— Aqui, tenho que começar com um pouco de história. — Andy disse, virando a capa do capítulo. — Bem, na época da colonização, aconteceu a caça às bruxas, certo? Então, haviam duas tribos principais: a Coven da Mão Direita e a Coven da Mão Esquerda. Digamos que a Coven da Mão Esquerda não era muito... amigável.
— Magia negra? — Indaguei.
— Não exatamente. Na bruxaria, não associamos a escuridão com maldade. Preto é uma cor legal demais pra ser algo ruim. — Ele riu.
— Entendo...— Ri com ele enquanto ele abria o pacote de salgadinhos. Ele colocou alguns na boca e eu fiz o mesmo.
— Enfim, o objetivo da Coven da Mão Esquerda era manter o Caos no mundo, e a Coven da Mão Direita se formou para tentar impedí-la. Obviamente, ambas as Covens estavam em crise durante a caça às bruxas. Mais de dois terços da Coven da Mão Esquerda havia ido para a fogueira, mas as bruxas ainda resistiam, até que Margaret Saffron, a Suprema da tribo, decidiu que o melhor era desistir. Mas ela não abandonaria o mundo sem deixar um rastro do Caos. Margaret convocou suas bruxas que ainda estavam vivas para realizar o feitiço mais poderoso da história da Coven: a Maldição das Almas Gêmeas. — Ele desviou o olhar do livro para ver minha reação. Suspirei demonstrando choque e abri a garrafa de vodka, tomando um imenso gole logo depois. Ele riu. — Você acha que tem condições para continuar?
— Não, mas prossiga. — Respondi e ele riu novamente.
— Bem, a Maldição das Almas Gêmeas é... complexa, vamos dizer. A profecia é controlada pela hereditariedade e pelo Destino, principalmente pelo Destino. Lembrando que o Destino é uma força, como se fosse um deus, não algo que é pré-definido desde sempre. Ezra Saffron, filho de Margaret, e Alanis Charlotte foram as primeiras almas selecionadas. Ezra foi escolhido por sua mãe, Alanis foi escolhida pelo Destino. Quando eles se conheceram, apareceram marcas nos corpos de ambos. Esses mesmos triângulos que nós temos. — Ele apontou para seu antebraço. — Chamamos isso de Marca das Almas.
— Mas... Por que você tinha a Marca antes de mim? — Perguntei
— As Marcas só aparecem no corpo das Almas quando a voz de um é ouvida pelo outro. Se lembra quando eu esbarrei com você no corredor na semana em que eu entrei na escola? Você pediu desculpas, mas eu não respondi. Você ainda não havia ouvido a minha voz até ontem. — Ele respondeu.
— Como fui escolhida?
— O Destino, meu amor. Eu fui pelo sangue.
— Mas seu nome não é Andrew Scrivener?
— Andrew Saffron Scrivener. Minha família é bruxa. Por que mais eu teria livros de bruxaria em casa?
— Faz sentido. Mas quando o Destino me selecionou?
— Quando meus pais morreram. Eles eram Almas Gêmeas. Mantiveram o Caos por um bom tempo.
— Entendo... mas por que a sua Marca é toda preta e a minha é só o contorno?
— Não sei se mencionei, mas quando as Almas se conectam, elas adquirem poderes mágicos, além de um grande instinto de proteção. Quanto mais você gasta seus poderes, mais a sua marca vai sendo preenchida. Uma vez que ele está completamente negro, você fica extremamente fraco toda vez que você usa seus poderes. Dor de cabeça, nariz sangrando, tontura, náusea...
— Que horror.— Franzi as sobrancelhas e peguei mais alguns salgadinhos no saco. — E com o que você gastou seus poderes? — Perguntei, os colocando na boca logo depois.
— Nossos poderes são muito mais intensos que os das bruxas convencionais, chegamos a ser sobrenaturais, entende?
— Sim, claro... Mas espera, bruxas não têm poderes sobrenaturais?
— Não, a bruxaria convencional é apenas a manipulação de energias com ingredientes naturais, entende? Mas algo aconteceu com nossa maldição, e aí acabamos ganhando poderes realmente sobrenaturais. Enfim, porque somos mais poderosos, minha tia me pediu alguns "favores" mágicos sem dizer que uma hora eu me esgotaria. Ela me usou. Gastou meus poderes para razões egoístas.
— Caralho, que idiota.— Virei os olhos e ele riu.
— Bem, eu consigo sobreviver sem os poderes... Apesar de serem muito legais, eles são apenas extras nas nossas vidas. Mas olha só, podemos ler mentes, hipnotizar pessoas só com o olhar, visualizar o passado muito nitidamente, até eventos em que não estávamos presentes, e mover coisas só com as nossas mentes! Além do instinto de proteção. Nós conseguimos sentir quando o outro não está bem. Não é incrível? — Nesse momento, meu queixo despencou.
— Uau... — Demonstrei choque mais uma vez enquanto Andy pegou a garrafa e bebeu um pouco. — Meu cérebro ainda vai demorar para processar isso.
— Um pouco mais de álcool pode te ajudar. — Ele riu e me passou a garrafa. Virei os olhos e tomei um gole.
— Bem... Você tinha falado de uma missão... — Eu disse, tampando a garrafa.
— Ah, sim, claro, a missão! — Ele disse empolgado enquanto fechava o livro em seu colo. — Bem, se fôssemos seguir a profecia, nós faríamos o Caos. Nossas almas seriam corrompidas e sentiríamos vontade de causar mal ao mundo. E depois teríamos um filho, ele conheceria sua Alma Gêmea, eles fariam o Caos e a história se repete. Mas eu não quero isso. Meus pais me fizeram sofrer muito, por isso, quero lutar contra a Maldição. Sim, nossas almas serão corrompidas, mas eu quero lutar ao máximo para fazer o mínimo de mal possível, e, principalmente, não quero que tenhamos filhos. Uma criança não merece passar por tudo que eu passei. Aceita esse plano? — O garoto disse, me estendendo a mão.
— Espera, espera, espera. Calma aí.— Balancei a cabeça e franzi as sobrancelhas. — Nos conhecemos ontem.
— Cordelia, você é minha Alma Gêmea. — Ele falou, me olhando nos olhos. — É a profecia. Foi difícil de aceitar tudo isso quando eu aprendi, eu sei que vai ser bem complicado pra você também. Mas, querendo ou não, mais cedo ou mais tarde nós vamos nos apaixonar. Isso é fato.
Eu estava extremamente confusa. Eu duvidava do que ele dizia, mas, ao mesmo tempo, tudo parecia fazer sentido para mim. Decidi tentar aceitar. Por algum motivo ele me passava confiança. Pff, "por algum motivo." Caramba, Cordelia. É claro que ele te passa confiança. Olha a energia que ele tem. A conexão que você criou com ele em tão pouco tempo. Esse maldito triângulo no seu braço. Caralho... Você realmente é a Alma Gêmea dele... Me deitei no tapete e passei as mãos em meu rosto, suspirando levemente.
— Sim, Andrew. Eu aceito.
Δ i'm trying not to let it show that i don't want to let this go Δ