Capítulo 2
Uma semana depois...
Estou saindo da empresa às 20hs, estava tão cansada, e só esperava que no final tudo desse certo.
Os preparativos para a viagem estavam me deixando louca, meu medo de esquecer qualquer detalhe que seja, estava me levando ao desespero, mal dormi e comi durante essa semana, minha agenda e meu celular estavam com tantas informações que nem sei se acharia quando precisasse delas, tudo foi muito rápido e corrido, mas agora faltava pouco para a viagem.
Ainda bem que algumas coisas ficaram por conta da secretária, senão eu piraria com certeza. Ao pensar nisso, lembro-me que não confirmei sobre o dia e hora das passagens, droga!
— Oi, conseguiu marcar as passagens? —indago ao celular a Janaína, secretária do Planeta Pesca. Nós éramos as únicas mulheres na empresa. Uma das melhores coisas nessa empresa, era ter seu quadro de funcionários formado por homens, nunca tive problemas com nenhum deles, todos sempre me respeitaram, sem contar que o nível de aborrecimentos e falsidade diminuía muito.
— Estão marcadas para daqui a dois dias. — responde seca.
— Ok, Janaina, obrigada. — ela tinha parado de falar comigo, desde que chamei sua atenção por seu comportamento com os funcionários, vivia se insinuando para eles, sei que ainda continua, mas tenta disfarçar, eu como gerente de setor, não podia admitir isso.
Estou na empresa há cinco anos e fui conquistando meu espaço com muito trabalho, respeito e responsabilidade. Nunca precisei de outros métodos para conseguir meu objetivo. Entrei aqui como vendedora e hoje liderava a equipe de vendas e queria mais para mim, mas conseguiria de maneira honrada e digna. Por isso, não desperdiçaria essa oportunidade fora do país. Iríamos para uma feira de exposições em Miami e não iria com tantos homens como o ridículo do Caio quis dizer, apesar de eu liderar uma equipe de 31 homens, iríamos somente eu, o Sr. Marcos, dono da empresa, e os dois melhores vendedores: Luis e Gabriel.
O Sr. Marcos estava radiante, era uma oportunidade maravilhosa para a empresa, uma chance imperdível de conquistarmos outro país, ainda mais nesse tempo de crise que anda o Brasil, só quem não entende isso é o idiota do Caio.
Dois dias depois...
—Dona Isaura, eu volto em uma semana, a senhora não se incomoda mesmo de vir aqui colocar comida para o Igor?
— Claro que não minha pequena, vai tranquila, eu cuido da casa e do Igor. — seu sorriso acolhedor sempre me encantava e me passava uma segurança absurda.
— Obrigada, eu ligo para a senhora assim que chegar a Miami.
— Vai com Deus, minha pequena, que Deus te abençoe e te guarde. — a abraço e entro no táxi.
Há dez anos desde que minha mãe resolveu abandonar a única filha com 15 anos de idade sozinha em uma casa de dois cômodos caindo aos pedaços, com uma cama de casal apoiada em tijolos, um fogão de quatro bocas que só funcionava uma, uma geladeira velha, mais tão velha, que congelava tudo ao invés de resfriar. Um telhado que era tão deteriorado que chovia mais dentro de casa do que fora. E isso foram as melhores coisas que me deixou, se for pensar no resto, começariam todos os meus questionamentos novamente e já passei por isso, o importante é que sobrevivi e segui em frente, só voltei a pensar nisso por conta do carinho que recebo da dona Isaura, como desejei que ela fosse minha mãe ao invés daquela que foi embora sem nem se importar com o que deixaria para trás, como se eu fosse um objeto que a incomodava ou que enjoou de usar, me descartou, foi viver sua vida e nunca mais voltou. A não ser pela minha ex-vizinha, que é um anjo em minha vida, estive sozinha durante todo esse tempo, me virando como dava. Ela me chamou para morar em sua casa na época, mas tem 5 filhos e sua casa com apenas quatro cômodos, sabia que seria mais sacrifício para ela, então encarei minha realidade, continuei estudando de manhã e tomando conta de crianças a parte da tarde para ganhar uns trocados, no início mal dava para a comida. Assim que fiz 18 anos, consegui meu primeiro emprego de verdade em uma lanchonete, depois fui para uma loja de shopping, mas não fiquei muito tempo lá, pois logo comecei o estágio no escritório do irmão do Sr. Marcos, por conta da faculdade e assim fui parar na empresa Planeta Pesca.
O Sr. Marcos é como um pai para mim, ele me permitiu terminar a faculdade de Administração, e fazer meu tão sonhado curso de inglês.
Bom, não que eu saiba descrever como um pai deva realmente tratar um filho, nunca conheci o meu, nem seu nome eu sei, na verdade acho que nem aquela mulher que se diz minha mãe, sabe, e a Dona Isaura, sempre criou os cinco filhos sozinha, então, não tenho referência de um bom pai, mas acredito que um pai de verdade, quer o melhor para os filhos.
— Chegamos, moça, aeroporto.
— Obrigada. —puxo minha mala pelo saguão do aeroporto, um tanto perdida, seria minha primeira viagem internacional e também de avião, estou sentindo um misto de euforia, ansiedade, curiosidade, tudo junto.
Depois de me informar, me encaminho para o embarque, olhando de um lado para o outro procurando o Sr. Marcos e os meninos, mas não os vejo.
Faço meu check in e me dirijo a sala de embarque, nada deles. Que estranho.
— Janaina, boa noite, você passou o horário direitinho para o Sr. Marcos, Gabriel e o Luis? Ainda não chegaram.
—O voo deles está marcado para amanhã, não consegui todos no mesmo voo. — declara como se não estivesse dizendo nada demais. Vaca! Fez de propósito, tenho certeza.
—Ok, Janaina, o meu hotel é aquele mesmo que me enviou por email? —indago calmamente, mas queria matá-la, minha intenção era aproveitar o tempo de voo para ir acertando alguns detalhes da feira com eles. Não imaginei que essa vaca, faria isso.
— Sim, o seu é o que enviei para o email. — Sorrio e fecho os olhos tentando ficar calma.
— Deixa eu adivinhar, também não conseguiu vaga para eles no mesmo hotel? — Mantenho minha voz a mais tranquila possível, não daria esse gostinho a ela.
— Pois é, eu tentei achar um que hospedasse os quatro, mas todos estavam lotados, acho que por conta da feira. — Seu tom era debochado.
— Claro! Entendo, obrigada por me avisar, agora.
— Me desculpa, Isabella, eu realmente achei que tinha feito uma nota no seu email, explicando. — cínica!
— Claro que achou, afinal, você é muito eficiente! Agora preciso desligar. — desligo sem esperar sua resposta. Não queria fazer isso, mas teria uma conversa com o Sr. Marcos sobre sua atitude, dei uma chance a essa vaca e nunca gostei de "fofoquinhas", com o chefe, mas ela passou dos limites.
Avisto uma loja onde tem revistas a venda, parece uma banca de jornal, só que muito mais chique, ainda falta quase uma hora para o embarque, vou comprar algo para ler. Pego minha bolsa e bagagem de mão e sigo até lá, entro e quando vejo o preço de um simples jornal quase caio para trás e o coloco no mesmo lugar.
— Que roubo! —droga, eu disse isso muito alto? — olho para o lado devagar, fico preocupada de alguém ter ouvido, mas não vejo ninguém. Mas quando olho para o outro lado, um homem olhava-me de cima a baixo com um sorriso tímido nos lábios, merda! Desvio o olhar rapidamente, sei que devo estar da cor de um tomate bem maduro, ele deve estar me achando uma idiota, já que está cheio de revistas e outras coisas nas mãos que não consegui identificar bem. Depois do mico que paguei, não ia ficar encarando o cara e as coisas que estava comprando, problema dele se é burro de gastar dinheiro nessa loja, eu que não gasto o meu, não que não tivesse, mas ralo muito para conquistá-lo e não vou pagar dez reais num jornal que sei que custa três reais. Essa loja tinha que ser denunciada ao PROCON por preços abusivos.
***
Sou uma das primeiras a embarcar no avião, sou orientada pela aeromoça e localizo minha poltrona, claro, a vaca tinha que comprar a do corredor e não a da janela. Ajeito minhas coisas no bagageiro e sento-me verificando o celular novamente, nenhuma mensagem ou ligação do Caio, fecho os olhos com tristeza, claro que ele não iria enviar mensagem ou ligar, nunca fez isso em nenhuma de nossas brigas, era muito orgulhoso e prepotente para tal coisa. Achava-se o dono da razão, mas dessa vez eu não iria ligar e mais uma vez me desculpar por algo que não fiz. Esse namoro até que durou muito, preciso focar em mim e no meu trabalho.
— Oi, será que pode me dar licença? — abro os olhos e... choque misturado com vergonha tomam conta de mim. Obrigada aí destino! Tinha que aprontar mais uma vez comigo? Inacreditável! Com tantos voos saindo do mesmo lugar, o cara tinha que pegar o mesmo que o meu e se já não bastasse, ainda tinha que se sentar ao meu lado? Aí quando você ler uma coisa assim num livro, acha que isso nunca aconteceria na vida real, mas eu sou a prova de que acontece.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Sentença é Você
Romansa(DEGUSTAÇÃO) O livro está a venda NA AMAZON e na loja THE GIFT BOX Sinopse: Isabella descobriu desde cedo que o destino era implacável e às vezes até cruel. Passou grande parte de sua vida driblando os obstáculos e vencendo os fantasmas de seu pass...