O Borrão

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Deu zoom na foto, tentando entender o que era aquilo.  Algo que  parecia fazer parte do prédio que se erguia em  frente de sua casa, mas não deveria estar lá.  Parecia um borrão, como quando Andrea fotografava e sem querer mexia a câmera. Mas se fosse isso, pensou,  toda a imagem estaria distorcida, não apenas aquele ponto. 

Um pouco mais de zoom. O borrão parecia uma silhueta humana, daria até para  confundi-lo com uma pessoa que estivesse passando, se não fosse por um detalhe:toda a silhueta estava embaçada, porém os olhos - ou o que parecia ser um par de olhos -  não se encontravam desfocados. Andrea viu perfeitamente duas formas ovaladas negras, com um pontinho branco. Olhos? Poderiam ser, mas assustadores, sem dúvida. 

Aquela imagem lhe deu arrepios, e por um momento sentiu-se zonza. Balançou a cabeça, tentando convencer-se que estava vendo coisas onde não existiam. Procurou um site com vídeos para divertir-se,já que a concentração nos estudos havia sumido de vez. Depois de assistir alguns vídeos com bandas de rock, resolveu caminhar mais um pouco fora de casa. Respirou fundo. Aquilo ainda a deixaria doida. 

Deitou-se no gramado e ficou brincando de dar formas às nuvens, como quando era criança. Fechou os olhos, por um instante vendo as coisas como um grande negativo. Negativo... e se... 

Levantou-se de um pulo e correu até seu quarto, procurando novamente a imagem com o tal borrão. Os olhos... o que pareciam ser olhos...e se aquele borrão fosse ....Com a respiração acelerada, abriu um programa de edição e selecionou a opção para colocar a foto em negativo. Assim que a imagem ficou em negativo, um grito irrompeu no quarto. Andrea assustou-se novamente com o próprio berro.  

O borrão realmente era algo. Mas Andrea não podia acreditar no que via. O negativo era uma imagem perfeita....A imagem dela própria. 

Balançou a cabeça novamente, estava vendo coisas. Não havia como uma imagem em negativo transformar um borrão em um reflexo de Andrea, ainda mais aparecendo em frente à sua casa. Piscou os olhos e encarou a imagem, apenas para ver-se novamente. As mesmas roupas que estava vestindo, o cabelo do mesmo jeito. 

Como isso era possível? Voltou a imagem ao seu estado original e o borrão também voltou. Apenas aquele ponto na imagem, embaçado a não ser pelos olhos em negativo. Com a mão tremendo sobre o mouse, tornou a colocar a imagem em negativo, com a esperança de que tudo não passasse de imaginação. Estava cansada, era isso. 

Mas não era. Assim como na primeira vez, o ponto embaçado na imagem, ao contrário de toda a cena em negativo, era ela. Andrea ficou contemplando as roupas, o cabelo amarrado alto como estava usando... 

Que bruxaria era aquela?

DoppelgängerOnde histórias criam vida. Descubra agora