Casa Grande

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Parte 04: Casa Grande

Era quase como se a paz tivesse se demitido da minha vida.

Agora, com o terceiro acontecimento em três dias, sentia que, realmente, aquela perseguição não era apenas paranoia minha.

E se Jenny fosse Kathleen? E se ela quisesse vingança? Seria tarde pra dizer que sentíamos muito? 

Afinal, ela, mais do que ninguém sabia como a popularidade conseguia ser tentadora, maravilhosa e irresistível.

Mesmo que o ocorrido com Christa tenha sido mais que catastrófico, pelo menos, serviu para que Damien me escutasse. Agora, ter alguém ao meu lado, que acreditava no que eu dizia, era reconfortante em meio a esse momento de dúvida.

Todavia, parecia que Damien não tinha a mesma força que eu para manter a calma e até mesmo sua sanidade. Fomos do fim da aula até a minha casa, com o garoto mais popular da escola, o mais rico, o mais bonito, suando frio na garupa da minha bicicleta, por estar totalmente sem ação para dirigir sua ferrari, que seu pai milionário o dera de presente.

– Justin, você é muito ponta firme, mano. – Ele falou pra mim, ainda assustado, enquanto minha bike descia as ladeiras de Pensville. – Sinto muito pela Skyler tenha te arrastado pra isso.

Com essa frase de Damien, foi impossível não voltar algumas semanas atrás, quando eu ainda era somente Justin Doiley, que não era popular, mas também não era um nerd indigno. Apenas um garoto que conseguiu seu lugar em cima do muro, um habitante eterno do purgatório escolar. Não estava no topo, mas também não havia chegado ao fundo.

Aqui está, Justin, o purê de batatas com bolo de carne que você tanto gosta. – A senhora Belfrey do refeitório, me serviu a primeira porção do almoço daquela quarta feira. Eu era um dos poucos alunos que a dirigia a palavra e a cumprimentava no corredor, o que me dava algumas regalias, como ficar com a parte boa da comida.

Obrigado, senhora Belfrey, tá com um cheiro muito bom! – Sorri para a doce senhora que cuidava do almoço, me afastando para que a garota atrás de mim pudesse se servir.

Dei dois passos em direção às mesas do refeitório, ainda ouvindo os gritos da senhora Belfrey para que a fila se movimentasse, ao que parecia, alguém não queria avançar e estava boqueando o fluxo de pessoas.

Kathleen, querida! – Sentei em uma mesa ainda próxima à fila, e pude ver a garota com um sorriso sem graça, pedindo desculpas às pessoas atrás dela e entregando o prato para que a senhora Belfrey a servisse. – Purê, meu bem?

Ainda saboreando minha comida, levantei o olhar e percebi que Kathleen estava me encarando. Ao ver que eu havia reparado em seus olhares, seu rosto ganhou um tom avermelhado e ela virou o olhar, assentindo para a simpática senhora do refeitório.

Depois de comer, fui estudar na biblioteca enquanto o intervalo do almoço não acabava. Estava lendo um conto maravilhoso de um escritor inglês chamado Christopher Marlowe, que seria o tema de um dos meus trabalhos de literatura.

É esse livro que você está procurando? – Olhei para o final do corredor e lá estava a mesma garota, que parecia envergonhada em falar comigo. – Eu já acabei de ler, pode pegar.

Agradeci com um aceno de cabeça, recebendo o livro de suas mãos.

Obrigado. – Falei,dando um sorriso. – Engraçado, achava que só eu sabia da existência dessa ala na biblioteca.

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