2ºCapítulo

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I've found out a reason for me

To change who I used to be

A reason to start over new

And the reason is you - Hoobastank, The Reason

Inevitavelmente, as lágrimas caiam enquanto eu lia aquela carta. A minha mãe tinha partido, mas eu ainda não estava totalmente consciente disso até ler aquela carta. Quando o carro parou, estávamos à frente de minha casa e eu senti algum medo por saber que ia entrar no local onde a minha mãe tinha morrido sozinha, sem mim do seu lado a segurar a sua mão, como sempre prometi fazer. Entrei no hall, e pude ver a minha cadela, Lil, deitada no seu canto quieta, algo totalmente estranho nela, que sempre que via alguém começava logo aos saltos para brincar. Também ela estava triste com tudo isto, também ela iria sentir muita falta da minha mãe. Agachei-me junto a ela e fiz-lhe algumas festas, deixando algumas lágrimas minhas caírem-lhe sobre o pêlo branco de labradora. Depois de o meu pai me obrigar a comer duas torradas, saímos em direção à igreja onde estava o corpo da minha mãe. Estava lá imensa gente, na verdade, a minha mãe tinha muitas pessoas que gostavam dela e que a admiravam, pela sua generosidade, bondade e, acima de tudo, pela sua força. Andei pelo corredor da igreja até chegar ao sitio onde ela estava. Abracei-me ao meu pai e chorei. Chorei muito e tenho a impressão de que fiquei assim durante horas a fio. O único momento seguinte a esse de que me lembro, é de ver a Mafalda e a Margarida a entrarem pela porta da igreja direitas a mim. Abracei-as com toda a minha força e ouvi-as a chorarem comigo, eu sei que a minha mãe também era um bocadinho mãe delas, tal como as mães delas são um bocadinho minhas mães.

Nunca ninguém está preparado para perder quem ama, mas eu estava demasiado agarrada à ideia de que a minha mãe era forte e ia aguentar mais tempo do que o que os médicos tinham previsto. Toda a vida nos dizem "Tudo tem um fim", mas eu simplesmente não acredito. Não é por ela ter morrido que nos vamos deixar de amar ou que ela vai deixar de cuidar de mim. As coisas só acabam quando as pessoas assim o querem e o meu amor pela minha mãe é infinito, jamais terá um fim. E sim... Eu acredito que há qualquer coisa para além da vida. Não sei o quê, nem sei explicar, apenas sei que a minha mãe vai cuidar de mim, esteja onde estiver.

Eram cerca de 22h quando fui para casa dos meus avós. Ia lá dormir. Apenas bebi uma caneca de chá, nada mais. Deitei-me na cama, e tirei um caderno da minha mochila. O meu diário. Não escrevia nele frequentemente, mas escrevia para desabafar, uma vez por outra, quando os sentimentos e emoções eram demasiadas para serem expressadas através de ações.

"Quem me dera que hoje tivesse sido só mais um dia como tantos outros, mas não foi. Foi o pior dia da minha vida. Ela morreu hoje e eu vi-a no seu caixão. Nunca na minha vida imaginei algo assim... Tão trágico. É duro vermos quem amamos partir, como que grãozinhos de areia a escaparem-nos por entre os dedos.

A praia, o mar... Quem me dera poder estar lá agora. O som do mar acalma-me e dá-me paz, que é o que mais preciso neste momento.

O pânico atravessou o meu corpo no momento em que soube. Foi como se um torpor estranho e vindo sabe-se lá de onde atravessasse o meu corpo numa onda de terror. Terror é a melhor palavra que conheço para descrever o que senti naqueles infinitos segundos. Pareceu-me também o fim da minha vida... O fim daquilo em que sempre vi como algo perfeito chegou, porque eu via a família perfeita e sem a minha mãe isso deixou de existir.

Um pequeno desabafo, querido diário, apenas isso."

Deitei-me e adormeci a chorar.

Dia seguinte...

Acordo e visto umas jeans azuis claras, um pullover roxo e um casaco de cabedal preto. Calço as minhas botas e coloco um gancho a prender a minha franja. Bebo uma caneca de leite e depois o meu pai vem-me buscar para irmos ao funeral da minha mãe.

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