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Drogas e violência

Image captionShandra pensava que o último homem que a traficou a ajudaria a escapar

Vinte e quatro horas por dia, nós ficávamos sentadas, completamente nuas, à espera de clientes. Se ninguém chegasse, dormíamos um pouco, mas nunca numa cama. Era nesses momentos que os traficantes aproveitavam para nos estuprar. Então, tínhamos de ficar alertas. Nada era previsível.

Apesar da vigilância, parecia que eu estava em um estado de constante dormência. Era incapaz de chorar. Sobrecarregada pela tristeza, raiva e desapontamento, obedecia às ordens e tentava sobreviver. Lembro-me daquela cena da menina sendo agredida, e vi os traficantes batendo em outras mulheres também quando elas causavam 'problemas' ou se recusavam a fazer sexo.

Os traficantes me apelidaram de 'Candy'. Todas as mulheres traficadas eram asiáticas – além de nós, indonésias, havia meninas da Tailândia, China e Malásia. Havia ainda mulheres que não eram escravas sexuais. Eram prostitutas que recebiam dinheiro e ficavam livres para circular.

Na maioria das noites, um dos traficantes me levava a um cassino. Ele me vestia como se fosse uma princesa. Aquele responsável por mim usava um terno preto e sapatos brilhantes e andava comigo como se fosse meu guarda-costas, segurando uma arma nas minhas costas. Não entrávamos pelo lobby, mas pela porta para dos funcionários, e depois pegávamos o elevador de serviço.

Vigilância

Image captionShandra fundou uma organização que ajuda vítimas a se reintegrarem à sociedade

Lembro-me da primeira vez que eu entrei um quarto de um hotel-cassino. Pensei que talvez poderia escapar. Mas meu traficante me esperava no corredor e me conduzia ao quarto seguinte. E ao seguinte. Quarenta e cinco minutos em cada quarto, noite após noite.

Como eu era complacente, não era agredida pelos traficantes, mas os clientes eram muito violentos às vezes. Alguns pareciam ser membros da máfia asiática, mas havia também homens brancos, negros e hispânicos. De todas as idades, de idosos a jovens universitários. Era a propriedade deles por 45 minutos e tinha de fazer o que queriam. Caso contrário, era agredida.

Era uma rotina difícil e dolorosa. Fisicamente, estava fraca. Os traficantes só me alimentavam com sopa de arroz com uns poucos pepinos, e eu estava drogada normalmente. A ameaça constante de violência e a necessidade de estar sempre em alerta também eram muito exaustivas.

Meu único pertence – além do meu 'uniforme' – era uma pequena bolsa com algumas coisas dentro: um dicionário, uma pequena Bíblia, algumas canetas e caixas de fósforo que pegava dos quartos de hotéis, com os nomes dos cassinos.

Também mantinha um diário, algo que fazia desde pequena. Escrevendo em uma mistura de indonésio, inglês, japonês e símbolos, tentava registrar o que fazia, aonde ía e quantas pessoas estavam comigo. Também mantinha o controle das datas. Era difícil, porque eu estava dentro de bordéis e não sabia se era dia ou noite. Minha mente só pensava em escapar, mas as oportunidades eram muito raras.

tráfico de mulheres (Entrevistas).Onde histórias criam vida. Descubra agora