Em silêncio, lado a lado, seguiam. E com eles, a neblina como outro ser, outra companhia, outro alguém que, impaciente, sussurrava, gemia. Som agudo, contínuo como que, assoprando, enfurecido. Um animal a sibilar, escarvando o chão. Rachel aterrorizada, agarrada ao braço do Dr. Heinz. Esse tranquilo assobiava "Lied", uma antiga canção alemã.
O cemitério se encontrava na mais profunda escuridão. Ele abriu o portão, esse rangeu como se o ferro velho sofresse de artrite. A neblina, estranhamente, abriu espaço, ficando acima deles, tal qual uma nuvem carregada. Desta forma, distante, os túmulos eram vistos mais facilmente.
- Para lá! – apontou – Lá fica a velha ala com os túmulos e mausoléus do século XIX.
Ela o seguiu. Nessa ala, vários túmulos: uns simples, outros enfeitados. Alguns mal conservados, destruídos. Nas lápides dizeres em italiano, inglês, alemão, português: enfim! Uma pluralidade cultural.
À medida que caminhavam, iam se aproximando de uma cripta em especifico. Ele sempre a frente. Ela, temerosa, sempre atrás. Nessa, vários cadeados, porém todos arrebentados. Dr. Heinz empurrou a grade gasta. Entrou. Ela hesitou.
- Venha! – ele insistiu, estendendo a mão direita como apoio. Entraram. Desceram alguns degraus e logo, ela pode observar, embutidos nas paredes, quatro túmulos e, sobre eles, nomes e fotos.
- Oh, meu Deus! – exclamou estarrecida ao ver a foto diante do primeiro túmulo. – É ela! – passando a mão sobre a foto. – É ela! Não pode ser! Ela está morta! Morta!
- Quem? – perguntou Dr. Heinz.
- Carmem Moredo: 1847 – 1870. – leu alto. - O senhor não está vendo a foto? É a Carmem, Dr. Heinz. – levando à mão a boca.
- Sim, é ela. – confirmou. – Estava grávida. Que infortúnio!
- Morta! – ciciou baixinho, aparentando medo da "alma do outro mundo". - O senhor sabia, não é mesmo?
- Sim, Rachel, eu sabia. - mal acabara de falar, quando foi surpreendido por outro grito.
-Não! Não! Por Deus, não! É a minha mãe – aos prantos. – Minha mãe! – repetiu.
- Clarence Elizabeth Jones: 1817 – 1870. – leu o médico. – enquanto ela se debulhava em lágrimas, vendo na foto nítida, limpa, bem conservada a figura altiva da governanta.
- Não! Não! – gritou alto. – Eu a chamava de mãe. - informou. - Dr. Heinz, estão todos mortos! Essas pessoas com as quais convivia e que eram minha família, são fantasmas: mortos! – em aparente sofrimento.
- E do lado de lá, Rachel, - apontando - está o túmulo de Martin John Smith – avisou, após ter dito isso, ficou minutos em silêncio. Apenas, observando as lágrimas, o pânico e o sofrimento estampado na face dela.
- Mortos! – repetia sem parar.
- Eu sei que você está confusa, – finalmente, quebrou o silêncio. – mas precisamos continuar. Assim, vamos acabar com a maldição e resolver o mistério dessa neblina. Vamos, venha! – encaminhando-a ao último túmulo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Mistério da Neblina
Mystery / ThrillerCidade pacata, tranquila, interior de São Paulo, onde o novo e o velho conviviam. Vila Nova e Vila Velha separadas pela ponte que servia de passarela para a estação de trem. Na Vila Velha, o velho relógio estilo Big-Ben, construções seculares, v...