El Perdón

02. Uma noite intensa

Chicago, 2019

F L O R E N C E

Estava acostumada com a ausência de Ryder na cama, todas as manhãs.

Era como uma rotina. Eu me deitava primeiro e era a última a me levantar. Ele só dormia por algumas horas, as vezes ficava pelo escritório no andar de baixo, mas sempre se levantava primeiro. Vez ou outra eu o ouvia chegar e se deitar na cama, mas não me movia, não queria que ele soubesse que eu não conseguia dormir por sentir a falta do seu calor, da sua aproximação.

Éramos como dois estranhos que dividiam a mesma cama.

Mas essa noite, algo havia mudado. Ryder não passou a noite em claro trabalhando, após nossa conversa na academia, ele tomou um banho rápido no banheiro de visitas enquanto eu tomei no do nosso quarto. Pensei que ele apenas ficaria no escritório, mas ele apareceu vestindo uma calça de moletom que mostrava o elástico de sua cueca, enquanto todo seu tronco definido permanecia exposto. Perdi o folego ao vê-lo tão relaxado, há muito tempo não tinha esse privilégio de contemplar seu corpo e suas tatuagens que me fascinavam.

Não ousamos conversar. Nos deitamos juntos, um ao lado do outro, em silêncio. Me deitei de lado, ele também se virou para me olhar e me observou por longos minutos — talvez horas —, e eu me perdi em seus olhos azulados brilhantes. Por mais que eu estivesse chateada e confusa com tudo que estava acontecendo, não conseguia controlar o quão acelerado meu coração ficava por apenas sentir a sua presença. Nada disso mudou, eu ainda me sentia da mesma maneira de quando o conheci.

Quando acordei, pela manhã, seu lado estava vazio. Ponderei ter sido apenas um sonho, que todo aquele dia tivesse acontecido apenas por uma criação da minha mente. Mas eu vi sua calça de moletom dobrada em cima da poltrona ao lado da janela, como um sinal de que tinha sido real. Assim como o beijo quente que senti em minha testa quando meus olhos pesaram e eu cai em um sono profundo por não conseguir me segurar mais em seu olhar.

— Ele não tentou matá-la. Isso é bom um começo. — Josh pondera, enlaçando um de seus braços no meu, enquanto deixávamos uma loja no shopping.

Meu amigo amava fazer compras. Para Joshua, cartões de crédito sem limite eram a verdadeira cura para qualquer ferida.

— Ryder não é um psicótico como você o vê. — murmuro, olhando para algumas roupas nas vitrines. — Apenas fiquei surpresa por vê-lo tão fragilizado, praticamente implorando para que eu não o deixasse.

— Eu sempre te disse que aquele homem moveria céus e terras por você. — diz, como se fosse uma verdade absoluta. — O que você sempre esperou dele foi ouvi-lo dizer, ao menos, um eu te amo, certo? Porque não se sentiu comovida com isso?

Dou de ombros, e solto um suspiro cansado.

— Não sei se ele realmente sente esse amor, ou disse apenas no calor do momento, por ver que eu estava falando sério sobre o divórcio. — aponto com um indicador para uma camiseta com estampa floral na vitrine de uma loja que, com certeza, meu amigo adoraria experimentar. — Por mais que ele tenha dito que irá fazer de tudo para mudar, eu não sei. Não quero acreditar em suas palavras e me decepcionar novamente. Só não quero odiar o homem que eu amo.

Josh solta uma risada sonora, atraindo atenção de algumas pessoas que passavam por nós, belisco o seu braço e faço uma careta.

— Você não é capaz de odiar aquele homem nem que isso seja sua única opção. — balbucia, me arrastando para a loja em que lhe mostrei a camiseta floral. — Ryder está disposto a tentar, isso é bom. É um começo, mas se ver que ele está te machucando ou que só está falando por falar, sem ter intenção de agir, sai daquela casa e vem morar comigo.