Manhã de chuva

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Our little group has always been and always will until the end.
-Nirvana, Smells Like Teen Spirit

A manhã havia começado mal. Lembro que já eram sete horas e uns quebrados quando acordei para o segundo dia de aulas, e o certo seria eu estar na escola às sete em ponto.
Chovia lá fora. E não era aquela chuvinha fina, que trás uma sensação de paz, era uma chuva forte e torrencial, acompanhada de uma ventania e um barulho irritante, mas que ao mesmo tempo é bom quando você está prestes a dormir. Só que não era esse o meu caso.

Me arrumei e peguei o meu guarda chuva amarelo, rumo ao ponto de ônibus, que ficava; graças a Deus, a uma quadra do prédio onde eu morava.
Ando mantendo o meu olhar bem atento, pois o centro de Vitória não era o lugar mais seguro do mundo para se viver.

O ônibus chega relativamente rápido, ao entrar nele e me sentar, vejo que há duas novas mensagens no meu celular. Era o Bernardo dizendo que estava preocupado comigo e perguntando o motivo do meu atraso.
Aquele pequeno gesto aqueceu o meu coração, nem mesmo as minhas amigas de anos demonstravam preocupação comigo daquela maneira, nem mesmo os únicos dois meninos com os quais eu havia ficado até então. Mas ele era diferente, ele se importava. Ou pelo menos era isso que a minha mente tola de quinze anos imaginava.

Respondi imediatamente, para tranquilizá-lo, e agradeci a preocupação. A partir daquele momento, decidi que a minha missão de vida seria me tornar a namorada dele até o final do ano, se não desse certo, eu pelo menos ganharia um grande amigo.

Entro na sala pedindo licença à professora, a segunda aula já havia começado. Meu guarda chuva pingava e eu me sentia um desastre ambulante.

-Dormiu muito, né patricinha? -foi a primeira coisa que ele me disse quando cheguei perto.

No mesmo instante, mostrei o dedo do meio pra ele, foi quase um ato reflexo. Quando foi que fiquei tão íntima desse garoto a ponto de fazer isso? Pensei comigo mesma.

-Vou te mostrar a patricinha.

-Meu amor, você não dá medo nem num ratinho. -sua voz era carregada de ironia.

Reviro os olhos e digo.

-Vou simplesmente te ignorar.

-Ah, a propósito, esse é o Caique; Caique, essa é a patrici...quer dizer...Ana Clara.

Caique me avaliava com curiosidade, como se eu fosse um espécie rara. Seus olhos eram da cor do mel, bem parecidos com os meus, mas nossas semelhanças acabavam por aí. Seus cabelos tinham um tom bem escuro de loiro, quase castanhos. Enquanto o Bernardo era do tipo alto e magro, o Caique era mais forte, e não devia passar de 1,70 m de altura.

-Muito engraçadinho você, Bernardo. Prazer, Ana Clara -digo, estendendo a mão para Caique.

-Prazer. -ele responde, me cumprimentando. -Esse idiota não parava de falar de você ontem.

Algo dentro de mim explodia em fogos de artifício.

-O Bernardo me falou muito bem de você também. Aliás, adorei a história da bosta de vaca, vocês dois são do mal.

-Tudo ideia da mente maligna do Bernardo. -ele diz, jogando a culpa pra cima do amigo.

Eu deveria ter levado essa frase mais a sério enquanto ainda era tempo.

-Posso imaginar.

-Mente criativa. -Bernardo se defende. -Seus dias seriam bem menos divertidos sem mim, admita.

- Sua mente só é criativa pro mal, então... -diz Caique.

- Criatividade é criatividade, não importa pra onde eu canalize ela. -ele argumenta.

Um Dia Meu Príncipe ViráOnde histórias criam vida. Descubra agora