As luzes ao redor piscavam, alterando as cores entre vermelho e roxo. Um holofote estava direcionado para o palco, tendo três dançarinas sobre ele. E eu era uma delas, estava me preparando para o meu solo no pole dance atrás de mim.
Mover meu corpo conforme a batida lenta da música não era difícil, bastava fechar os olhos e me imaginar rodopiando dentro do meu quarto, ou no estúdio improvisado que havia feito nos fundos do bar. Quando era adolescente, não era com aquele palco que sonhava um dia dançar e impressionar. Contudo, não passou de sonhos bons demais para serem realizados.
Eu precisava sempre dar meu melhor para não cometer um deslize e nem deixar os enjoos que sentia me afetarem a ponto de me fazerem falhar. Eu era a estrela daquelas apresentações que, para render mais dinheiro, dependia do meu esforço. Evitava encarar os clientes, porque não eram meu público favorito.
Mas quando a música chegava ao fim, meus olhos precisavam se abrir eu tinha que encarar aqueles olhares famintos, como se fossem predadores e nós fossemos suas presas. Homens mais velhos, altos, baixos, fortes, magros, era vários deles, todos os dias que em sua grande maioria, casados, sempre usando suas alianças douradas que pareciam não ter peso algum.
Não fazia parte do meu trabalho perguntar sobre suas vidas pessoais, eles apenas queriam se distrair e me usar como um objeto descartável. Comecei fazendo apenas danças sensuais, mas me vi ultrapassando algumas linhas perigosas porque precisava do dinheiro e, se eu fosse boa, eles pagavam até mais que o combinado. Não havia caricias, preliminares ou encontros. Era apenas sexo rápido e duro.
Ao fim de cada noite, me sentia suja, tanto a pele quanto a alma. Não conseguia encarar meu reflexo no espelho, porque não me dava orgulho o que eu via. Uma mulher bonita e gostosa para caralho, mas que estava tão vazia que podia ouvir as batidas do coração ecoarem, simplesmente por não ter nada para preenche-lo.
Mas tudo mudou quando o vi. Era uma quarta à noite, no fim da minha apresentação. Com o cotovelo esquerdo apoiado no balcão do bar, segurando um copo de conhaque com a outra, seus olhos intensos encontram os meus. Não consegui desviar o olhar, porque estava me sentindo completamente presa e hipnotizada por aquele homem bonito, elegante e charmoso.
Eu não precisei sentir a sua pele entrando em contato com a minha para saber que tínhamos uma forte ligação. Eu não precisei quebrar as regras do clube e beijá-lo para saber que o seu gosto se tornaria o meu preferido. Eu não precisei sentir prazer, pela primeira vez, desde que comecei a trabalhar como uma prostituta para saber que ele seria inesquecível. Eu não precisei de nada, pois o seu olhar foi o suficiente para arrebatar o meu coração e minha alma.
Foi o sonho mais bonito de toda minha vida.
Cinco anos mais tarde, poderia ainda estar flutuando nas nuvens que alcancei após ter sido resgatada por aquele cavalheiro em sua armadura composta por um terno escuro e cabelo desalinhado em sua bagunça perfeita. Eu realmente queria não acordar e encarar a realidade, mas não tinha mais como fingir que não estava vendo o que tínhamos nos tornado.
De amigos e amantes apaixonados, para desconhecidos que dividem o mesmo teto. Apenas isso.
Ryder Cohen era o melhor homem que já havia conhecido. O mais másculo e impetuoso. O mais bonito, como se tivesse sido esculpido pelas mãos de grandes artistas. Ele era uma arte, sombria e misteriosa. Era meu refúgio em noites de pesadelo e aconchego nas noites frias. Era tudo que sempre quis.
Mas este homem encantador se perdeu, em algum lugar pelo caminho. Talvez por minha culpa. Por sua culpa. Ou, simplesmente, porque não havia mais tempo para nós dois.
Chegar a essa conclusão que, poderia ser a mais idiota de toda minha existência, não iria recuar ou voltar a pensar.
Não se pode viver para sempre em algo que não parece real. Que não é.
Não se pode doar-se por inteiro a alguém que não doa nem mesmo uma pequena parte de si.
Não se pode amar de maneira solo. Não sem sofrer.
Não se pode viver um relacionamento a dois se só um quer tentar fazer dar certo.
Não se pode lutar por um amor que não parece mais existir. Não quando ele nunca sequer disse me amar.
Respirando fundo, empurro a porta que dava acesso ao seu escritório. O homem que me enfeitiçou estava sentado, de cabeça baixa, parecendo concentrado enquanto assinava alguns papéis. Faço um ruído com a boca, apenas para que ele notasse minha presença.
- Ryder... - sinto que vou desmaiar, então me agarro com mais força na maçaneta. - Eu quero o divórcio.
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El Perdón
DragosteFlorence Tate carregava uma bagagem pesada de sentimentos intensos e recomeços. Antes de ter a chance de mudar sua vida, trabalhou como dançarina da casa noturna mais famosa de Barcelona, a Insaciable. Por longos anos, precisou reunir forças e contr...