08. DECEPÇÃO

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O tempo passou e nada de Amur dar as caras. Fazia semanas que ele não vinha pra escola e os alunos e professores já começaram a desconfiar. A sra. Lowell me perguntava em suas aulas se eu e Amur conseguimos concluir o trabalho, mas sempre lhe dava a mesma resposta, que se resumia a um "ele está doente" ou um simples "não pôde vir hoje". De qualquer maneira, não era mentira.

A cada dia que se passava eu perdia as esperanças de que ele retornaria, mas Thomas escolhia as melhores maneiras de me animar (às vezes tomávamos sorvete em frente da escola ou saíamos para uma lanchonete próxima da casa dele). Seguir o caminho para casa agora se tornou mais entediante, principalmente ao me aproximar da exuberante floresta que nos circundiava. Em uma das minhas caminhadas corriqueiras, ouço algo inesperado.

Eu tinha certeza que era a voz de Amur, tinha certeza que era ele correndo pela floresta em sua forma de lobo. Quando finalmente decido renovar as forças para falar com ele, eu o vejo ao lado de Crystal. Eles estavam bastante sorridentes, o que me deixou certamente estressada. Quer dizer que ele tinha tempo de sair com a amiguinha e sequer podia me falar do seu estado? A partir daquele dia, desisti de pensar no misterioso garoto. Bem, pelo menos tentei.

- Vai, fala. - a voz de Thomas quebra os meus pensamentos idiotas. Estávamos na aula de Química, preparando um experimento bem interessante.

- Falar o quê?

- No que você está pensando, Strawberry. - diz ele, mostrando um dos sorrisos de sua coleção. Eu tinha que admitir: ele me deixava feliz nos piores momentos - Ou em quem.

Ah, chegamos na pior parte da conversa. Que conveniente, não é? Decidida a ignorar o questionamento, viro a cabeça para baixo, fingindo estar concentrada na solução que eu acabei de preparar num erlenmeyer. Thom suspirou e não tirou sua atenção de mim. Seus olhos atravessavam os meus, mesmo estando ao meu lado. Num momento repentino, ele segura minhas mãos enluvadas e sujas graças ao detergente e um pouco de água oxigenada. Seu toque me provocou um arrepio inexplicável, foi difícil disfarçar.

- Qual é, Summer. Já se passaram umas 3 semanas desde que ele não aparece.

- Acha que eu não notei? - relampejo, estressada por ter que arquivar tudo em meu peito. Doía pensar em como Amur fora um inútil egoísta e o pior disso era que eu não fazia ideia do porquê - Por favor, Tom, vamos falar de outra coisa.

- Tudo bem! - fala rispidamente - E que tal conversarmos sobre como você tem se sentido tão mal durante esses 23 dias? Ou como você tem se encolhido só de falar o nome dele? Ou como...

- Já chega! - interrompo o garoto no mesmo momento, só que dessa vez, falando um pouco mais alto.

Todos nos encararam, assustados. Naquele momento, eu parecia mais chamativa do que qualquer um dos mini vulcões que estavam sendo preparados por cada grupo. O professor nos mostrou um olhar irritado, mas disse apenas para continuarmos o experimento. Me recusei a olhar para Thomas de novo, decepcionada por ouvir aquelas palavras de quem deveria ser o meu melhor amigo.

- Me desculpa. - ele sussurra, deixando-me confusa. Não tive vontade de responder, portanto suas palavras se desfizeram com os barulhos da sala.

Minutos depois, após os últimos experimentos serem apresentados, ouve-se uma batida na porta. Tinha sido baixa no início, mas depois o barulho se intensificou, como se quem estivesse lá fora quisesse ter uma conversa individual com o professor. O sr. Williams pediu licença e saiu da sala, sem nos revelar quem estava do lado de fora. As pessoas começaram a sussurrar, falar sobre o que deveria ser, enquanto eu focava em ignorar Thomas completamente. Após minutos se passarem, os alunos desistiram dos comentários curiosos. Agora todos arrumavam a bagunça que tinha ficado no laboratório. Distraída demais como eu sempre sou, devo nem ter percebido a porta se abrir novamente, já que o sr. Williams voltou pra sala.

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