Capítulo 3

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O carro balança de acordo com aquela velha estrada de terra batida, a cada solavanco que o carro dá a minha cabeça bate no vidro na janela. Não me importo.

Meu telefone tem várias mensagens da Laura, minha melhor amiga. Não as olhei e nem penso em responder. Pode parecer egoísta, mas eu quero ficar sozinha. Não quero ninguém com pena de mim.

O carro vira para direita e reconheço o caminho, estamos quase chegando.

A tela do meu telefone apaga e eu a ligo de volta, uma foto minha e da minha avó aparece na tela. Lembro daquele dia em que a gente tirou a foto. Foi no meu aniversário de quinze anos. O dia foi simplesmente perfeito, cantamos, dançamos e comemos muitos docinhos. Minha avó fez piadas, meu pai dançou comigo, a Laura beijou o meu primo. Lembro que ela estava morrendo de vergonha, mas dei um copo de vodca pra ela, que relaxou um pouco. Meu primo puxou ela pra um canto e os dois ficaram. Não fiquei para ver, sai e fui pra uma mesa vazia, que tinha alguns salgadinhos. Comi alguns deles, eram muito bons, mas já estava com a barriga quase explodindo de tanto comer. A Laura chegou e se sentou na cadeira ao meu lado. Tinha o rosto vermelho e um sorriso no rosto. Mais tarde roubamos algumas bebidas e formos para perto da piscina. Bebemos até ficarmos bêbadas, minha avó encontrou a gente e nos deu uma bronca. Depois formos dormir e acordamos com a famosa ressaca.

O carro parou, está estacionado um pouco distante da casa/mansão. A entrada está cheia de carros. Uns dez talvez. Não sabia que a família da minha mãe era tão grande assim. Meus pais ainda não desceram do carro. Querem falar alguma coisa comigo. Com certeza algo do tipo " ela está frágil querida. Não fique triste caso ela não tenha energia para fazer alguma coisa a não ser ficar na cama " ou então " Elisa, sua avó está doente não faça nada que a deixe nervosa."

– Elisa.. – minha mãe começa. Não estou com saco pra ouvir. Por isso abro a porta do carro e a bato com força. Um aviso claro para me deixarem em paz.

Entro na casa e encontro algumas pessoas sentadas no sofá, vendo TV enquanto devoraram alguma coisa. Batata frita talvez mas é difícil saber pois estava escuro e também não fiquei muito tempo na sala. Não me interessa quem essas pessoas são, ou ainda mais o que estão comendo. Quero ver a minha avó. Meus pés deixaram marcas de lama na escada. Não me importo uma sujeira na escada com certeza é a menor das minhas preocupações.

O corredor em que fica os quartos no segundo andar está diferente. Não sei dizer o que mudou se foi a cor das paredes ou um quadro novo. Mas está diferente. A porta do quarto da minha avó está trancada. Bato na porta e peço para abri-la. Nenhuma resposta. Bato mais uma vez, falo que sou eu. Nenhuma resposta. Estou quase esmurrando a porta quando, outra porta se abre e a minha avó aparece com uma manta sobre os ombros. Seus cabelos estão soltos, o que entes eram loiros quase brancos, se tornaram branquinhos, tinha olheiras sob os olhos e a cara amassada, deve ter acordado agora.

– Eu sinto tanto, tanto vovó... – disse quando a abracei. Minhas lágrimas já estavam de volta. Eu não queria chorar, não queria sentir pena.

A tempestade caia lá fora, e eu chorava aqui dentro. Minha avó me embalou como se eu fosse um bebê. Deitou do meu lado e enquanto passava as mãos no meu cabelo e falava que tudo ia ficar bem. Senti-me estranha ou talvez estava sendo egoísta. Era pra eu estar consolando ela. Dizendo que tudo ia ficar bem. Mas no entanto a que estou eu, sendo consolada por minha avó que estar morrendo.

Acordo, o quarto está cinza, a chuva parou mas ainda cai uma garoa fina. Minha avó não está aqui. Claro acorda cedo igual a filha. Levanto, arrumo a cama, e saio do quarto. A casa está gelada, por que eu não calcei os chinelos? É eu também não sei. A cozinha está vazia, e também está limpa. Com cada coisa no lugar. Na mesa tem algumas comidas, mas a maioria foi devorada. Inclusive a broa que eu amo. Sentei em uma cadeira, peguei um pedaço de pão apenas pra despedaçar porque eu não estava com a mínima vontade de come-lo. O sanduiche, os sanduiches e o sorvete ainda estão vivos no meu estomago. Ouço vozes, da minha mãe da minha avó. Elas param de conversar assim que entram na cozinha. Que pena a conversa estava tão animada. Mas continuo despedaçando o pão. Sinto mãos em meus ombros, minha mãe se ajoelhou no chão, e passou uma mão no meu rosto. Olhei pra ela.

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