Fifth Chapter: ❝Trauma❞

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Faltam seis meses para as crianças nascerem. A barriga de Rosé já está aparecendo.

Cobertores tapam todas as janelas da casa. A porta da frente nunca fica destrancada nem aberta. Relatos de acontecimentos inexplicáveis têm surgido com uma frequência alarmante. O que antes era manchete duas vezes por semana agora acontece todos os dias. Os porta-vozes do governo são entrevistados na TV. Com histórias vindas de todos os cantos, de Daejeon à Seul, ambas as irmãs estão tomando precauções. Alice, que acessa uma dezena de blogs diariamente, teme uma confusão de ideias, um pouco de tudo que lê. Rosé não sabe no que acreditar. Novas histórias aparecem na internet de hora em hora. É a única coisa sobre a qual as pessoas falam nas redes sociais e o único tema abordado nas páginas dos jornais. Sites recém-criados dedicam-se inteiramente a acompanhar o assunto. Um deles exibe apenas um mapa-múndi com pequenos rostos vermelhos sobre as cidades onde algo aconteceu. Da última vez que Rosé conferiu havia mais de trezentos rostos. Na internet, a situação está sendo chamada de "o Problema". Existe uma teoria bem disseminada segundo a qual, seja lá qual for "o Problema", ele sem dúvida começa quando uma pessoa vê alguma coisa.

Rosé se recusou a acreditar enquanto pôde. As irmãs brigavam constantemente, com Rosé citando as páginas que ridicularizavam a histeria em massa e Alice citando todo o resto. No entanto, Rosé teve que ceder quando os sites que acessava começaram a publicar histórias sobre os entes queridos dos autores dos blogs e eles passaram a admitir que estavam preocupados.

Dúvidas, pensou ela na época. Até entre os céticos.

Durante alguns dias, Rosé vivia uma espécie de vida dupla. Nenhuma das irmãs saía mais de casa. As duas mantinham as janelas cobertas. Assistiam à GFN, à Andong MBC e à BBS até não conseguirem mais ver as mesmas histórias sendo repetidas. Só que enquanto Alice ficava mais séria, e até mais sombria, Rosé se agarrava a um fio de esperança de que tudo aquilo simplesmente acabaria.

Mas não acabou. E ficou pior.

Depois de três meses vivendo como ermitãs, o pior medo de Rosé e Alice se concretizou quando seus pais pararam de atender ao telefone. E também deixaram de responder aos e-mails.

Rosé queria ir de carro até Incheon. Mas Alice recusou a ideia.

— Só podemos torcer para que estejam seguros, Rosé. Vamos ter que torcer para que o telefone tenha sido cortado. Dirigir para qualquer lugar agora seria burrice. Ir até o mercado já seria. Dirigir nove horas, então, seria suicídio.

"O Problema" sempre resultava em um suicídio. A Andong MBC havia mencionado essa expressão com tanta frequência que passou a usar sinônimos. "Autodestruição." "Autoimolação." "Haraquiri." Um âncora descreveu a situação como um "apagamento pessoal", expressão que não pegou. Instruções do governo eram constantemente exibidas. Um toque de recolher nacional foi decretado. As pessoas foram aconselhadas a trancar as portas, tapar as janelas e, acima de tudo, a não olhar para fora. No rádio, as músicas foram totalmente substituídas por debates.

É um blecaute, pensa Rosé. O mundo, o exterior, está sendo desligado.

Ninguém tem respostas. Ninguém sabe o que está acontecendo. As pessoas estão vendo alguma coisa que as leva a machucar os outros. A machucar a si mesmas.

As pessoas estão morrendo.

Mas por quê?

Rosé tenta se acalmar pensando na criança que está crescendo dentro dela. Parece estar sofrendo de todos os sintomas mencionados no livro sobre bebês, Grávida. Sangramento leve.
Seios sensíveis. Cansaço. Alice critica as mudanças de humor de Rosé, mas são os desejos que a estão enlouquecendo. Receosas demais para irem ao mercado, as irmãs têm que se contentar com os alimentos que estocaram pouco depois de comprarem o teste de gravidez. Mas o gosto de Rosé mudou. Alimentos comuns lhe dão nojo. Por isso ela mistura coisas. Brownies de laranja. Frango ao molho cocktail. Torradas com peixe cru. Ela sonha com sorvete. Muitas vezes, ao olhar para a porta da frente, pensa em como seria fácil entrar no carro e dirigir até o mercado. Sabe que levaria apenas quinze minutos. No entanto, toda vez que está prestes a fazer isso, a TV anuncia outra história devastadora. Além do mais, como saber se os funcionários do mercado ainda estão indo trabalhar?

Caixa de Pássaros ∞ chae+lisaOnde histórias criam vida. Descubra agora