Sai daquele bar, com a mente em frangalhos e o coração numa incrível confusão. Eu e a minha avó formos ao centro e passamos o resto do dia lá. Compramos roupa, maquiagem e comidas nada saudáveis, como salgadinhos e chocolate. Um pedido de desculpas dela. Nos divertimos como duas criancinhas, fomos até em um parquinho e andamos de carrinho bate-bate! Quando estávamos voltando o sol já tinha se recolhido e um céu estrelado sem lua nos cumprimentava.
O caminho de volta foi estranho, pelo menos para mim. Parecia que algo estava errado, mas eu não sabia o que. O carro estava silencioso, a minha janela aberta. Uma brisa entrava e bagunçava meus cabelos os fazendo ficar em meu rosto. Minha avó reduziu a velocidade e o carro estava a menos de 20 quilômetros por hora. Não deu tempo de perguntar, seu pequeno corpo começou a tremer, e antes que eu pudesse fazer alguma coisa uma crise de tosse a atacou. Eu não sabia o que fazer. A crise se intensificou e ela parecia não respirar. Vi que com as poucas forças que ela tinha tentou abrir a porta. Sai do carro numa velocidade impressionante e abrir a porta do motorista. Enquanto eu arrastava minha avó pra fora do carro, outra convulsão a atingiu muito mais forte que a primeira. Ela se esquivou de mim e caiu de joelhos no chão, enquanto cuspia sangue.
Meu celular milagrosamente apareceu na palma da minha mão. Então tive uma ideia. Já discava o numero da emergência e fiz menção em ir até ela, mas ela levantou palma da mão, em um aviso para ficar onde eu estava. Ignorei é claro e cheguei mais perto, então ela gritou.
- Para! Para, Elisa! - ela gritou e eu parei, tinha sangue escorrendo pelo queixo dela e a velha estrada de terra estava suja com sangue.
Meus olhos estavam ardendo e mordi as bochechas pra não chorar. Os acessos de tosse pararam, e ela entrou no carro como se nada tivesse acontecido. Meu telefone estava na mão e uma mulher do outro lado da linha perguntava qual era a emergência. Desliguei o telefone enquanto abria a porta do carro.
***
Acordo e encaro o teto de gesso esperando a preguiça passar. Meus pensamentos voam para o dia anterior, lembrando-me da montanha russa de sentimentos. Passei mais de uma hora naquela cama pensando em como seria se eu tivesse falado com ele. Em como seria que... que minha avó. Como pude esquecer a lembrança dela naquele estado? Meu Deus. Levantei da cama correndo e disparei corredor afora, mas não fui muito longe. Minha visão escureceu e me senti tonta. Minhas pernas fraquejaram. Então...
Então eu acordei e encontrei um par de olhos preocupados abanando uma almofada. Que fazia uma leve brisa em meu rosto.
- Ah, Elisa! Você está bem?
- Eu... é. Alex!? - gritei me sentindo bem de repente. Sentei no sofá e olhei em volta estava na sala - Minha avó, onde... - meus pensamentos estavam desordenados e a imagem dela cuspindo sangue me atingiu com tudo, senti meus olhos encherem d'agua - Eu, o que você está fazendo aqui?
- Eu... - ele limpou a garganta - Eu sempre venho aqui de vez em quando. - ele estava sem graça. E descobri o motivo, eu o encarava fixamente. Ele tinha mudado bastante, os cabelos estavam um pouco maiores e mais escuros, quase deixando de ser loiro e sim um castanho clarinho. Os olhos eram o mesmo. Lindos olhos azuis com um brilho que faria qualquer um suspirar e invejar aqueles olhos. O formato do rosto mudara também, estava mais... mais másculo? Suas sobrancelhas estavam franzidas formando um pequeno "V" estre elas. Então compreendi que ele me fez uma pergunta. Ah, que vergonha! Eu bem secando o menino e ele esperando uma resposta que nem fazia ideia de qual pergunta. Abaixei a cabeça e sentir meu rosto esquentar.
- O que aconteceu? - perguntei querendo desesperadamente sair daquela situação embaraçosa.
- Como eu disse antes, eu cheguei e a casa estava vazia. Chamei e ninguém respondeu. Então subi as escadas e encontrei você no chão do corredor, desmaiada. Você sabe o que aconteceu?
- Bom, eu não sei. Eu.. - minha voz estava rouca e minha garganta seca. Alex foi na cozinha e voltou com um copo de água. Bebi um pouco. - Quando eu acordei, eu lembrei que ontem... - como é que eu falo que eu acordei pensando nele? É fácil, só não falar - ontem, minha avó ficou mal pra caramba, tossiu até sair sangue. Eu queria, eu tentei ligar pra emergência, mas ela não quis e me fez prometer que quando a gente chegasse em casa não contaria pra ninguém sobre aquilo. E eu fui uma idiota por que eu não contei nada... pera. Você disse que não tinha ninguém aqui?
Um toque de celular chamou nossa atenção, o celular dele. Ele atendeu e levantou do sofá com uma expressão não muito boa no rosto. Fez algumas perguntas e passou o telefone pra mim. Hesitei ao pegar o telefone e o Alex saiu pela porta da frente, com a porta ainda aberta o vi sentar nos degraus da escada. Coloquei o celular na orelha.
- Elisa? - era a minha mãe. Senti meu coração acelerar a maneira dela de falar... tem alguma coisa muito errada.
- Mãe.. - minha voz foi pouco mais de um sussurro.
- Elisa, eu preciso que fique calma. - péssima maneira de me pedir alguma coisa, agora tenho a confirmação que algo está terrivelmente errado. Estou quase tendo um ataque cardíaco. Minha avó. Ai Meu Deus!
- Mãe pelamordeDeus! Me diz que a vovó tá bem!
- Lis... eu preciso que você seja forte agora.
-Não! Não me venha com essa de ser forte. Quero que diga que a vovó está bem, e invente alguma história maluca de que todos vocês saíram pra me fazer uma surpresa. Por favor... por favor, só.. só me diga isso. - disse entre os soluços.
- Elisa, por favor digo eu. Não aja como uma criança, por favor. Sua avó está internada, ela teve um...
Parei de ouvir e chorei igual uma criancinha no sofá. Eu não queria chorar. Não queria agir igual uma criança. Alex sentou-se do meu lado e abraçou-me. Eu queria manda-lo ir embora. Queria ficar sozinha. E ao mesmo tempo queria que ele ficasse do meu lado, dizer que tudo ficaria bem, que ele me protegeria. Agarrei seu pescoço e enquanto ensopava sua blusa de lágrimas dizia que aquilo não era justo. Ele por sua vez falou que eu ia ficar bem.
Sei que a minha mãe tem razão. Sei que estou sendo fraca e agindo como criancinha. Agora tenho que ser forte, limpar as lágrimas e aproveitar o tempo que ainda tenho com a minha avó. Já chega de chorar! Ela ainda está viva! Já tive quase três dias de auto piedade. Agora preciso ser valente. Preciso ser corajosa para enfrentar essa doença junto com ela. Preciso ser valente para dar apoio e preciso ser forte pois quando as forças dela se esvair eu vou ser a sua força. Assim como ela foi a minha...
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Cidade das Estrelas
Romance"Ele riu, eu levantei minha cabeça que estava encostada entre o ombro e o pescoço dele, olhei em seus olhos. E me perdi e ao mesmo tempo me encontrei naquela imensidão azul, tudo isso com apenas um olhar. E na mesma hora soube que eu estava entrando...