Sufocado

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          Eu não consigo respirar!!!

          Quem seria eu a eu a não me render a mais um clichê?

          Mas sim, eu não suporto respirar!

          Foram se os tempos que a esperança era a mais intransigente sensação natural em meu âmago. Outrora eu vira bondade onde não existe, cura onde não há doença e redenção a quem não quer ser salvo.

          Hoje não consigo ver sem ter em mim um mórbido sentimento de repulsa.

          Não sem sentir o desespero.

          O pânico de estar me afogando numa piscina que eu mesmo preenchi.

          Preenchi de algo de mais puro que havia em meu tênue peito.

          Purifiquei com o meu mais intrínseco ser.

          Estou me afogando em meu próprio sim.

          Estou me afogando em suavidade e calmaria.

          Estou sufocando com os nãos presos em minha boca com agulhas lascivas em veneno.

          Estou sufocando em lágrimas que não sei mais derramar.

          Estou sendo sufocado!

          Eu realmente deveria aproveitar os bons momentos.

          A efemeridade do agora.

          Mas o mundo está a me sufocar, me prender, me dobrar como uma condescendente chapa de papel.

          E eu não consigo gritar.

          Não consigo exigir para parar. Pois pedir já deixou de ser um caminho a um bom tempo.

          Eu deveria saber remediar o meu mal.

          Porém o sufocamento persiste. Continua. Perdura.

          Não consigo olhar sem me exigir:

          Corra!

          Fuja!

          Evite!

          Não consigo pensar sem um instinto rugindo:

          Se concerte!

          Prossiga!

          Reaja!

          Mas isso está longe demais.

          Me exige demais.

          Me encolhe demais.

          Não consigo fazê-lo. Não por enquanto.

          O que me resta é procurar por ar.

          Buscar um respiro, um último suspiro de minha volúvel sanidade.

          Me afastar de seres que sugam meu ar. Que me envenenam com minhas próprias dúvidas e receios.

          Talvez tenha chegado o tempo de dar um tempo do mundo e emergir em meu próprio.

          Me deliciar com o sussurro das páginas.

          Me envolver com as linhas da história.

          E me perder da realidade. Me perder da tão vil simpatia. Deixar a elegância e cortesia trancadas em celas.

          Simplesmente chegou a hora de não ver mais as horas.

          De largar o passado, viver o agora e esquecer um futuro tão leviano.

          De simplesmente me permitir.

          Foda-se as consequências!

          Foda-se os seres que me trazem tantas consequências.

Meu doce e triste Vazio...Onde histórias criam vida. Descubra agora