Meu celular tocava e tocava aquela musiquinha chata do despertador. Levantei com muita relutância e fui para o banheiro, tomei um banho bastante quente e lavei meus cabelos, pois estavam precisando ser lavados.
Como hoje é sábado (pois é, isso que dá esquecer de desativar o despertador, acordar as seis da manhã em pleno sábado!) voltei a colocar meu pijama, que é uma calça de moletom e uma blusa que já foi pra guerra mil vezes. Fui pra cozinha, caminhando igual uma morta viva, mas desperto quando senti cheiro de café.
Minhã mãe como sempre acorda com as galinhas, por isso a mesa já está posta com uma infinidade de comidas, mas meu olhar cai em uma broa de milho.
Sem perder tempo vou no armário e pego minha xícara personalizada Game of Thrones, na volta dou um abraço na minha mãe, que está em pé encostada no batente da porta com o olhar longe.
– Bom dia flor-do-dia – minha mãe disse beijando minha bochecha.
– Bom dia! – digo me afastando e sentando na mesa, me servindo de café e pegando um generoso pedaço de broa. – Cade o meu pai?
– Na sala – Humm... nossa... minha mãe sempre se supera, essa broa é dos Deuses, isso aqui tá muito bom, tem coco e nossa também tem queijo, isso... humm. – Elisa?
– Hum..? – perguntei com a boca cheia.
– A gente vai pra Georgia.
– Hum... hum – Amo, broa de milh... – O quê? AGENTEVAIVISITARAVOVÓ?
Perguntei pulando da cadeira e lhe dando um abraço apertado, ela me abraçou de volta mas não disse nada, antes que eu pudesse perguntar o que havia de errado seus ombros começaram a tremer. Ela está chorando.
– Mãe? – perguntei sentindo minha garganta se fechar, por que ela estava chorando?
– Aconteceu alguma coisa com a vovó? Ela tá bem? – pergunto depois de alguns minutos e dou um passo para trás, e vejo seus lábios tremerem, ela não consegue falar. Senti meus olhos marejarem e meu coração só faltava sair pela boca, meus músculos chegam a se contrair de aflição. Esse silencio esta me matando por dentro. Minha mãe respirou fundo duas vezes e pegou em minhas mãos, apertando-as, olhei em os seus olhos e assenti a cabeça afim de encoraja-la a começar a falar, estou assustada e com medo, sei que o pior estar por vim.
–Ela, ela... está morrendo. Desculpa querida, sua avó... – disse tao baixo e entre os soluços que pensei ter ouvido errado. Não. Com certeza eu estou ouvindo errado. Eu simplesmente não consigo acreditar... Paralisei quando finalmente ela se acalmou e em voz baixa me confidenciou que minha vovozinha, minha segunda mãe, a mulher que eu admiro e adoro desde que me entendo por gente, estava com Câncer de pulmão, e que é terminal e está no ultimo estagio. Os médicos estimaram só algumas semanas de vida, isso com a ajuda da medicação.
- Câncer? O que? - pergunto chocada, minha avo não tem câncer. Nós conversamos quase todos os dias por celular e NÃO, ela não tem câncer. Eu... eu não posso acreditar que ela escondeu isso de mim, as vezes durante as ligações percebia sua respiração oscilar e tosses constantes, mas ela sempre me garantiu que estava bem, vovó não é de mentir e muito menos esconder uma coisa tão seria dessas. Desviei os olhos dela e encarei o chão, as lagrimas rapidamente começaram a rolar por minha face. Minha mãe respirou fundo e pegou em minhas mãos novamente me puxando e forçando meu corpo inerte a sair do lugar. Ela me fez sentar na cadeira mais próxima e se sentou em minha frente. Suas delicadas mãos tocaram meu rosto e esse com certeza foi um dos piores dias da minha vida.
Ali ouvindo atentamente tudo o que minha mãe falava e tentando processar cada informação em meu cérebro preguiçoso, chorei. Chorei por pensar na minha avó sozinha naquela fazenda e tendo que lidar com tudo sozinha, chorei por saber que ela estava indo embora e que eu só teria mais algumas semanas com ela. Apesar dela ainda viva eu já sento a dor da perda e a angustia me dominar, só de pensar que não terei mais aquela velha doida na minha vida, de não ter onde passar as ferias de verão e de não poder mais ouvir seus sermões, suas historias sem sentido, e sem poder ouvir sua voz grave, me deixava arrasada por dentro.
Assim que minha mãe terminou de falar e pediu para que eu arrumasse minha mala, que prescisavamos ir para a casa da vovó o mais rápido possível. Me permitir por um momento sentir raiva, raiva por não estar ao seu lado agora, raiva por não ter lhe abraçado quando ela descobriu sobre a doença,raiva por que mentiram para mim, raiva porque simplesmente não estou preparada para perde-la, e raiva principalmente por que essa droga de câncer já tirou minha mãe biológica e agora vai tirar minha avó de mim também.
A mulher que chamo de mãe, e que cuidou de mim desde que eu tinha apenas dois meses de vida, quando minha mãe morreu no parto, depositou um beijo em minha testa e saiu da cozinha chorando, não sei quanto tempo fiquei ali sentada, só sei que quando dei por mim estava dentro de um avião com destino a Georgia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cidade das Estrelas
Romance"Ele riu, eu levantei minha cabeça que estava encostada entre o ombro e o pescoço dele, olhei em seus olhos. E me perdi e ao mesmo tempo me encontrei naquela imensidão azul, tudo isso com apenas um olhar. E na mesma hora soube que eu estava entrando...