continuação:Caso Kelly Fernanda Martins, 26 anos - Destino israel

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Caso Kelly Fernanda Martins, 26 anos - Destino israel

Kelly saiu do subúrbio de Guadalupe com a promessa de US$ 1.500 por mês em Israel e deixou para trás a mãe e os dois filhos. Sem falar uma única palavra de hebraico ou inglês e acreditando que trabalharia em lanchonetes ou casas de família, ela acabou sendo mantida em cárcere privado, obrigada a se drogar e a se prostituir em boates. .Relatou ter sido forçada a manter relações com dez homens por dia, em jornadas de até 13 horas.

Para manter as jovens brasileiras em Israel, os passaportes eram retidos na chegada a Tel Aviv pelos integrantes da máfia russa que exploravam o tráfico de escravas sexuais. Em novembro de 1998, oito cariocas foram resgatadas pela polícia israelense na casa de prostituição.

Morte no submundo de Tel Aviv 

"Bruno e Igor, mamãe ama muito vocês." Assim começa a última carta que Kelly Fernanda Martins escreveu aos filhos, com data de 14 de outubro, três dias antes de morrer em Tel Aviv, Israel. Até o fim da tarde de quinta, 29, a polícia israelense ainda não tinha divulgado a causa da morte de Kelly, cujo corpo embalsamado chegou ao Rio na terça. A morte da carioca de 26 anos, nascida no subúrbio de Guadalupe, revelou os terrores de uma rede de prostituição que explora mulheres brasileiras em boates de Israel. 

Segundo denúncias de duas outras cariocas que conseguiram voltar para o Brasil, a rede é explorada por mafiosos russos e controla cerca de 200 casas de prostituição em Israel. As mulheres, aliciadas em vários países, trabalham em regime de semi-escravidão sob ameaça de morte. Há atualmente oito mulheres brasileiras sob proteção da polícia israelense em Tel Aviv. Elas foram resgatadas de uma boate da cidade na sexta-feira 23 e estão escondidas num hotel pago pela Embaixada do Brasil.

O “caso Kelly” só tornou-se público porque sua mãe, S. R. M., 48 anos, procurou o jornal O GLOBO no dia 22/10/1998, para denunciar que sua filha fora assassinada por integrantes de uma quadrilha que aliciava brasileiras para trabalharem no exterior, mas na realidade as obrigavam a prostituirem-se.

Em depoimentos à Polícia Federal e ao GLOBO, Selma disse que, em agosto de 1998, Kelly estava em uma festa junina, quando foi abordada por Rosana e Suzana, moradoras do bairro de Ricardo de Albuquerque, zona norte do município do Rio de Janeiro, que tentaram convencê-la a trabalhar em Israel, onde ganharia muito dinheiro.

O corpo de Kelly foi encontrado na rua, em Tel Aviv. O atestado de

óbito apontou overdose de drogas ou de remédios como "causa mortis". Para a família: assassinato. 

Ambas renasceram na tela da Globo, fundidas na personagem Jéssica (Carolina Dieckmann), da novela das nove "Salve Jorge", de Gloria Perez. Uma das colegas de Kelly, a brasileira assassinada em Israel, diz que a novela é como um flashback de sua história. O resgate das brasileiras foi destaque do "Fantástico" e fez o então ministro da Justiça, Renan Calheiros, se deslocar até Israel para acompanhar o desfecho da operação. No Congresso, uma CPI sobre o tema que se encerra nas próximas semanas não trouxe casos tão dramáticos quanto os de Simone e Kelly, ocorridos há quase 20 anos.

"Eu trabalhava das 9h à meia-noite. Tinha que 'fazer' até 20 homens por dia. Ninguém aguenta. A gente não saía nem pra comer. Quando tentamos fugir, minha amiga foi morta", lembra a maranhense de 48 anos que vive no Rio. "A novela é light perto do que eu vivi. A censura não deixa mostrar tudo." Uma cena em que a personagem Jéssica é estuprada teria sido descartada pela Globo.

A colega de Kelly lamenta a morte e o estigma. "Minha irmã ouviu de um policial no aeroporto: 'Enterramos uma puta na semana passada e agora temos que vir buscar mais oito".

Também em 1998, a Polícia Federal prendeu o espanhol Mariano Ortin Martinez, que mantinha um esquema de levar mulheres brasileiras para se prostituir na Espanha. Em 2001, a Interpol e a Polícia Federal investigavam envolvimento de policiais militares do Rio com a chamada Conexão Ibérica, uma associação entre as máfias espanhola e francesa que tinha levado cerca 500 mulheres brasileiras para se prostituir em países da Europa. No mesmo ano, a Interpol identificou pelo menos 18 aliciadores de mulheres e menores. Os principais locais de atuação dos aliciadores eram boates, agências de viagem, salões de beleza e cooperativas de transportes.

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