Cap 36: Uma Dose de Passado (Part 02)

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"Penso em você ao nem pensar
Pouco a pouco o coração
Vai perdendo a fé
Perdendo a voz
...
Salva-me da escuridão
(Salva-me do aborrecimento)
Não me deixes cair jamais
Me proponho a continuar
Mas o amor é uma palavra
Que às vezes gosto de esquecer..."
      –Salváme (Rebelde)

Ali naquela pequena sala que cheirava a lembranças esquecidas, por alguma razão nossa distância me incomodava um pouco mas sentia que me aproximar seria como invadir seu espaço, não vou mentir assim como quase tudo ultimamente, aquilo me machucava, deixava um nó na minha garganta, um grito preso no silêncio. Entretanto, suspirei fortemente numa falha tentativa de fazer aquilo pesar menos dentro de mim, aqueles sentimentos eram muito pesados, havia os carregado comigo por um longo tempo, esquecidos num canto qualquer da minha memória, tocar tão repentinamente no passado fazia com que aquela ferida voltasse a arder, não estava 100% curada.

Eu pensei que pela demora Jeff talvez viesse a reclamar ou me apressar para contar tudo logo, mas não, ele não o fez, pelo contrário, pacientemente ele esperou hora lançando seu olhar frio e calculista as paredes da casa, hora me olhando, mais uma vez seu olhar parecia perdido, acho que ele assim como eu se perguntava sobre como chegamos a este ponto. Não me entenda mal, eu amava Jeff, mas havia tudo sido até rápido demais, arriscado demais, algumas vezes cheguei a pensar que talvez aquilo não valesse tanto à pena assim, pensei inúmeras vezes em desistir, mas é nestes momentos que o amor nos guia, levanta e nos faz continuar, mesmo cheio de feridas e cicatrizes não curadas você encontra um motivo para lutar. Mesmo que ele tenha me machucado tanto eu acho que no fundo eu precisava conhecer alguém como Jeff, eu estava completamente perdida sem ele, caminhando numa vasta escuridão, ele foi minha luz guia, me afogando em uma densa depressão, ele foi como um salva vidas para mim, me puxou e me salvou daquelas águas frias nas quais estive aprisionada por tanto tempo.

Naquele momento o tempo me parecia tão congelado, parecia que nunca ia passar, aquele silêncio diferente dos demais não era tão perturbador, ele parecia falar por nós palavras nas quais não éramos capazes de entender, isso fazia com que eu ingenuamente pensasse que éramos "feitos um para o outro", pois Jeff era a única pessoa na qual eu conseguia não falar e mesmo assim me comunicar, estar tão distante e tão perto, era algo tão inexplicável, tão unico. Queria poder algum dia explicar exatamente como toda aquela grande aventura de estar ao seu lado era, mas acho que isso sempre fará sentindo apenas a nós dois, sempre será algo que veremos com mais clareza, melhor dizendo.

"Se as pessoas fossem chuva, eu seria garoa, e ela furacão", outro sábio livro havia me dito isso. Jeff estava mais para um tsunami do que um furacão sendo bem sincera, ele não só destruía tudo ao seu redor com seu jeito psicótico e controlador, ele afundava tudo com ele, suas águas fortes tiravam tudo das pessoas pouco a pouco. Já eu seria sempre a pequena garoa, aquela que caía por qualquer coisa e se secava rapidamente por obrigação sendo apressada pelo grande e caloroso verão. Tsunami e garoa, ele arruinava tudo ao eu redor, eu lavava com minhas águas rasas e depressivas, ele levava tudo consigo, eu deixava tudo de mim ali. Distintos, distantes e inalcançáveis um para o outro. Isso me fez pensar em outras inúmeras coisas nas quais poderíamos ser. Ele inverno, congelava tudo com seu frio solitário, eu primavera, dançava ingenuamente sobre as flores alheias sem me preocupar com nada. Ele uma droga, viciante, te deixava no chão pedindo por mais, eu uma ceringa usada para aplicar falsas esperanças, usada para enganar. Ele uma rosa, tão linda mas tão cortante com inúmeros espinhos, eu girassol, alegre e sorridente na luz do sol.

-Meu pais nem sempre tiveram uma boa condição como parecia. -Disse quebrando o silêncio que ali reinava como uma rainha cruel e perversa. Desde que eles haviam morrido eu nunca havia falado deles, só agora me parecia cair a ficha, eles não estavam mais ali, nunca mais estariam. Isso também me ensinou algo no qual me fora necessário aprender: Apesar de tudo, continua. E o que quero dizer com isso? Simples, independe de qualquer machucado, qualquer perda, tombo, você continua, continuamos por algo ou alguém, essa é a vida, um ciclo vicioso de recaídas e erguidas, caímos para nos levantar.

Seus olhos agora estavam vidrados em mim procurando me ler de alguma forma, aquelas íris tão negras que me atraiam tanto tinham uma aparência agora tão controladora, como se quisesse arrancar mais e mais de mim, mas não sabia como.

-Quando eu tinha 5 anos nos mudamos para os Estados Unidos, papai dizia que seria mais fácil ganhar a vida por lá mesmo com a mamãe e eu insistindo em ficar no fim ele acabou fazendo o que queria... -Sempre era assim, papai meio que mandava em tudo, eu odiava isso mas não podia fazer nada. -Lá eles tiveram uma melhor proposta de emprego, assim como o esperado, foi desse lugar que depois de tanto trabalhar meu pai conseguiu dinheiro o suficiente para abrir sua própria empresa. Porém...

Suspirei fundo, não me sentia preparada ainda para falar daquilo, apesar de não me incomodar mais tocar naquela ferida daquele jeito me fazia lembrar, aquelas malditas lembranças não haviam ido embora, pelo contrário apenas se esconderam em minha cabeça e agora giravam por ela de forma cruel e impiedosa.

-O dono dessa espresa tinha dois filhos, um mais novo que na época tinha 2 anos, e um mais velho de 16... -Suspirei mais pesadamente, havia chegado ao ponto mais difícil de prosseguir. - Havíamos entrado ilegalmente no país, se soubessem disso papai teria inúmeros prejuízos inclusive perderia tudo o que tinha conquistado. Eu estava feliz com nossa situação atual financeira... O mais velho, Jack, era bem próximo de mim... Eu...

Sem permissão uma pequena lágrima escorreu pelo meu rosto, limpei-a rapidamente com medo de que Jeff a tivesse visto, não queria parecer fraca em sua presença, ele ia começar a falar algo quando o interrompi continuando a história.

-Ele havia ficado em casa naquele dia para cuidar de mim, meus pais voltariam mais tarde portanto precisavam de alguém para me olhar e garantir que não fizesse nenhuma besteira... -Soltei um pequeno riso com isso, mesmo sempre ter sido responsável mamãe pensava que poderia botar fogo em casa a qualquer momento. - Então, depois de umas duas horas que eles se foram, ele tentou... Me puxou com força para o quarto enquanto seu irmão mais novo (que também havia ficado conosco) dormia na sala, eu tentei gritar mas não havia ninguém para me escutar, não adiantava... Tentei ser forte, mas era tão fraca, incapaz de lutar...

-Espera... Quer dizer que ele... -Jeff ia dizendo com seus olhos afastados dos meus evitando me olhar, parecia falar mais consigo mesmo do que comigo, perdido em suas próprias teorias.

-Não, ele não chegou a fazer isso, não teve a chance. Assim que ele me jogou bruscamente na cama seu irmão acordou, ele não teve coragem de fazer isso na frente de uma criança. Mas ainda sim me ameaçou, disse que se eu contasse iria dedurar que estávamos lá ilegalmente, não entendia quase nada de inglês mas essas palavras pude entender muito bem... Então eu me calei por... Todo esse tempo. Tive de viver mais dois anos com ele, até que este foi embora para a Alemanha, mesmo depois de sua jornada não tive coragem de falar nada, eu me sentia na obrigação de ser a garotinha perfeita, sabe?

Disse mesmo sem querer, odiava usar aquelas palavras, odiava falar do passado. Eu não era traumatizada pelo quase estupro, e sim pelo silêncio, ter ficado tanto tempo calada me traumatizou muito, me matou lentamente dia após dia, roubou cada pedaço puro e bom que havia em mim, eu havia me perdido completamente naquele silêncio, me quebrado e remoldado umas quinze vezes, apenas para cair ao chão novamente.

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Socorro! 1348 palavras aaaaaaa

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Onde histórias criam vida. Descubra agora