Chicago, 2019
F L O R E N C E
Inclinando um pouco a cabeça, estreito um pouco os olhos para observar o semblante indecifrável do homem que não fechou os olhos por nenhum segundo desde que entramos no seu jato particular. No dia seguinte a nossa noite intensa na banheira, pela manhã, embarcamos no voo que nos levaria direto para uma das situações que mais evitamos nos últimos tempos.
Iriamos rever Francis Cohen, o homem que me detestava e não me via sendo nada além de uma prostituta que queria manchar o nome da sua família e roubá-los. Foi isso que disse para mim, várias vezes.
— Pare de me olhar assim. Eu devia estar admirando você, não o contrário. — Ryder murmura, se virando para me olhar. — O que está passando por essa linda cabecinha?
Dou de ombros, mas sinto seu polegar começar a circular o dorso da mão que segurava, sem se importar com o suor que se espalhava em minha palma pelo receio que eu ainda tinha por estar a tantos metros acima do solo.
— Estamos pousando. — desconverso, não querendo preocupa-lo com meus pensamentos e sentimentos confusos. — Você está bem?
São poucos segundos, mas suas pupilas dilatam e suas íris escurecem. O azul cinzento se transforma em nuvens carregadas de sentimentos que simplesmente não derramam, porque sua resistência era maior que o que sentia.
— Uma coisa é arrumar as malas e entrar em um jato, outra é estar preparado para lidar com toda essa merda. — balança a cabeça e seus dedos apertam os meus. — Não sei se consigo, Florie.
— Você consegue, sim. — cubro as costas de sua mão com a minha, acariciando sua pele quente e contornando as tatuagens que tinham em seus dedos com o ano de nascimento de sua irmã Gemma. — Pode ser que não seja uma despedida ainda. Os melhores médicos do país estão cuidando do seu pai.
Suspira profundamente e desvia o olhar. Mas não me responde de volta, apenas se cala e eu sei que sua mente começa a trabalhar a todo vapor. Quando Ryder escolhia o silêncio ao invés de se impor para refutar, estava entrando em um conflito difícil consigo mesmo.
Ainda de mãos dadas e trocando carinhos silenciosos, aguardamos mais alguns minutos até a aterrissagem. Quando o piloto finaliza o pouso, as portas se abrem e somos direcionados para fora com auxílio da aeromoça e um homem trajando as roupas de um motorista particular que, possivelmente, trabalhava para os Cohen.
— Sejam bem vindos a Los Angeles. — o responsável pela pista de pouso nos recebe na ponta da escada.
— Obrigado. — meu marido responde, saltando os poucos degraus e estendendo a mão para me ajudar a descer. — Não mandem o jato de volta, iremos partir ainda essa noite.
— Querido. — chamo sua atenção, baixinho. — Não é melhor ficar um pouco mais com sua família? Ainda não sabemos como as coisas realmente estão. Sua mãe e Gemma podem precisar de você mais do imagina.
— Não quero prolongar nossa estadia aqui por mais nenhum segundo. — diz, me dando as costas e seguindo até o carro preto e luxuoso que já tinha as portas abertas e o motorista ao lado nos aguardando.
Sem soltar minha mão, Ryder me ajuda a entrar e passa o cinto de segurança por meu corpo, fecha a porta ao meu lado e faz o mesmo do outro lado. Não desvio os olhos dos seus movimentos, nem da veia alta em seu pescoço ou do tom pálido de sua pele. Ele estava realmente nervoso e pesando muito. E eu só queria que ele pudesse se abrir para mim, porque estava pronta para pegar todo o seu peso para mim, só para não vê-lo mais com esse olhar carregado de dor.
Voltando a entrelaçar nossos dedos, seguimos a viagem pelas ruas movimentadas da cidade de Los Angeles. Não era minha primeira vez ali, mas sempre me impressionava com a quantidade prédios e ao mesmo tempo tanto verde pelos coqueiros espalhados que davam um ar tropical e convidativo para a cidade. O clima parecia ser agradável o ano todo, e eu adorava o ar fresco e os raios de sol.
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El Perdón
RomansaFlorence Tate carregava uma bagagem pesada de sentimentos intensos e recomeços. Antes de ter a chance de mudar sua vida, trabalhou como dançarina da casa noturna mais famosa de Barcelona, a Insaciable. Por longos anos, precisou reunir forças e contr...