Capítulo 3

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Assim como o combinado, fiquei esperando o Samuel na doceria no horário marcado. Como abrimos a loja na parte da manhã fechamos às sete e meia da noite todos os dias.

-Pai, hoje devo chegar em casa um pouco mais tarde porque vou dar umas aulas para um "amigo".

-Que amigo? E aula de quê? -ele fez uma cara confusa.

-O Samuel, filho do Seu Felipe.

-Ah, o Samuel?! Ele vem aqui todo dia. Mas vocês nem conversam.

-É, eu sei que é estranho. Mas ele me pediu aulas de confeitaria por causa de um negócio aí e eu resolvi ajudar né -agora eu que fiz uma cara de tanto faz.

-Hum, resolveu ajudar. E posso saber que negócio é esse? Ele está querendo namorar com você, Giulia? -meu pai cruzou os braços sorrindo.

-Namorar pai? -eu ri. -Ele não faz o meu tipo e nem eu o tipo dele.

-É assim que começa hein -ele me deu um beijo na testa. -Eu já vou. Manda um oi para o Samuel.

-Pode deixar Seu Marcos.

Assim que meu pai foi para casa, coloquei minha playlist que intitulei de "Meus xodózinhos" para tocar. Nela eu havia colocado todas as músicas que mais amava na vida e a maioria eram de bandas dos anos 80. Aquela frase "nasci na década errada" foi feita especialmente para mim.

Passei a tarde inteira pensando em qual receita poderia ensinar hoje para o Samuel. Tinha que ser alguma coisa fácil porque ele tinha cara de que não sabia de nada. Olhei no relógio da parede e já eram oito horas. Será que ele não iria vir mais ou só estava querendo me irritar com o atraso? Acho que a segunda opção é a mais provável para ele. Enquanto tocava Tina Turner, pensei em quão avoada eu era que nem o número dele eu havia pego. Uma mensagem seria a coisa certa nesse momento para saber o porque do atraso.

Quando já eram oito e vinte eu já tinha me levantado e estava pronta para ir embora mas ouvi a porta da frente bater. Segundos depois o Samuel apareceu na cozinha todo suado.

-Você está vinte e dois minutos atrasado. Quer se justificar? -cruzei os braços e ageitei meus óculos.

Ele tirou o boné do time de baseball, que deixou seu cabelo em um bagunçado lindo (ops! legal), e se sentou na cadeira onde eu estava minutos atrás. Ele deu aquele sorrisinho fofo, que dizer simpático, e colocou a mão no queixo como se estivesse pensando.

-Então... Primeiramente, mil desculpas. Eu não ia e nem queria chegar atrasado, só que o treinador fez a gente dar três voltas em torno do campo agora às oito.

-Uhum, sei. O treinador...

-É sério, poxa! Se quiser pode perguntar pros caras lá do time -ele apontou o celular dele para mim.

-Não precisa. Pela sua cara de acabado dá pra ver que é verdade -eu olhei para ele rindo e fui pegar um copo de suco na geladeira.

-Sério que eu estou com cara de acabado? Ah, um acabado lindo, vai?!

Dessa vez o sorriso dele foi de orelha a orelha, como aquele que ele dava nos discursos no colégio. Não sei porque, mas senti um frio na barriga. Isso acontecia quando conhecíamos pessoas novas? Devia ser o ar condicionado, só poderia ser isso. Dei o suco para ele e fui pegar a batedeira, que eu já havia guardado.

-Um acabado bonitinho -falei com cara de deboche.

Ele sorriu e deu uma golada no suco. Assim que terminou, deu uma checada no celular e foi lavar as mãos.

-O que eu vou aprender na aula de hoje professora Jujuba.

-Jujuba?

-Você não gosta que te chamem assim?

Tudo por essa garotaOnde histórias criam vida. Descubra agora