Texto presente no Capítulo IV do Livro " A mentalidade anticapitalista" de Von Mises
-----------**-----------Os mais apaixonados caluniadores do capitalismo são aqueles que o rejeitam por causa de sua suposta injustiça.
É passatempo inconsequente apontar aquilo que deveria ser e não é porque contraria as leis inflexíveis do universo real. tais devaneios podem ser considerados inócuos enquanto permanecem como sonhos. porém, quando seus autores começam a ignorar a diferença entre fantasia e realidade, tornam-se os mais sérios obstáculos aos esforços humanos no sentido de melhorar as condições externas de vida e bem-estar.
A pior de todas essas ilusões é a ideia de que a "natureza" conferiu a cada indivíduo certos direitos. segundo esta doutrina, a natureza é generosa para com toda criança que nasce. existe muito de tudo para todos. consequentemente, todos têm uma reivindicação justa e inalienável contra seus semelhantes e contra a sociedade: a de receber a parcela total que a natureza lhe outorgou. As leis eternas da justiça natural e divina determinam que ninguém se aproprie daquilo que, por direito, pertence a outrem. Os pobres são necessitados somente porque pessoas injustas despojaram-nos do seu direito de herança. O papel da igreja e das autoridades seculares é o de impedir essa espoliação e fazer com que todos sejam prósperos.
cada palavra desta doutrina é falsa. A natureza não é generosa, mas sim mesquinha. ela restringiu o fornecimento de todas as coisas indispensáveis à preservação da vida humana. povoou o mundo com animais e plantas nos quais o impulso para destruir a vida humana e o bem-estar é inato. desenvolve forças e elementos cuja ação é prejudicial à vida humana e aos esforços humanos para preservá-la. A sobrevivência e o bem-estar do homem são uma realização da habilidade com a qual ele utilizou o principal instrumento que lhe foi concedido pela natureza - a razão. Os homens, ao cooperarem sob o sistema da divisão do trabalho, criaram toda a riqueza que os sonhadores consideram um presente espontâneo da natureza. com relação à "distribuição" dessa riqueza, seria absurdo referir-se a um princípio supostamente divino ou natural de justiça. O que importa não é a distribuição das parcelas de uma reserva presenteada ao homem pela natureza. O problema é promover as instituições sociais que permitem às pessoas continuar e aumentar a produção de tudo o que necessitam.
O conselho Mundial das igrejas, organização ecumênica de igrejas protestantes, declarou em 1948: "A justiça exige que os habitantes da Ásia e da África, por exemplo, sejam beneficiados por uma maior produção industrial."2 isto só tem sentido se alguém supõe que deus presenteou a humanidade com uma determinada quantidade de máquinas e presumiu que esses instrumentos fossem distribuídos igualmente pelos vários países. contudo, os países capitalistas foram tão perversos que se apoderaram de uma quantidade muito maior do que a "justiça" lhes determinou e, assim, privaram os habitantes da Ásia e da África das quantidades a que tinham direito. Que vergonha!
A verdade é que a acumulação de capital e seu investimento em máquinas, a fonte da riqueza comparativamente maior dos povos ocidentais, devem-se exclusivamente ao capitalismo laissez-faire, que o mesmo documento das igrejas veementemente deturpa e rejeita no campo moral. não é culpa dos capitalistas se os asiáticos e os africanos não adotaram as ideologias e políticas que teriam tornado possível a evolução do capitalismo nativo. também não é culpa dos capitalistas se as políticas dessas nações impediram as tentativas dos investidores estrangeiros no sentido de dar-lhes "os benefícios de uma maior produção industrial", ninguém nega que o que torna centenas de milhões de pessoas na Ásia e na África necessitadas é o fato de elas apegaremse a métodos primitivos de produção e de perderem as vantagens que o emprego de melhores ferramentas e de tecnologia atualizada lhes poderia conferir. existe apenas um caminho para aliviar sua miséria - ou seja, a adoção total do capitalismo laissez-faire. eles necessitam é da empresa privada, da acumulação de novo capital, de capitalistas e empresários. É absurdo culpar o capitalismo e as nações ocidentais capitalistas pelas condições que os povos atrasados criaram para si próprios. A solução indicada não é a "justiça" mas a substituição de políticas doentias por políticas sadias, ou seja, pelo laissez-faire.
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Política Incorreta: Vários Textos
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