14. O IDIOTA DOS 30 DIAS

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Acordo com uma leve sensação de torpor, num espaço totalmente branco e diferente. Havia uma pia na minha direita e um rapaz com uma aparência bem exausta dormindo numa poltrona meio velha. A primeira reação que tive, após perceber que aquele era Amur, foi tentar me levantar, mas alguns fios me deteram e os sensores das máquinas apitaram. O garoto, que agora estava mais do que acordado, correu em minha direção e me obrigou a deitar novamente. Eu estava cansada demais para debater com ele.

— Ei, ei! Fica calma, Summer. Você vai ficar bem. — fala ele, num tom incrivelmente próximo ao do seu pai. Dessa vez, me forço a ficar sentada e ele me ajuda.

— O que aconteceu?

— Gostaria de te perguntar a mesma coisa, mas o seu irmão resumiu tudo.

— E...? — insisto.

— Ele disse que vocês dois estavam discutindo, quando de repente... você desmaiou. Foi ontem, assim que eu fui embora de sua casa.

Ele foca num ponto fixo do meu braço, talvez em um dos locais onde os fios perfuravam minha pele. Mesmo sem saber o motivo, continuo a questioná-lo.

— E o que você acha disso?

— Tenho cara de médico, por acaso? — retruca ele — Confesso que foi estranho, mas não posso fazer nenhuma conclusão. A propósito, os médicos tiraram algumas amostras de sangue. E uma fêmea deles está vindo aqui agora mesmo.

— Como você sabe disso?

Amur deixa um sorriso gracioso escapar dos lábios. Agradeci internamente pelo gesto que fez meu coração derreter e torci para que aquela não fosse a última vez. Antes eu estava confusa, sem entender os sentimentos que tanto abalavam meu peito, mas eu já tinha certeza. Eu gostava de Amur mais do que deveria.

— Esqueceu que meu olfato é muito mais aguçado que o seu?

— Ah, desculpe, sr. Incrível. Prometo me lembrar disso da próxima vez.

Rimos até notar a presença de uma mulher morena vestida de branco, que segurava uma prancheta numa mão e um copo de água na outra. Ela olhou para Amur por alguns segundos, como se ele fosse o ser mais bonito que ela já vira na vida. Não era de se admirar, mas mesmo tendo esse benefício, não pude evitar de sentir um pouco de ciúmes. A mulher parecia finalmente ter se recomposto, após constrangedores 13 segundos encarando Amur. Ela olha para mim e sorri amigavelmente, entregando-me o copo. Bebi todo o conteúdo, como se não tivesse tomado água por uma semana.

— Olá, srta. Nowaks.

— Grant, por favor. — corrijo, lembrando da preferência que eu tinha pelo meu sobrenome inglês. Ela fica sem jeito, mas continua a falar.

— Certo, desculpe. Bem, srta. Grant, sou Emily Finch, mas pode me chamar de Emy. Estou com os resultados de seus exames aqui.

— E então, doutora? O que eu tenho?

Ela se acomoda na primeira cadeira que encontra na sala e repousa as anotações da prancheta em seu colo. O nervosismo apenas aumenta quando Amur tenta olhar os resultados antes de mim — ele parecia tão preocupado quanto eu.

— Tem algum registro de surtos em sua família, srta. Grant?

Engulo em seco, o coração já a mil. Nego com a cabeça lentamente, enquanto Emily fazia anotações.

— Já teve algum de transtorno de ansiedade?

Nego novamente com a cabeça, observando a doutora continuar a riscar suas folhas.

— Doutora, desculpe, mas será que poderia dizer o que está acontecendo?

Ela para de anotar e ajeita o óculos. Sua coluna, exageradamente ereta, desencosta da cadeira e emite um estalo.

OS FILHOS DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora