos poucos por dentro. Pode fazer com que seja um anjo aos olhos dos outros quando na realidade oculta seu monstro interior. Quando digo outros para falar a verdade não me refiro apenas as outras pessoas, estou incluída também, todos somos vítimas das máscaras, todos somos enganados em algum momento, todos somos vítimas dos humanos. Humanos, somos criaturas tão engraçadas não acha? Narcisistas egoístas que se escondem atrás de máscaras lindas e bem decoradas de pessoas normais, não acredito que existam pessoas normais de fato, para mim somos todos loucos, humanos não passam de fugitivos de um hospício chamado vida. Não posso negar que somos sim bons em alguns momentos mas é tão difícil saber afinal quando nós humanos queremos muito algo mentimos. Gostaria de saber quem inventou a mentira e dar neste um soco bem dado no rosto.

Afogando. Mesmo que você quisesse nadar me procurando não me acharia mais. Afogada em palavras nunca ditas. Olha que ironia, palavras podem tanto salvar quanto matar alguém.

Quando me encontro com a realidade novamente vejo que Jeff não estava mais dentro da casa, eu estava sozinha naquele ambiente escuro e sombrio. Corro apressada em direção à varanda onde o encontro sentado em uma cadeira olhando fixamente para a floresta, aquelas árvores grandes e misteriosas me davam arrepios incontroláveis, você nunca sabe o que pode de fato estar ali.

Assim como eu Jeff também estava perdido em seu próprio mundo, às vezes me pegava tanto imaginar o que ele tanto pensava mas obviamente falhava, é isto que acontece quando tentamos entrar de penetras no mundo dos outros: Somos barrados na porta. Isso me matava por dentro, queria fazer parte de seu mundo, tentar entendê-lo, mas mesmo que tentasse ele me parecia um enigma indecifrável, por mais que eu quebrasse a cabeça nunca conseguia a chave de acesso ao seu mundo, estava sempre trancada do lado de fora.

Como se o céu me entendesse começou a chorar sobre nós, uma grande e forte chuva e por mais louco que parecesse mesmo molhados e com um frio não saímos da chuva, pelo contrario ficamos nela. Parados olhando as árvores, estávamos perdidos em nosso próprio mundo sendo apenas estrelas vagando e decorando um universo sem graça. A culpa é das estrelas, se estrelas fossem pessoas esse título me faria mais sentido, a culpa é nossa seres humanos.

-Porque saiu daquela maneira? -Perguntei em tom de culpa culpando o "silêncio" que estava sobre nós. Era tão estranho que chegava a ser engraçado, éramos tão próximos mas tão distantes, e isso fazia com que nem mesmo o barulho da chuva pudesse quebrar nosso silêncio interior. Isso me faz lembrar da pergunta "quantos gritos cabem em um silêncio?" Para mim o silêncio é o grito mais forte dentro dele há apenas o vazio de nossos corações que após ficarem tranbordando sentimentos indesejados se secam ficando frios e duros vítimas de um mundo cruel, vítimas de um mundo real.

Ele me dirigiu seu olhar lentamente e como eu pensava ele estava perdido, seu olhar frio agora estava um pouco mais aquecido, sua escuridão tinha um pouco de brilho, era muita coisa para ele.

-Não sei. -Respondeu mostrando-se sincero. -Precisava vir aqui, apesar de não saber o porquê. Precisava dessa chuva me molhando, talvez ela consiga lavar minha alma.

-Te entendo. -Disse me sentando na grama ao seu lado. - Era assim que eu me sentia antes de te encontrar, sabia que precisava ir a algum lugar mas não sabia aonde. Sabia apenas que eu não pertencia aonde estava.

Curiosamente a chuva parou e dentro de pouco tempo conseguimos avistar um arco-íris ao longe, tão belo e cheio de cores iluminando aquele céu cinzento e sem graça.

Rápido e sem qualquer tipo de aviso prévio Jeff me deitou de forma bruta (isto porque como deve ter imaginado ele não conseguiria ser delicado mesmo que quisesse) na grama e ficou um pouco acima de mim deixando um pequeno espaço entre nós que logo foi quebrado, selando seus lábios nos meus seu ato me trazia pequenas lembranças quase esquecidas do meu primeiro beijo, //cap 11// apesar de bom eu ainda não havia me acostumado com aquilo, a distância e ao mesmo tempo proximidade que tínhamos me deixava extremamente confusa, mas estava disposta a passar aquilo por ele.

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Onde histórias criam vida. Descubra agora