Lágrimas de crocodilo

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"Secrets I have held in my heart, are harder to hide than I thought. Maybe I just wanna be yours" - Wanna be yours, Arctic Monkeys.

Eu mexia os pés freneticamente sentada no banco de trás do carro de Caique. A adrenalina corria em minhas veias, eu queria sair correndo dali, queria fazer alguma coisa, qualquer coisa. Talvez construir uma máquina do tempo pra voltar no instante em que eu decidi dançar com aquele desconhecido.

No volante, Cecília seguia habilmente o carro da polícia. Tentei não imaginar Bernardo ali dentro, algemado e encolhido como se fosse um bandido, e era tudo minha culpa.

- Mais rápido. - Caique ordenou, ríspido.

- A polícia tá bem na nossa frente, você quer mesmo que eu ultrapasse o limite de velocidade? - Ela questionou, com igual agressividade.

- Preciso avisar os pais dele. - Falei. Minha mente estava vagando, longe, pensando em alguma forma de ajudá-lo para compensar o meu erro.

- Vou ligar pra eles agora. - Caique disse, me causando um grande alívio. Eu não queria ter que falar com os pais dele naquele momento, e muito menos explicar o motivo pelo qual o filho deles estava indo em direção à uma delegacia.

A mãe dele atendeu no segundo toque.

- Aconteceu alguma coisa? - O celular não estava no viva voz, mas era possível ouvir a voz carregada de preocupação dela nitidamente.

- Na verdade... sim, dona Martha. Aconteceu.

Martha deu um suspiro profundo, se preparando para o que quer que fosse ouvir.

- Se acalma, o Bernardo tá bem, tá todo mundo bem, ninguém tá ferido. Não foi acidente nem nada do tipo.

- Graças a Deus. - O alívio era evidente em sua voz. - Então, o que foi?

- O Bernardo tá sendo preso. - Caique falou pausadamente, como se aquilo fosse tornar a situação mais palatável.

Eu quase conseguia ver a cara de decepção da Martha, com uma mão apoiada na testa e uma pequena ruga entre os olhos.

- O que foi que aquele irresponsável fez? - Ela estava praticante gritando com o Caique.

- Ele agrediu uma pessoa.

- Ai, meu Deus. - A raiva em sua voz foi rapidamente transformada em tristeza.

Os dois continuaram conversando por mais alguns minutos, Caique deu detalhes do ocorrido, enquanto eu me encolhia no banco de trás, envergonhada pela minha atitude. Eu estava certa de que Martha devia estar me odiando naquele momento.

Culpa é uma vadia, e ela estava tomando conta de mim. Nada daquilo estaria acontecendo se eu não tivesse tomado a maldita decisão de dançar com um estranho que, por um momento, acreditei ser o Bernardo.

Após alguns minutos que duraram uma eternidade, Cecília estacionou o carro em frente à delegacia.

- Onde ele está? -Perguntei com urgência ao primeiro policial que eu vi.

Ele era alto e tinha um porte extremamente intimidador. E e o fato de me olhar como se fosse me comer viva caso eu fizesse algo errado não ajudava em nada a acalmar minha tensão.

- Calma mocinha, primeiro me diga o nome dele e o seu. Não posso fornecer nenhuma informação sem nomes.

Respirei fundo e respondi.

- O nome dele é Bernardo Machado Siqueira, o meu é Ana Clara Monteiro Gaudêncio.

- Ah, o caso do garoto que espancou outro por causa de ciúmes, isso é bem mais comum do que você imagina. - Ele disse, indiferente. - Você é a namorada, imagino...

Um Dia Meu Príncipe ViráOnde histórias criam vida. Descubra agora