XIV

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Acordou cansada, querendo permanecer na cama o dia inteiro. Detestou lembrar que tinha um compromisso, mesmo sendo um compromisso agradável, que deixaria uma criança feliz. Porém, a preguiça estava dominando seu corpo naquela manhã.

Poderia falar todos os motivos que a estavam deixando cansada, e a maioria era sentimental. Fora sua vida que estava saindo tudo errado, havia o conflito com seu pai, coisa que a matava por dentro dia após dia, sua irmã sendo maltratada pelo marido, se submetendo as humilhações e maus tratos. Apenas pedia a Deus para que as coisas não piorassem, porque tinha medo de surtar e ficar louca.

O dia estava nublado, mas sabia que brevemente o dia iria melhorar. Ainda era cedo, poderia se arrumar, caminhar pelos corredores do palácio, para depois ir ao encontro do rei com seus filhos, o que de certo modo, era ainda estranho para ela.

Scarlett ficava meio apreensiva em ficar tanto tempo ao lado de um rei. Sua irmã era uma rainha, mas era diferente, porque simplesmente ela era sua irmã caçula. Quando estava com George, as coisas ficavam mais formais, apesar de ele ser uma pessoa simples e gentil. Mas, a presença de um rei, não deixava de ser imponente, não para ela. Mesmo que tenha criado de certo modo, uma intimidade com o rei da Escócia, ele era seu superior. Além do fato dos seus conhecimentos sobre os possíveis segredos que rodeavam a vida dele.

Alethia e Harold, duas crianças que poderiam pagar caro pelos erros da mãe. Se Adam havia passado anos longe do filho mais novo por achar que ele tinha culpa pela morte da mãe, ficou imaginando se ele descobrisse que os gêmeos não eram dele.

— Scarlett? — Phoebe colocou a cabeça dentro do quarto. — Posso entrar?

— Sim, sim. — sorriu.

Phoebe entrou com um belo vestido verde. Sua aparência estava mais descansada, como se tivesse dormido bem pela primeira vez em sua vida. Parecia que estava com mais vida, ou era somente seu positivismo de que as coisas ficariam bem para sua irmã.

— Estive pensando, acho que atrapalhei a visita de Charlotte.

— Atrapalhou?

— Eles resolveram ir embora amanhã.

— Amanhã? — assustou-se.

— Sim. Aposto com qualquer um que foi por minha causa. Iam daqui uns dias, anteciparam para amanhã. Não estou certa?

— Sim, talvez esteja. Mas não importa, quero que fique longe dele.

— Acho que vai ser bom para mim e as crianças.

— Qualquer lugar longe de Frederick é bom.

— Ele não era assim. — lamentou.

— Nunca são. — pendeu a cabeça.

— Como papai vai reagir?

— Deveria reagir matando-o.

— Scarlett!

— Ora, não vou ser hipócrita. — levantou-se da cama.

— Sim, mas não seja tão radical.

Scarlett encarou a irmã com desconfiança.

— Ainda o ama?

— Por que essa pergunta?

— Porque sim.

Phoebe começou a andar pelo quarto, mordendo os lábios. Nem precisou ela responder para Scarlett saber qual seria a resposta. Sim, Phoebe ainda amava Frederick. Poderia não ter mais o mesmo brilho e paixão de antes, mas o amava. E era isso que não conseguia compreender.

— Alguma coisa dentro de mim ainda acredita que as coisas podem mudar para melhor. Que de alguma forma, algum dia, Fred possa mudar. Mas, existe outra coisa que diz que ele nunca irá mudar, e se eu permanecer no erro, vou sofrer consequências graves.

— Prefiro seu segundo lado.

— Ora, Scarlett, você não entende que...

— Não entendo que ele bate em você na frente das crianças? Que Melanie e Robert em vez de amar o pai tem medo? Também não entendo que você perdeu um filho devido à violência dele? Oh, deixe-me lembrar, que nossa tia piorou depois desses acontecimentos? Poupe-me, Phoebe.

— Não precisava usar palavras tão pesadas.

— Precisamos de um pouco de realidade algumas vezes. — abriu a porta do seu quarto de vestir.

— Sim, mas não precisava ser tão dura em suas palavras.

— Se eu for boa com você, não irá cair na realidade.

— Fala como se fosse simples.

Scarlett respirou fundo e andou até Phoebe. Colocou as duas mãos sobre os ombros dela, e a encarou profundamente.

— Pense que não irá para Londres a passeio, e sim, fugir.

Afastou-se da irmã e entrou para se trocar.

♔♔♔♔

Adam estava com seus filhos no jardim. Eles estavam brincando alegremente por causa do belo dia que estava fazendo. Gostava de vê-los felizes, vivendo a infância deles tranquilamente. Algumas vezes voltava ao passado lembrando o quão se divertia com a irmã naquele jardim.

Alice era extremamente extrovertida, fazia todos os professores ficarem estressados ao ponto de pedir demissão. Adam não ficava atrás, fazia a mesma coisa, ou pior. Ela recebia mais punições por ser herdeira do trono, ele conseguia escapar algumas vezes.

— Majestade. — ouviu a voz de Scarlett.

— Oh, Srta. Harrison. — sorriu. — Fico feliz que tenha vindo.

— Eu disse que viria. — ofereceu a mão para ele beijar. — Espero não ter chegado atrasada.

— Ingleses nunca atrasam. — beijou a mão dela. — Eu apenas cheguei antes com as crianças. E, Edward, nos fará companhia?

— Não, estava dormindo. — colocou as mãos para trás. — Algumas vezes ele dorme tarde, fica agitado, como consequência, acorda tarde. Charlotte era a mesma coisa quando era criança. Ela não pode reclamar. — exibiu um sorriso novamente.

— Fiquei triste ao saber que vão embora antes do previsto.

Scarlett desfez o sorriso.

— Não nego que também estou, mas é necessário. Apesar que poderia ir a Londres assim que pudesse. Poderíamos ir em algum baile, sarau. A temporada está próxima, pense com carinho em minha proposta.

— Pensarei.

Adam observou os belos olhos verdes ganharem um brilho de entusiasmo. Gostava de vê-la feliz, não sabia bem o motivo, mas gostava. Talvez por ela ser gentil, alegre, diferente de muitas pessoas que já havia conhecido. E, também, fazia tantos anos que não conhecia pessoas novas. Era a união do útil ao agradável.

— Pensando em alguma coisa boa?

— Como descobriu?

— Está sorrindo. Um belo sorriso.

Adam sorriu ainda mais, mostrando suas covinhas.

— Realmente, um belo sorriso.

Arthur começou a correr em direção a eles com um enorme sorriso.

— Srta. Harrison! Estou tão feliz que esteja aqui. — pegou na mão dela. — Veja a árvore que está nascendo.

Scarlett olhou para Adam e saiu com Arthur em direção a árvore que ele tinha falado.

Ficou observando de longe como eles interagiam bem, como se fosse mãe e filho brincando. Sentou-se no chão e fechou os olhos para ouvir o som das risadas, o vento passar em seu cabelo, o canto dos pássaros.

Sentia-se bem. Muito bem.

Apaixonados em EdimburgoOnde histórias criam vida. Descubra agora