CAPÍTULO 6 - A TRAGÉDIA DO CASTELINHO

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- Mas o médico não nos interessa

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- Mas o médico não nos interessa. Voltemos para cá, para o Castelinho e sua tragédia. Bem, aos vinte anos, uns três anos, após a chegada deles, a menina Smith acabou se apaixonando por um escocês operário, bem humilde, para desgosto do pai que não aceitou o namoro.

Ela tamborilava os dedos na xícara, alternando entre goles.

- Ela ficou grávida. O pai ameaçou enviá-la  a Londres. A governanta, então, bolou um plano, porém nunca imaginou que esse plano, acabaria num desastre e que esse desastre duraria quase cento e cinquenta anos, tal qual  essa neblina; grossa, densa, carregada com as dores dos inocentes.

Dito isso, uma forte chuva começou a cair como se o céu, emocionado, chorasse ao se lembrar dessa história.

- Qual era o plano? O que ela fez? - começou a se interessar.

- Ela achou que se dissesse ao escocês que ele não era o pai da criança que a menina Smith carregava, ele ficaria magoado e a abandonaria. Assim, acabariam, casando-a com outro pretendente:  inglês, of course! E Miss Clarence criaria a criança, o filho da menina Smith como se fosse seu. Afinal, era assim que as coisas funcionavam naquela época.

- Mas não foi assim, não é mesmo? 

- Não! Tudo foi um desastre. Uma tragédia!

- Quando o escocês soube da falsa história, sentiu-se magoado, traído. Assim, simplesmente, partiu, sem nem ao menos explicar o porquê. Miss Clarence se aproveitou desse fato e disse a ela que ele a havia abandonado. Assim, confiou  que seu plano tinha dado certo. Então, numa noite qualquer, em inicio de primavera do ano 1870, a encontraram  morta aqui mesmo, num dos quartos desse Castelinho. Tinha tomado uma grande dose de veneno.

- Meu Deus, que tragédia!

- Pois é! Como fora suicídio, foi enterrada sem a devida benção da igreja. Miss Clarence, então, enlouquecida e se sentindo culpada, pegou seu corpo, colocou-o na carroça da família e partiu rumo ao cemitério.  Vestida numa mortalha negra, em sinal de luto, puxando a carroça e guiando os cavalos de forma lenta: bem lenta! Muitos disseram ter sido enlouquecedor  os ruídos dos cascos dos animais batendo  nas pedras do calçamento. Ela fez com que todos vissem o cortejo fúnebre de sua menina, como a chamava. Foi uma choradeira nunca vista antes e nem depois nesse Vilarejo.

- Então, a carroça... – de si para si mesma

- Sumiram! Todos os moradores do Castelinho sumiram. Ninguém mais os viu. Uma semana depois, uma forte neblina se abateu sobre a cidade. Esse foi o primeiro registro da aparição deste fenômeno. Os operários disseram que ela, a neblina, ficava uivando e correndo em círculos ao redor do Castelinho como um lobo faminto. Sabe como é, o povo exagera! Bem, se verdade ou não, arrombaram a porta e ao entrarem aqui, encontraram Miss Jones pendurada a uma  corda no lustre – apontando para o hall onde estava o grande lustre de cristal. - se enforcou. Suicidou-se tal a menina Smith. O pai, Senhor Smith, caído no chão, aparentemente ataque fulminante e aqui mesmo na cozinha, a empregada morta e com ela o bebê, pois estava grávida de quase nove meses. Aí, fizeram uma enorme cripta no cemitério público, lá na Vila Nova que a época não existia. Era apenas um grande descampado. Encheram o túmulo de cadeados até o teto, pois de acordo com a crença local, os suicidas não vão para o céu. Curiosamente, depois disso todos da vila se reuniram e ali construíram o cemitério público. tomando o último gole de chá. 

- Ah, por isso o chamam de O cemitério da Senhora do Bom Parto. - disse Rachel. 

- Sim, uma justa homenagem a menina Smith.  E já se vão cento e cinquenta anos dessa história e os moradores dizem que, a cada cinquenta anos, todo inicio de primavera, data da morte dela, Miss Clarence, feito neblina espessa, densa, grossa, corre por todo esse vale a conduzir sua carroça e os  cavalos, procurando por ela para lhe pedir perdão.

- Dr. Heinz, eu acho que a vi.

- Psiu! – sinalizou o médico, levando o indicador aos lábios. – Esse é o motivo pelo qual, resolvi esclarecer o Mistério da Neblina. Assim, podemos acabar com essa maldição e libertar  para sempre, essas pessoas supersticiosas do Vilarejo que acreditam que elas precisam descansar, não é mesmo!

- Mas como? – perguntou.

- Vem comigo...

- Para onde? Visitar Dona Carmem?

- Não! Vamos ao cemitério.

- Ce-mi... Cemitério! - gaguejou.

- Sim! Vamos todos. – colocando o chapéu.

- Todos? Só tem nós dois!

- Será? 

Abriu a porta. O cão latiu nervoso.  Minutos depois, desapareceram em meio a densa neblina.

  Minutos depois, desapareceram em meio a densa neblina

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