A Literatura Sob o Capitalismo

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Capítulo 3 , continuação da A Mentalidade Anticapitalista.

O Mercado para os Produtos Literários

O capitalismo dá a muitos a oportunidade de mostrar iniciativa. Enquanto a rigidez de uma sociedade de status obriga todos ao desempenho invariável e rotineiro sem permitir qualquer desvio dos padrões tradicionais de comportamento, o capitalismo encoraja o inovador. O lucro é o prêmio dos que se afastam com sucesso dos tipos normais de procedimento; o prejuízo é a punição dos que, por preguiça, aderem a métodos obsoletos. O indivíduo é livre para mostrar o que pode fazer de modo melhor do que os outros.

No entanto, essa liberdade do indivíduo é limitada. É resultado da democracia do mercado e, por isso, depende da apreciação do desempenho do indivíduo por parte do consumidor, que é soberano. O que conta no mercado não é o bom desempenho em si, mas o desempenho reconhecido como bom por um número suficiente de clientes. Se o público comprador for tolo e não apreciar devidamente o valor de um produto, embora este seja excelente, todo o esforço e despesa foram empregados em vão.

O capitalismo é essencialmente um sistema de produção em massa para satisfazer às necessidades das massas. Derrama a fartura sobre o homem comum. Elevou a média do padrão de vida a um nível jamais sonhado em épocas passadas. Tornou acessíveis, a milhões de pessoas prazeres que, há poucas gerações, estavam ao alcance somente de uma pequena elite.

O exemplo mais destacado encontra-se na evolução do amplo mercado para todos os tipos de literatura: A literatura — no sentido mais amplo da palavra — é hoje um artigo solicitado por milhões. Leem jornais, revistas e livros, ouvem rádio e lotam os teatros. Autores, produtores e atores que satisfazem aos desejos do público recebem rendimentos consideráveis. Dentro da estrutura da divisão social do trabalho, surgiu uma nova subdivisão, a espécie dos literatos, ou seja, as pessoas que ganham a vida escrevendo. Esses autores vendem o seu trabalho ou o produto de seu esforço no mercado assim como todos os outros especialistas vendem seus serviços ou produtos. Estão, na plena capacidade de escritores, totalmente integrados no contexto cooperativo da sociedade de mercado.

Nas eras pré-capitalistas, escrever era uma arte mal remunerada. Ferreiros e sapateiros ganhavam para o sustento, mas os autores não. Escrever era uma arte liberal, um passatempo, e nunca uma profissão. Era ocupação nobre de pessoas ricas, reis, gente importante, políticos, aristocratas e outros cavalheiros com recursos próprios. Era praticada em horas de folga por bispos e monges, professores universitários e militares. O homem sem dinheiro que, por irresistível impulso, era levado a escrever tinha, primeiro, de garantir alguma fonte de renda independente do direito de autor. Spinoza polia lentes. Os dois Mills, pai e filho, trabalhavam nos escritórios londrinos da East India Company. Mas muitos autores pobres viveram da generosidade de abastados amigos das artes e das ciências. Reis e príncipes disputavam entre si o patrocínio de poetas e escritores. As cortes eram o asilo da literatura.

É fato histórico que o sistema de patrocínio oferecia aos autores inteira liberdade de expressão. Os patronos não se aventuravam a impor aos protegidos sua própria filosofia e seus padrões de gosto e de ética. Estavam quase sempre preocupados em protegê-los das autoridades eclesiásticas. Pelo menos era possível ao autor que fosse banido por uma ou mais cortes refugiar-se em outra rival.

Apesar disso, ver filósofos, historiadores e poetas transitando entre os cortesãos e dependendo dos favores de um déspota não é muito edificante. Os antigos liberais saudavam a evolução do mercado para os produtos literários como parte essencial do processo que emanciparia o homem da tutela de reis e aristocratas. A partir daí, achavam eles, o julgamento das classes cultas seria supremo. Que perspectiva maravilhosa! Um novo ressurgimento parecia prestes a brotar.

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