Pedacinho do céu

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"Love's an excuse to get hurt... and to hurt. Do you like to hurt? I do, I do. Then hurt me" -Lover i don't have to love, Bright Eyes

Alguns meses se passaram desde o momento em que decidimos que nossa amizade perfeita seria apenas uma amizade colorida, mas sem essa de relacionamento sério. Quer dizer, Bernardo decidiu. Eu apenas concordei como uma cachorrinha que se contentava com qualquer migalha de sentimentos.

Eu não percebia que ele era o motorista, e eu, apenas uma passageira naquele relacionamento, me deixando ser guiada para qualquer destino, mesmo que a estrada fosse tortuosa e cheia de buracos.

Mas, por incrível que pareça, quem acabou dando a cartada final fui eu. Escrevo isso com um sorrisinho diabólico nos lábios e sem sombra alguma de arrependimentos.
Se arrepender é pros fracos, e eu já fui fraca o suficiente por muito tempo.

Bernado e eu estávamos indo em direção à alguma praia da qual não me lembro o nome; ele conduzia o carro, obviamente. Apesar de ter dezesseis anos e ser ilegal, ele sabia dirigir incrivelmente bem, seu pai havia lhe ensinado tudo que precisava saber.

Mesmo que a polícia nos parasse, eu estava tranquila em relação a isso porque Bernardo aparentava ser mais velho mesmo, o que facilitava a nossa situação, e possuía toda a sorte de documentos falsificados. Inclusive estava providenciando alguns para mim. Segundo ele, eu precisava "sair da minha bolha e conhecer a vida como ela realmente é". Seu esforço para me introduzir no submundo das festinhas e baladas típicas de adolescente, regadas a álcool e outras substâncias que é melhor eu nem mencionar, era evidente.

Ele queria que eu entrasse de cabeça no mundinho dele, mas nunca o vi fazer o mínimo de esforço para tentar entrar no meu.

- Até o final do ensino médio, eu vou conseguir te corromper. -ele dizia, enquanto tentava achar alguma estação de rádio que lhe agradasse.

- Ber... presta atenção na estrada, por favor. - naquele momento eu ainda estava tensa, nunca tinha visto Bernardo dirigir antes e tudo aquilo era novidade pra mim.

Ele riu da minha cara de assustada.

- Relaxa, eu já te falei que eu sei o que eu tô fazendo, eu posso não ter carteira mas eu sei...

- Como você quer que eu relaxe num carro que está sendo dirigido por um pirralho de dezesseis anos? -falei, com o objetivo de provocá-lo. Meu medo já estava diminuindo aos poucos.

- Eu não sou um pirralho de dezesseis anos, eu sou Bernardo Machado. -ele retrucou, com sua excessiva auto confiança.

- Tudo bem, Senhor Eu Sei De Tudo, agora será que dá pra prestar atenção na estrada de verdade? -Ele continuava deslizando os dedos sob o rádio, tentando achar a música perfeita.

- Ok, eu desisto. Pega o meu pen drive que tá aí no painel do carro, tem músicas ótimas nele. 

Obedeci, pegando rapidamente o pen drive e engatando-o na entrada usb.
Logo, o ambiente foi preenchido pelas primeiras notas de Miss You, dos Rolling Stones.

-Ótima escolha de música. -elogio.

-Eu sei.

Ele era incapaz de agradecer a um elogio, simplesmente concordava. Eu costumava gostar disso, afinal, eu gostava de qualquer merda que vinha dele. Hoje, acho extremamente irritante.

Comecei a batucar nas minhas cochas no mesmo ritmo da música, eu não conhecia a letra o suficiente para cantarolar junto com Bernardo.

A próxima da lista foi Ready For Love, do Bad Company. Aquela eu ainda não conhecia, mas gostei logo de cara.

Um Dia Meu Príncipe ViráOnde histórias criam vida. Descubra agora