15. O VERÃO ESTÁ PRÓXIMO

151 20 6
                                    

Após alguns instantes esperando Emily Finch, a médica finalmente chega na sala com uma equipe de enfermeiros. Ela disse que Amur precisaria sair e me dar um espaço para que eu pudesse tomar banho e me trocar. Nesse dia eu faltaria a escola, mas em compensação Tom ficaria comigo. Quando soube disso, Amur ficou receoso. Disse que ele poderia cuidar de mim, mas eu o tranquilizei afirmando que Thomas era uma companhia tão boa quanto ele. Não foi o suficiente.

Emily disse que eu deveria repousar, mas tenho quase certeza que não iria obedecê-la. Agora eu já estava indo pra casa de carro, acompanhada por Yakob (em ocasiões como esta, quando eu não podia dirigir, ele era meu motorista particular), que estava tendo algumas aulas a distância da faculdade, e Tom.
— Tem certeza que foi só uma crise? — pergunta o garoto, com uma aparência cansada — Minha tia costumava ter esses ataques, mas eles eram mais frequentes.

— Foi o que a médica disse. Mas acho que eu não vou precisar me preocupar enquanto você estiver cuidando de mim.

Puxo seu braço e o aperto carinhosamente, encostando a cabeça no ombro dele. Ainda estava exausta e sem nenhum motivo, já que estive desacordada por horas. Thomas massageia minha mão, o que me faz lembrar de Amur e sua estranha delicadeza.

— Então... ér... o que Amur estava fazendo no hospital? — Tom questiona e eu dou a minha melhor expressão de confusa. Ele se explica — É que, você sabe... ele te abandonou, tem sido bastante grosso e-

— Ele foi me visitar, Tom. Assim como você. Qual é o problema?

Ele evita olhar para mim, mas eu resolvo não desviar meus olhos de sua vista. Largo mais do seu braço, mas não o culpo por sentir-se assim. Thomas e Amur viviam numa rivalidade desde que eu os conheci — quem sabe até desde que eles se conheceram.

— Você sabe que não gosto dele, Strawberry, mas não vou insistir. Não quero brigar com você.

Tom sorri, mas não como normalmente fazia. Parecia mais um aviso, como "eu estou aqui, se você precisar" ou "sou seu amigo". De repente, uma sensação de culpa veio pra cima de mim. Será que aquele sorriso tinha intenções maiores? Será que desde o início Thomas queria que fôssemos mais do que... amigos? O estranho era que minha teoria parecia fazer sentido: ele estava se aproximando de mim, mais precisamente, do meu rosto. Eu tinha que dar um jeito nisso.

— Thomas... — falo, com a maior desconfiança e cara de pau possível — Amur e eu estamos juntos.

Tom fica parado no meio do caminho. Para aumentar o vexame, tenho certeza que Yakob também ouviu, levando em conta que ele não prestou atenção numa pedra enorme que tinha em nossa frente, o carro chacoalhou ferozmente (Carlos Drummond de Andrade teria mais atenção a uma "pedra no meio do caminho" do que meu irmão).

— Ah... você e ele estão namorando?

— É... digamos que sim.

— E eu sou apenas seu guarda-costas? Seu ombro pra chorar?

Thomas se afasta um pouco de mim, mesmo com meu esforço para convencê-lo que não era nada como ele estava pensando. Eu poderia sentir algo a mais por Amur, mas Thomas nunca foi uma almofada para despejar minhas angústias. Ele era o melhor amigo que eu poderia desejar, o meu porto seguro. Era até mais carismático que Amur, eu facilmente reconhecia isso. Infelizmente, ele ainda estava chateado. Me reservei do lado oposto ao seu, sem dizer nenhum comentário. Apenas sozinha e pensativa.

Finalmente chegamos em casa, eu já estava contando os minutos para sentir o áspero carpete de boas-vindas da porta. O cheiro de pinheiros era dominante, já que não morávamos tão distante da floresta. Thomas foi o primeiro a sair, esperando ansiosamente que meu irmão pudesse abrir a porta. Quando ele o fez, segui até meu quarto, esperando falar com Tom daqui a pouco.

OS FILHOS DA LUAOnde histórias criam vida. Descubra agora