Lu arraso parteeee 2

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A verdade mesmo, se a gente for puxar pro lado do “ah, mas qual a UTILIDADE da coisa toda”, é que K-Pop tem a chance de trazer muito mais do que aqueles que julgam de fora imaginam. É uma indústria de gente magra e maquiada dançando e cantando música vazia de sentido? Putz, sim, 90% das vezes. Mas é uma indústria completamente fora da nossa realidade; é uma oportunidade de espiar uma cultura de longe, sem realmente estar lá mas ainda assim observar a mentalidade de uma sociedade tão diferente da sua. Por mais que o K-Pop não seja nem um terço da cultura coreana como o todo, é ainda assim parte dela. Qual a relação dos coreanos com artistas? Como são os programas de comédia por lá, como é a comédia deles? Por que eles têm programas musicais com apresentações ao vivo toda semana e a gente não? Como funciona a hierarquia em relações intrapessoais por lá e por que isso não existe aqui? (Será que o apelo de muita fã nova no K-Pop de chamar os ídolos de “oppa” é puramente fantasia sexual ou será que tem também uma curiosidade de participar do que lhe é estrangeiro?)
Qual o diálogo sobre feminismo lá hoje em dia? E sobre violência doméstica? Acredite se quiser, mas o K-Pop te dá abertura pra dialogar sobre esses temas. E esses são só alguns deles.
As fãs não vão nem ter aprendido o idioma”, dizem eles. Não sei daonde tiraram isso. Mesmo que a pessoa não fale o idioma e não fique fluente, muitas vezes ela pelo menos aprende o alfabeto — motivo de orgulho pra muito sul-coreano. E às vezes, como no meu caso, ela aprende o idioma precisamente por causa do K-Pop. Tem gente que aprende por causa dos doramas, as novelas coreanas que só perdem pras novelas brasileiras em se tratando de investimento e popularidade. Tem gente que precisa do idioma por causa do trabalho, ou de uma oportunidade de intercâmbio, e usa o K-Pop pra ajudar. O curso de coreano do UnB Idiomas, que custa nada menos que R$500,00/semestre pra aluno da própria UnB, tem sempre turma cheia — isso porque em Brasília tem outros lugares onde você pode aprender o idioma, por um preço até menor. Quem reclama que fã de K-Pop não se interessa em aprender o idioma faz uma generalização sem fundamento, ignorando todos aqueles fãs que sim, aprendem o idioma e aqueles que não precisam porque os fandoms de K-Pop criam verdadeiras redes articuladas de legendagem e tradução, um dos nichos mais auto-suficientes que eu já vi na internet.

Lá fora, nos States, até a linguagem da jovem é assunto que vira e mexe aparece nos debates entre linguistas. Porque do mesmo jeito que aqui mulher jovem não é levada a sério, lá até as particularidades do discurso dela são desconsideradas, chamadas de linguagem pobre, “modinha que estraga a língua”. Exceto que os próprios linguistas concordam que, tipo, as jovens são as principais precursoras da evolução linguística do inglês:
“É possível ainda que o uso de emojis mais frequente entre mulheres exemplifique o que já é um padrão recorrente onde inovações que estão destinadas a se espalhar pela população como um todo são percebidas primeiro entre mulheres jovens. Por causa disso, assumimos que é uma coisa ‘de mulher’ e buscamos explicações que a associem com feminilidade; mas conforme aquilo começa a se espalhar, se torna cada vez mais aparente que não era exatamente uma coisa de mulher e sim uma coisa nova que garotas descobriram primeiro. Foi isso que aconteceu com o uptalk (a mudança de entonação que transforma o tom afirmativo em uma pergunta): o que antes era uma marca da patricinha californiana, a Valley Girl, agora é ouvido entre falantes jovens — e até de meia-idade — de ambos os sexos, em várias partes do mundo onde se fala inglês.” (Debbie Cameron, “Are Women Over Emoji-nal?”)

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