Novo ano, novos erros

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"Whatever colors you have in your mind, i'll show them to you and you'll see them shine" -Lay Lady Lay, Bob Dylan

Havia se passado pouco menos de um mês desde o dia em que fomos àquela praia e eu percebi a profundidade dos meus sentimentos pelo Bernardo. Somente imaginá-lo beijando outra já era o suficiente pra me deixar louca.

Era véspera de ano novo, e "a gangue", como Caique gostava de se referir ao nosso pequeno grupo, iria se reunir novamente. Dessa vez na praia de Camburi.

Eu estava terminando de passar o meu batom quando a buzina do carro de Bernardo, ou melhor, do pai dele, tocou.

Aquele som era inconfundível para mim, eu poderia distingui-lo entre vários outros sons típicos de cidade grande, até o ronco do motor daquele Sportage eu saberia discriminar com precisão.

- O Bernardo chegou mãe, não me espere acordada, eu vou dormir na casa da Cecília. -avisei, pegando a minha bolsa que estava em cima da penteadeira.

Mamãe estava deitada em minha cama, lendo distraidamente. Minhas palavras a tiraram do seu transe e ela levantou os olhos do livro para mim, ajeitando os óculos.

- Quando eu vou conhecer esse tal Bernardo? Pelo visto, esse "lance" entre vocês tá ficando sério.

- "Lance"? Desde quando a senhora usa essas gírias de jovem, dona Silvana? -ironizei, ignorando a sua pergunta.

- Primeiro, eu mal acabei de completar quarenta e sete anos, então
não me chame de senhora se quiser continuar com todos os dentes na boca. E não mude de assunto.

Levanto as mãos, rindo, em sinal de rendição.

- Segundo, você vive com esse garoto, não desgruda mais dele. É namoro ou o que? Como mãe, eu tenho o direito de conhecê-lo. -disse, me lançando um olhar incisivo.

- Ele é meu melhor amigo, só isso. Ontem mesmo ele tava no Beb's Bar e deve ter pegado várias. Nós não temos nada, absolutamente nada. -fiz questão de frisar, fingindo que aquilo não me afetava.

- Só porque o Bernardo não quer, já  você... tá caidinha por ele. É bem evidente.

- Tchau, mãe. -digo, indo em direção à sala.

Eu não estava disposta a conversar sobre a minha vida sentimental com ela. Além do mais, o fato de ele não me querer tanto quanto eu o queria era doloroso demais. E eu sempre evitava coisas que me causavam dor.

- Agindo assim você só confirma o que eu acabei de te dizer. -ela grita.

Consigo ouvir sua risada abafada enquanto eu abro a porta, reviro os olhos em desaprovação, mesmo que ela não estivesse vendo.

Por que ela tinha que acabar com o meu bom humor justamente na noite de réveillon?

Entro no elevador e, ao chegar no térreo, vejo Bernardo me esperando do outro lado do portão, com um sorriso iluminado e as covinhas evidentes, o que fazia eu me desmanchar por dentro.

Ando a passos largos em sua direção. Quando finalmente o alcançei, ele me envolveu em um abraço apertado e deu um beijo em meu pescoço.

Era o meu ponto fraco e ele sabia muito bem disso.

- Eu estava com saudades. -ele sussurra contra a região que havia acabado de beijar, me causando um leve arrepio.

- Faz só uns seis dias desde a última vez que a gente se viu. Lembra? Era véspera de natal e você apareceu aqui só pra me dar um abraço e entregar o meu presente. -sorrio com a lembrança.

Um Dia Meu Príncipe ViráOnde histórias criam vida. Descubra agora