20 de Outubro de 2017.

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          Uma sexta-feira fria e nublada.

          Essas são minhas primeiras palavras sobre você.

          Palavras tristes, devo avisar de antemão.

          Maldito amor, maldita curiosidade, maldita ela! Sim. É por ela que estou aqui.

          Ela foi a última gota d'água. Foi o motivo por eu querer chorar. Mas o que dizer? Eu fiz isso comigo mesmo.

          Fiz isso comigo quando resolvi me apaixonar por seu sorriso de dentes tortos e seu nariz anormalmente grande. Me apaixonar por seus olhos de gato pidão e por seu corpo bem trabalhado. E, valha me Deus, que corpo.

          Isso me faz lembrar do passado. Mais especificamente dela. Lembra-se dela? Sim, uma crush qualquer que partiu meu coração como você está prestes a partir. Dela foi o ápice para meu ódio por você. Ódio este que até hoje me arrependo.

          Ódio.

          Eu o odeio.

          Sim. Odeio-te com todas minhas forças. Por que? Por que fostes me cativar dessa forma?

          Naquela época acho que já te amava. Amava de forma que nem mesmo eu sabia que estava apaixonado. Ah, como me odeio por isso!

          Mesmo naquela época que as chances eram nulas, eu deveria ter tentado. Hoje nem chances existem mais...

          Mesmo não me querendo da forma que eu te queria, eu deveria ter tentado. Apesar de você não ver que além das espinhas e do cabelo desgrenhado havia alguém que te queria mais que tudo. Eu podia ter tentado.

          O tempo passou. Eu amadureci. Você amadureceu. Dela foi embora de meus pensamentos. Você ficou. Foi aí que começou minha maldição.

          Desculpas.

          Foram elas que me levaram até você. Rasas e superficiais desculpas. Desculpas que me fizeram te perdoar. Minhas desculpas.

          Desculpas estas que lavaram minha alma e limparam meus olhos. Só que no processo, fui lavado com ácido e me limparam com metais. Ah! Você não faz ideia de como isso dói.

          Malditas desculpas. Odeio-as também.

          Hoje te amo. Sim, amor. Mais amor que seria permitido a dois humanos como nós. Mais amor que eu poderia ter por qualquer uma.

          Lágrimas.

          Não são salgadas.

          Lágrimas dolorosas de sabor amargo. Amargo este que ainda não correu por meus olhos.

          Nunca foi do meu feitio chorar, não é mesmo?

          Como se você soubesse...

          Você não sabe de nada! Nada sobre mim, pelo menos.

          Apenas os fatos expostos que até aquela lânguida sobremesa entende. Não o que se encontra aqui dentro, o que eu queria que soubesse.

          Sonho.

          Aquele bastardo nojento que busca meus desejos para me fazer sofrer pelo resto de meu longo dia.

          Ele que me dá tudo que eu quero e depois me tira tudo em um despertar suspirado.

          Ele que toma você de minha mente e o faz dizer que me ama, que faz acariciar meus cabelos, beijar meus lábios e me levar para cama após um dia cansativo.

          Ele, o maior protetor de minha esperança. Outra bastarda, essa esperança.

          Ao som de uma melodia impossível encontro uma foto sua em minha galeria. Uma foto mal tirada, devo dizer.

          Novamente me pergunto por quê?

          Feições de um anjo demoníaco sem graça e beleza. Mas, óh, como te acho belo. A linha forte de seu maxilar coberto por poucos fios de barba me faz sorrir. Os longos caninos me chamam para propostas nada descentes. E sua boca... nada dizer sobre sua boca. A vontade de beijá-la já é imensa sem palavras proferidas.

          Eu, é claro, queria aceitar. Aceitaria se não bastasse de pura ilusão.

          Ela.

          Sim, ela novamente.

          A garota que me tirou minha nêmesis amorosa. Que levou os braços fortes que acordado imagino me envolverem depois de um beijo calmo. Levou você e tudo que já desejei.

          Levou com você, minha alegria.

          Sorrisos não passam de fantasmas lúgubres e melancólicos...

          Aliás,  boa lavra essa. Melancolia.

          Sentimento de perda, vazio, tristeza, dor, devoção, esperança, e paixão em uma simples e curta palavra.

          Acho que já me arrisco dizer, nossa palavra.

          A você que lê essas desgraçadas palavras deixo um aviso: não terá aqui um conjunto de versos. Isso nem ao menos é uma narrativa. São fatos. Fatos que destruíram meu coração e me deixaram isso...

          Meu doce e triste Vazio.

         Obrigado a você por esse vazio.

         Talvez se voltar a odiar-te posso parar de amar-te.

          Bem, talvez.

Meu doce e triste Vazio...Onde histórias criam vida. Descubra agora