CAPÍTULO 01

327 27 23
                                    


INCERTEZA.

Lúcifer se distraiu por alguns instantes, segurando a sua luva de combate na frente do rosto, observando admirado todas os detalhes do objeto que refletia em tons de prata, agora ele se encontrava estagnado em algum ponto entre a hesitação e a
ansiedade, e seus pensamentos iam para os feixes luminosos pelos
diamantes que faziam parte da última peça da magnífica armadura do cavalheiro. Respirou
fundo, se enchendo do aroma, sempre fresco e revigorante a qualquer hora do dia, sentiu o cheiro das rosas, das maçãs, e das árvores, ainda molhados pelo sereno. Prendeu o ar por um momento de incerteza e, em seguida, soltou tudo de uma só vez, estava determinado. Desejou que os últimos resquícios de dúvida, que cobriam seu coração, fossem levados embora pelo vento suave que brincava com seus cabelos pretos naquela manhã.

Mas eles não foram.

A dúvida nunca deixou Lúcifer de lado, mas de qualquer maneira, o Primeiro entre os Anjos estava determinado, então colocou a luva, ficando totalmente equipado para a guerra, para a batalha que viria ainda naquele dia e haveria de se definir antes que o Sol fosse embora, a batalha que daria a ele seu lugar de direito, que abriria espaço para que chegasse ao trono de Deus e dali arrancasse o velho Pai, tomando assim, com mão forte, o posto mais alto. A batalha que apresentaria ao universo o seu novo Deus.

Abriu e fechou o punho algumas vezes, com a confiança dando lugar a um leve sorriso no canto da boca, refletiu por um instante, se perguntando se seria capaz de construir uma armadura com tamanho poder, e chegou a conclusão que era óbvio que sim, afinal, não havia nada que o Pai tivesse feito que ele, não poderia fazer igual, ou ainda melhor, e com isso, segurou a espada conhecida
como "Destruidora" com força, a arma mais poderosa já criada, feita por Deus, com energia suficiente para uma guerra que duraria infinitos anos. Segurou ela com calma, e a girou no ar, seu brilho marcava o caminho percorrido pelo campo florido, flutuando em silêncio feito a neve que chega ao chão, sentiu poder, confiança e certeza irradiando por todo o seu corpo, dos pés à ponta do último fio de cabelo e, finalmente, invadindo e inflamando seu coração, e todos seus próximos passos, eram cheios de determinação e poder, qualquer um poderia ver e sentir aquilo, qualquer um poderia ver as chamas que emanavam do seu corpo.

As mesmas chamas que às vezes queimam demais e tornam-se loucura.

O sorriso tímido, logo se transformou em uma risada alta, enquanto nuvens cobriam o sol, fazendo sombras sobre os campos do Paraíso, Lúcifer, aquele que brilha como a Estrela da Manhã, o mais notável de todos os anjos, caminhou em direção aos anjos, que o aguardavam, todos liderados por
Daniel.

"Daniel, Anjo-do-Altíssimo..." Lúcifer o cumprimentou,
batendo as asas para ficar acima do anjo.

"Lúcifer, Estrela-da-Manhã..." ele respondeu, com os pés no chão, demonstrando respeito e medo.

"Como estão os anjos, Comandante? Para mim, não passam de anjos assustados,
espadas que tremem nas mãos e seguradas sem confiança, escudos que parecem ter ficado mais pesados da noite para o dia..." disse
Lúcifer, observando todos presentes e segurando Destruidora com as duas mãos. "O que me preocupa de fato é o que eu não estou vendo... em ninguém. Quer que eu diga o que é, Daniel?"

"Sim, meu... Senhor..." diz ele, com frieza.

"Sabia que iria querer,
Comandante" Lúcifer sorriu com ironia. "Eu diria de qualquer forma, voltando ao assunto, eu não estou vendo aqui a sede de sangue, a vontade de fazer um massacre, a alegria de segurar uma espada e matar o primeiro que cruzar o caminho" ele suspirou e continou com seu discurso. "Não estou vendo aqui, Daniel, o brilho nos olhos que os guerreiros precisam ter antes de uma luta, eu olho para eles, e parece que estamos indo orar, por que? Por que estão assim?"

LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora