Rosé está dirigindo. As irmãs usam o carro dela, um Ford Festiva de 1999, porque tem mais gasolina no tanque. Estão a apenas cinco quilômetros de casa, mas já percebem sinais de que as coisas mudaram.— Olhe! — exclama Alice, apontando para várias casas. — Cobertores nas janelas.
Rosé está tentando prestar atenção ao que Alice diz, mas seus pensamentos continuam voltando para a própria barriga. A explosão do Relatório Rússia na mídia a preocupa, mas ela não leva isso tão a sério quanto a irmã. Outras pessoas na internet estão, como Rosé, mais céticas. Ela leu blogs, especialmente o Silly People, que posta fotos de pessoas tomando certas precauções e depois acrescenta legendas engraçadas abaixo das imagens. Enquanto Alice aponta alternadamente para uma janela e protege os olhos, Rosé pensa em uma das imagens: a de uma mulher pendurando um cobertor na janela. Embaixo dela, a legenda dizia:
Querido, o que você acha de trazer a cama para cá?
— Dá para acreditar? — pergunta Alice.
Rosé assente em silêncio. Ela se vira para a esquerda.
— Ah, fala sério — insiste Alice. — Você tem que admitir que isso está ficando interessante.
Parte de Rosé concorda. É interessante mesmo. Na calçada, um casal passa com o jornal cobrindo o rosto até as têmporas. Alguns motoristas dirigem com os retrovisores virados para cima. Distante, Rosé se pergunta se aqueles são sinais de que a sociedade está começando a acreditar que há algo de errado. E se houver, o que é?
— Eu não entendo — afirma Rosé, em parte tentando se distrair dos próprios pensamentos, em parte começando a se interessar pelo assunto.
— Não entende o quê?
— Eles acham que não é seguro olhar para fora? Olhar para qualquer lugar?
— Isso — responde Alice. — É exatamente o que acham. Era o que eu estava lhe dizendo.
Alice, pensa Rosé, sempre foi dramática.
— Bem, isso me parece uma maluquice — diz Rosé. — E veja só aquele cara!
Alice olha para onde Rosé está apontando. Então desvia o olhar. Um homem de terno anda com uma bengala de cego. Está com os olhos fechados.
— Ninguém mais tem vergonha de agir assim — explica Alice, o olhar voltado para os próprios sapatos. — A bizarrice já chegou a esse nível.
Quando as duas estacionam na farmácia, Alice ergue a mão para proteger os olhos.
Rosé percebe isso e depois olha para o outro lado do estacionamento. Mais pessoas estão fazendo o mesmo.
— Você está com medo de ver o quê? — pergunta ela.
— Ninguém sabe essa resposta ainda.
Rosé já viu a enorme placa amarela da farmácia milhares de vezes. No entanto, nunca pareceu tão pouco acolhedora.
Vamos lá comprar seu primeiro teste de gravidez, pensa, saindo do carro. As irmãs atravessam o estacionamento.
— Ficam perto dos remédios, eu acho — sussurra Alice, abrindo a porta da frente da loja, ainda com os olhos cobertos.
— Alice, pare com isso.
Rosé guia o caminho até o setor de anticoncepcionais. Lá, encontra quase dez marcas de testes de gravidez.
— Tem tantos... — comenta Alice, pegando um da prateleira. — Ninguém mais usa camisinha hoje em dia?
— Qual deles devo levar?
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Caixa de Pássaros ∞ chae+lisa
Terror[descontinuada.] Basta uma olhadela para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em suicídio. Ninguém é imune e ninguém sabe o que provoca essa reação nas pessoas. Cinco anos depois do surto ter começado, restaram poucos sobreviv...